Documentário
Direção: Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel
Roteiro: Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel
Duração: 71 min.
Nota: 9
Em novembro de 2013, a cantora Beyoncé veio ao Brasil para uma maratona de quatro shows da turnê The Mrs. Carter Tour, além de ser uma das principais atrações do Rock in Rio daquele ano. Na cidade de São Paulo, o Estádio do Morumbi foi o local escolhido para a apresentação da diva, que possui um séquito quase incontável de fãs pelas terras tupiniquins. Ainda assim, surpreendeu o fato de um grupo de fãs terem a ideia de acampar na calçada do estádio dois meses antes da data do show. Isso mesmo que você leu. Dois meses na fila – com todos os perrengues, frio, calor, fome, sede, etc. – por um show de cerca de duas horas.
A notícia chamou a atenção do casal de diretores Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel, que foi até lá no intuito de fazer uma matéria curiosa para a internet. Foi então que Abigail – norte-americana com experiência em montagem documental – percebeu que aquele grupo das primeiras barracas do acampamento tinha carisma suficiente para um material mais especial. Daí nasceu o périplo de Waiting For B., trabalho cujo resultado foi exibido no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade depois de receber elogios em festivais alternativos na Polônia e Lisboa, de onde saiu com o prêmio da audiência na categoria documentário.
Waiting For B., logo de cara, confronta o preconceito de que quem acampa pra ver seus ídolos é uma cambada de desocupados, filhinhos de papai desatencioso. A realidade não poderia ser mais diferente. A organização dá sempre um jeito de cada um levar a sua vida normalmente, já que cada barraca tem um montante que pode chegar a 30 pessoas, que se revezam na função de dormir no local. Alguns estudam, trabalham e bancam a sua rotina. Curiosamente, são garotos de diversos pontos da periferia paulistana, filhos de famílias disfuncionais que custam a aceitar filhos gays. Também tem garotas (pouquíssimas, mas tem). Uma delas ganha uns trocados fazendo shows como cover de Beyoncé, enquanto outra relata o quão importante foi Queen B como força de representatividade negra para ela.
Todos eles têm uma incrível naturalidade em frente às câmeras. Discutem sobre o “embraquecimento” de Beyoncé (entre constatações do que pode ser considerado preconceito racial) e buscam explicar o que, para eles, é o fenômeno Beyoncé e o fato dela ser uma entre variadas popstars que possuem fãs majoritariamente homossexuais. Se chegam a alguma conclusão ou não, é preciso abrir a cabeça e entender que existem realidades distintas de jovens que enfrentam situações difíceis na convivência familiar e veem, numa música que prega o orgulho de ser quem é, o dispositivo necessário. Waiting For B. cumpre muito bem o papel de humanizar os garotos e garotas que estão ali não só pela vontade de ver um ídolo de perto, mas também para fortalecer amizades.
Segundo Abigail, o filme saiu com custo zero. Os equipamentos eram dela e do marido, somados com os trocados para tomar café nos intervalos das gravações. Montou o corte final em um mês e, a partir daí, iniciou a jornada de exibições Brasil e mundo afora. A boa notícia é que, segundo informações, Waiting For B. estreará em circuito comercial – por enquanto limitado – em fevereiro do ano que vem. Será uma boa oportunidade para se divertir na companhia de figuras tão impagáveis.
Um Grande Momento:
A abertura dos portões..
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