(The ABCs of Death, EUA/NZL, 2013)
Direção: Vários
Elenco: Erik Aude, Arisa Nakamura, Harold Torres, Steve Berens, Matías Oviedo, Juanita Ringeling, Hiroko Yashiki, Alejandra Urdiaín, Joshua Diolosa, Pablo Guisa Koestinger, Darenzia, M@tch, Iván González, Jeremy Raymond
Roteiro: Vários
Duração: 123 min.
Nota: 4
O cinema ainda está devendo um filme impecável com segmentos conduzidos por cineastas diferentes. Muitos projetos dessa linha nascem com a meta de tornar universais temas relacionados a um fato, período, lugar ou indivíduo. O feito pode até ser atingido com algum sucesso, mas persiste o velho incômodo de que os segmentos destoam um do outro.
Se por um lado é importante a decisão de fazer com que um cineasta imponha a sua visão como artista para a breve história que conduzirá, por outro, o resultado pode não ser muito bom se esse mesmo cineasta não tiver a iniciativa de criar alguma relação com os seus colegas por trás das câmeras. Desta forma, o que vemos é somente um produto repleto de mundinhos fechados, sem um se conectar ao outro. Foi assim com os recentes Paris, Te Amo, Nova York, Eu Te Amo, Tokyo! e o mesmo se repete em O ABC da Morte.
O projeto nasceu através de uma iniciativa de alguns produtores, que convocaram 26 diretores de diversas nacionalidades para criar contos de horror. Cada um recebeu uma letra do alfabeto, aproximadamente cinco mil dólares e liberdade total para criar um segmento com uma média de cinco minutos de duração.
O primeiro segmento é chamado “A é para Apocalipse”. Dirigido pelo espanhol Nacho Vigalondo (responsável pelo cult Los cronocrímenes), a história tratará sobre o tema anunciado pela palavra que ele selecionou para representar a primeira letra do alfabeto. A mesma coisa será feita pelos diretores das letras seguintes, até o grand finale com a letra Z.
Durante O ABC da Morte, os fãs do gênero vão apresentar as mais diversas reações. Há adrenalina em “D é para Dogfight” (briga de cão), concebido em belo slow motion por Marcel Sarmiento (de Deadgirl), um constrangimento sem igual no japonês “F é para Fart” (isso mesmo, peido) e repulsa em “L é para Libido”, segmento indonésio em que o protagonista se vê em um teste de sobrevivência tendo que se masturbar diante dos acontecimentos mais doentios.
Portanto, temos assim uma reunião de amostras de técnicas, estilos e graus de insanidade diversos que não dão nenhuma liga. Além do mais, O ABC da Morte apresenta uma quantidade mais elevada de segmentos ruins do que verdadeiramente bons. Mais decepcionante ainda é boa parte daquilo que é descartável no longa-metragem ser conduzido por artistas com algum renome.
Após dar uma verdadeira aula de atmosfera de tensão em filmes como The House of the Devil e Hotel da Morte, é um espanto ver alguém como Ti West associado a um segmento tão amador quanto “M é para Miscarriage” (aborto espontâneo). Também enfurece “E é de Exterminar”, segmento sobre um sujeito picado por uma aranha minúscula dirigido pela atriz Angela Bettis, a eterna mocinha medonha de filmes de horror como May – Obsessão Assassina.
Se O ABC da Morte não causa mais impaciência diante de tantas bobagens idealizadas por diretores que encararam o projeto como uma mera brincadeira é porque há alguns que realmente compreendem o conceito do que é fazer um filme de terror de verdade. “T é para Toalete” (em que é usada a mesma técnica claymation notória em longas de animação como A Fuga das Galinhas), “Y é para Youngbuck” (jovem macho) e especialmente “X é para XXL” (do francês Xavier Gens) são aqueles que aproximam os personagens de horrores do cotidiano mais palpáveis, como os medos infantis, a pedofilia e a importância exagerada conferida à aparência.
Um Grande Momento:
X é para XXL.
Links
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