(Total Recall, EUA/CAN, 2012)
Direção: Len Wiseman
Elenco: Colin Farrell, Jessica Biel, Kate Beckinsale, Bryan Cranston, Bokeem Woodbine, Bill Nighy, John Cho, Will Yun Lee
Roteiro: Philip K. Dick (conto), Kurt Wimmer, Mark Bomback
Duração: 118 min.
Nota: 3
Embora este O Vingador do Futuro seja uma nova adaptação de “Lembramos para Você a Preço de Atacado”, conto do escritor especialista em ficção científica Philip K. Dick (1928-1982), não há como não compará-lo com a primeira adaptação cinematográfica, que foi dirigida pelo holandês Paul Verhoeven e protagonizada por Arnold Schwarzenegger em 1990.
Os avanços tecnológicos permitiram que o cinema conseguisse retratar com mais realismo qualquer universo concebido por uma mente criativa e por isto é compreensível o interesse em fazer O Vingador do Futuro com um cenário ainda mais futurístico, mas a versão do americano Len Wiseman (diretor dos dois primeiros episódios da franquia Anjos da Noite e também de Duro de Matar 4.0) não passa de uma bobagem que não diverte e que nada tem de relevante a acrescentar, e isto é algo que aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de ler o conto de Philip K. Dick ou mesmo assistir ao filme de Paul Verhoeven devem concordar.
Antes situada na Terra e em Marte, agora a história se passa na Federação Unida da Grã-Bretanha e na Colônia (como é chamada a Nova Ásia), os dois territórios que restaram na Terra após uma guerra química mundial. O operário Douglas Quaid (Colin Farrell) é habitante da Colônia, justamente a divisão menos privilegiada, um misto visualmente interessante de Chinatown e favelas cariocas. Diariamente, ele utiliza The Fall, nome dado ao meio utilizado para se locomover para a Federação Unida da Grã-Bretanha em questão de minutos. Lá, ele faz manutenção em robôs policiais que executam os membros da resistência que desaprovam as ações de Cohaagen (Bryan Cranston, famoso pelo seriado Breaking Bad), líder mundial da Terra.
Embora sua esposa Lori (Kate Beckinsale) seja a única mulher em sua vida, Douglas constantemente pensa em Melina (Jessica Biel) ao dormir: em um sonho, ambos estão fugindo de uma tropa de robôs policiais e tudo é interrompido quando ele é capturado por um deles. Embora não saiba o que este sonho signifique, ele é suficientemente intrigante. A ponto de fazê-lo ir à Rekall, nome de uma empresa e também do processo de implantar falsas informações na mente de um cliente. Antes de embarcar em um verdadeiro ego trip, ele diz, entre outras coisas, que gostaria de viver um agente secreto. A ação inicia-se exatamente neste ponto, pois Douglas Quaid é atacado por vários policiais sem saber se todos os procedimentos da Rekall foram concluídos e passa a ser caçado como Hauser.
Além das mudanças radicais de cenários, esta versão de O Vingador do Futuro eliminou o tom um tanto descontraído do filme de Paul Verhoeven. A mulher com três seios e a velha obesa com capa amarela estão de volta, mas não são mais do que referências descartáveis, senão infantis. A pegada de Len Wiseman é mais séria e é aí que residem todos os seus problemas.
O primeiro deles se concentra no elenco. Colin Farrell é um bom ator, mas não tem o carisma de Arnold Schwarzenegger e confunde caras e bocas com reações de alguém que não sabe quem é e se está em um sonho ou na realidade. Por outro lado, se Jessica Biel e principalmente Bill Nighy são incapazes de deixar uma forte impressão, Kate Beckinsale e Bryan Cranston interpretam vilões patéticos, daqueles que sempre desperdiçam a oportunidade de eliminar o inimigo para soltar o típico discurso vilanesco.
Já a história, desta vez desenvolvida pela dupla Kurt Wimmer e Mark Bomback, parece incapaz de situar o espectador no universo habitado pelo seu protagonista. Há dificuldades em compreender os extremos existentes entre a União Federativa da Grã-Bretanha e a Colônia e quando as dúvidas sobre quem realmente é Douglas Quaid/ Hauser são sanadas o filme se transforma em uma verdadeira bagunça, algo que não é atenuado com a ação quase desenfreada orquestrada por Len Wiseman.
O mais triste nesta história toda é como um nome como Paul Verhoeven faz falta nos dias de hoje. O cineasta foi um dos primeiros nomes estrangeiros que ajudou a consolidar o blockbuster hollywoodiano como um entretenimento de primeira, com muitos efeitos e truques visuais que casavam com harmonia com uma história que permanece inesquecível, resultando em um verdadeiro filme de autor feito para todos os tipos de espectadores. Robocop e seu O Vingador do Futuro são clássicos do cinema de ficção científica exatamente por isto. Já o filme de Len Wiseman não preserva esses valores e não levará muito tempo para ser devidamente esquecido – e ainda não há existência de nenhum Rekall que mascare esta realidade.
Um Grande Momento
Douglas sendo perseguido por Lori pela primeira vez, momento que explora muito bem o decadente cenário futurístico da Colônia concebido pelo designer de produção Patrick Tatopoulos.
Links
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