Crítica | Streaming e VoD

Desperados

(Desperados, EUA, 2020)

  • Gênero: Comédia
  • Direção: LP
  • Roteiro: Ellen Rapoport
  • Elenco: Nasim Pedrad, Anna Camp, Lamorne Morris, Sarah Burns, Robbie Amell, Heather Graham, Jessica Chaffin,Izzy Diaz
  • Duração: 105 minutos
  • Nota:

Lá pelas tantas o espectador percebe que caiu em uma armadilha da Netflix chamada Desperados e é tarde demais. A saída é torcer para que toda a ausência de timing cômico finalmente vire do avesso e possamos ao menos nos divertir; isso de fato acontece, e então o filme começa a fazer valer sua característica, enquanto comédia. Os motivos não são necessariamente os desejados, o longa dirigido por LP (!!!) é tão repleto de motivos para espantar o espectador que ao acostumar com sua natureza, a graça vem diante de tantos absurdos mostrados, tantas cenas esdrúxulas, tanto uso delimitador do universo feminino.

Quem lembrar de Fernanda, a protagonista vivida por Mônica Martelli em Os Homens são de Marte… e É Pra Lá que eu Vou, terá um vislumbre da Wesley daqui. Interpretada por Nasim Pedrad, que em Aladdin encantou com suas tiradas cômicas como a aia de Jasmine, aqui a atriz não demonstra tanta desenvoltura ao encabeçar essa produção que prega aquela ideia antiquada do feminino, onde só um relacionamento e posterior casamento trazem sentido e realização à mulher. Ainda que essa mensagem seja refutada ao final com aquela moral da história batida de sempre onde “é melhor ter amigas do que se arrastar por alguém”, nada apaga as cenas onde isso tudo é corroborado. O filme simplesmente não evolui sua personagem central.

Desperados (2020)

A protagonista de Desperados, essa tal obcecada por ter alguém seja lá quem for, tem a personalidade obscurecida por suas parceiras coadjuvantes interpretadas por Anna Camp (de A Escolha Perfeita) e Sarah Burns (das séries Barry e Enlightened). Brooke e Kaylie não apenas duas personagens melhores, como mereciam ter suas histórias ampliadas. Em determinado momento suas trajetórias são apartadas e, se o filme não se eleva, o problema não é delas, mas do projeto à deriva. Porém, fica claro como, desdobradas, as duas amigas de Wes tinham muito potencial, além de atrizes competentes prontas para um desafio maior do que o filme propõe.

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No fundo, Desperados tem uma proposta que vem sendo muito utilizada em Hollywood, que é a de mover para o universo feminino as desventuras cômicas geralmente destinadas ao público masculino, mas com o humor típico intacto. Então, se Missão Madrinha de Casamento era uma espécie de resposta a Se Beber, Não Case!, o roteiro de Ellen Rapoport (cuja experiência se resume a uma série de 15 anos atrás) e a direção de LP (codinome de Lauren Palmigiano – essa sim com imensa experiência em curtas metragens e videoclipes) – se inspiram em típicos buddy movies como os de Seth Rogen ou Adam Sandler, o senso de amizade do primeiro e a grosseria do segundo, para incorporar elementos ultrapassados a uma produção que pretende angariar um público híbrido. Como conseguir esse feito, escolhendo atirar para todos os lados?

Desperados (2020)

As tiradas não são necessariamente engraçadas mas a dita vergonha alheia mediante às situações acabam por atiçar o público, arrancando risadas por presenciar cenas extremamente constrangedoras, algumas de profundo mau gosto, como o assédio sofrido pela protagonista por um… golfinho. Ou as tentativas insistentes de taxar Wesley de pedófila – lógico, tudo pelo humor… né? Esses códigos, que logicamente ainda têm público cativo, se mostram antiquados e provocam reflexão sobre o lugar do constrangimento no humor. Afinal, ainda não ficou claro que o humor só é engraçado quando faz todos rirem, e não apenas um nicho?

Com ambientação muito artificial, que vai dos cenários norte americanos até a abordagem dos mexicanos, Desperados é um filme produzido a custo muito baixo e com intenções igualmente humildes de alcance popular, buscando o público menos exigente possível com sua toada cheia de falhas e mofada. Eventualmente, esses botões que o filme aperta são efetivos em suas óbvias pegadas do gênero… faz rir, muitas vezes involuntariamente, mas deixa no ar a irresponsabilidade que esses produtos ainda incorrem em nome do riso fácil.

Um Grande Momento
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Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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