(Friends with Kids, EUA, 2011)
Direção: Jennifer Westfeldt
Elenco: Adam Scott, Jennifer Westfeldt, Jon Hamm, Kristen Wiig, Maya Rudolph, Chris O’Dowd, Megan Fox, Edward Burns, Lee Bryant, Kelly Bishop, Cotter Smith
Roteiro: Jennifer Westfeldt
Duração: 107 min.
Nota: 8
Em 2001, um filme chamado Beijando Jessica Stein surgiu discutindo, de forma orgânica, as expectativas de uma nova-iorquina em busca do amor ideal, mesmo que isso tenha que ser encontrado num relacionamento com outra mulher. Apesar de ser uma comédia romântica calcada nas diversas situações cômicas ao retratar uma mulher “virando” lésbica, Beijando Jessica Stein tinha, como especialidade, um roteiro que prezava as inconsequências da vida, com personagens humanos e imprevisíveis (uma das características que mais prezo em um roteiro de qualidade). A roteirista do filme em questão – e também estrela do longa – Jennifer Westfeldt ganhou credibilidade. E, apesar de ter lançado mais um filme como roteirista nesse meio tempo (o pouco conhecido Ira & Abby, de 2006), só agora, 10 anos depois, volta com um trabalho de destaque, dessa vez acumulando a função de diretora.
Solteiros com Filhos se compromete a jogar um foco de luz sobre as relações atuais e compará-las com as mais tradicionalistas. Os amigos Julie (Jennifer Westfeldt) e Jason (Adam Scott, o cara gente boa do seriado Parks and Recreation) se conhecem desde os tempos de faculdade. Sempre mantiveram uma relação de extrema cumplicidade, com direito a piadas internas e opiniões na vida pessoal um do outro. Ao contrário de dois casais de amigos – Leslie e Alex (Maya Rudolph e Chris O’Dowd) e Ben e Missy (Jon Hamm e Kristen Wiig), que casaram e tiveram filhos, Julie e Jason resolvem pôr em prática um plano inusitado: ter um filho, mas sem se comprometer com uma vida a dois. Ou seja, continuariam a amizade, criariam uma criança, mas fugiriam da imagem de seus amigos cansados da vida de casados.
Com esse grande painel de novas situações curiosas, Solteiros com Filhos é um filme repleto de diálogos, quase que sem intervalos, para justificar a sua própria existência. Para quem não sabe, Jennifer Westfeldt é companheira de Jon “Don Draper” Hamm desde 1998. Eles não têm filhos e, até onde sei, não são casados. Também fogem do padrão forçoso dos norte-americanos que defende a ideia de que um casal, para se realizar, precisa casar e constituir família. Já percebam aí a honestidade encontrada no filme, que, através de uma série de discussões (eu já falei que adoro filmes com confrontos de personagens?), levanta uma nova maneira de driblar o lugar-comum da maioria das comédias românticas que vemos por aí. Pelo menos em 90% de sua duração. Se Westfeldt foi clichê em algum momento, certamente foi no final que, por questões óbvias, não vou detalhar. É duro dizer, mas, infelizmente, a roteirista não arriscou até o fim.
Ainda assim, Solteiros com Filhos é um bom filme, feito por uma turma de amigos (boa parte vista no recente Missão Madrinha de Casamento), que deseja contar uma história romântica cool e desvinculada de qualquer verniz pretensioso. Todos os personagens são bem trabalhados, cada um com sua função na história. A lição que nos é dada vem em forma de reflexão sobre nossas escolhas. Não importa o quão racional podemos ser em nossas relações ou até que ponto nós julgamos estar no controle de nossos sentimentos. Uma vez apaixonados, poderemos cair nas armadilhas de nossas próprias carências.
Por ser um filme que causa esse sentimento de autoanálise (o que deveria ser típico das comédias românticas) e que, acima de tudo, nos diverte, Solteiros com Filhos é, sem sombras de dúvidas, uma das estreias mais inteligentes do último fim de semana.
Um Grande Momento
A embaraçosa situação de conceber um filho com sua melhor amiga. Um dos momentos em que a interação entre os atores fica mais evidente.
Links
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