(Life of Pi, EUA/CHI, 2012)
Direção: Ang Lee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Ayush Tandon, Gautam Belur, Adil Hussain, Tabu, Ayan Khan, Mohd Abbas Khaleeli, Vibish Sivakumar, Rafe Spall
Roteiro: Yann Martel (romance), David Magee
Duração: 127 min.
Nota: 8
Ang Lee é um dos diretores mais versáteis e respeitados da atualidade, a sua filmografia iniciada em 1992 com a comédia dramática A Arte de Viver é composta por títulos como Banquete de Casamento, Razão e Sensibilidade, Tempestade de Gelo, Cavalgada com o Diabo, O Tigre e o Dragão e O Segredo de Brokeback Mountain, este último, responsável pelo Oscar de melhor direção que Lee levou para a casa. Nem mesmo o deslize cometido ao dirigir a adaptação de Hulk, o personagem das histórias em quadrinhos da Marvel, foi capaz de arranhar o prestígio do diretor.
Prestígio este que só deve aumentar com o seu filme mais recente. O que Ang Lee criou em As Aventuras de Pi é difícil colocar em palavras. Uma obra feita para os olhos, um deleite visual produzido a partir da adaptação do premiado romance do escritor Yann Martel, “Life of Pi”, que por sua vez é confessamente inspirado pelo argumento do livro “Max e os Felinos” do gaúcho Moacyr Scilar.
A história é uma fábula carregada de significado religioso e espiritual sobre um garoto indiano (Suraj Sharma) criado em um zoológico que se torna náufrago quando o navio em que seguia para o Canadá, com a família e alguns animais do zoológico de seu pai, afunda devido a uma forte tempestade. Pi Patel fica à deriva por 227 dias tendo como companhia na grande maioria destes dias apenas o tigre de bengala Richard Parker.
Desde que os direitos do livro foram adquiridos em 2002, alguns nomes foram cogitados na direção, entre eles M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido), Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança) e Jean-Pierre Jeunet (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), mas coube a Ang Lee a difícil missão de colocar na tela a alegoria recheada de significados e lições.
A história é narrada por Pi já adulto (Irrfan Khan) e a experiência visual proporcionada pelo diretor taiwanês não demora a começar. Nos momentos iniciais quando o protagonista nos é apresentado e há uma explicação sobre a origem do seu nome completo, Piscine Molitor Patel, somos agraciados com uma mostra do que virá a seguir. E não duvidem, muita coisa impressionante acontece nos 127 minutos de projeção.
Richard Parker, o tigre que acompanha Pi Patel em sua jornada, é fruto de um trabalho absurdamente primoroso de computação gráfica. Utilizando-se de quatro tigres verdadeiros como base para a criação do personagem, a equipe de efeitos especiais da produção consegue um resultado que é quase impossível distinguir do real.
A outra estrela da obra é o 3D, melhor dizendo, a forma como Ang Lee e sua equipe utilizam este recurso. O balé entre cor e luz que as cenas apresentam é suficientemente belo em 2D, mas em três dimensões ganha outro significado. Os animais marinhos, o mar, o horizonte, o luar, a floresta carnívora, todos são esplendorosos e carregados de encantamento ímpar. Em alguns momentos estas aparições ganham contornos poéticos.
O pecado do filme é a sua irregularidade, o começo é arrastado, as cenas de ação demoram a acontecer e há excesso de explicações. Apesar do leque de efeitos especiais presente na obra e a excelente atuação do novato Suraj Sharma, a narrativa perde fôlego e uma fadiga ao longo das cenas deixa a sensação de que a duração do filme poderia ser abreviada.
As Aventuras de Pi é o resultado do uso inteligente da tecnologia aliado ao olhar sensível de Ang Lee. É um filme imprescindível. Não apenas pelos seus efeitos, mas também por ser uma história sobre fé, sobre a busca de algo que nos dê significados e nos faça sentir menos à deriva no mundo.
Um Grande Momento:
As visões noturnas do fundo do mar.
Oscar 2013
Melhor Direção, Melhor Fotografia (Claudio Miranda), Melhores Efeitos Visuais (Bill Westenhofer, Guillaume Rocheron, Erik De Boer, Donald Elliott), Melhor Trilha Sonora (Mychael Danna)
Links
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