- Gênero: Drama
- Direção: Jane Campion
- Roteiro: Jane Campion
- Elenco: Holly Hunter, Harvey Keitel, Sam Neill, Anna Paquin
- Duração: 121 minutos
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O Oscar 2021 foi considerado uma premiação histórica. Isso porque, pela primeira vez ao longo dos seus 92 anos de existência, duas mulheres concorriam ao prêmio de melhor Direção. Sendo a sexta e a sétima indicadas desde 1929. Chloé Zhao venceu e se tornou a segunda diretora a levar para casa a estatueta dourada.
A primeira indicada foi Lina Wertmüller em 1977, diretoria italiana de Pasqualino Sete Belezas. A primeira a vencer foi Kathryn Bigelow em 2010, sendo a diretora de Guerra ao Terror apenas a quarta mulher a ser indicada. De todas as sete indicadas até agora, cinco indicações foram recebidas a partir de 2020. O debate sobre a falta de representatividade de diretoras mulheres na premiação mais famosa da indústria cinematográfica vem ganhando espaço (assim como o debate sobre a diversidade de raça), mas ao que tudo indicada, o caminho para a igualdade ainda é incipiente.
Esses fatos só mostram o quão importante foi o feito de Jane Campion e seu filme O Piano de 1993. A diretora neozelandesa foi a segunda mulher a conseguir figurar entre os cincos indicados na categoria melhor Direção. Apesar de não ter sido a pioneira na lista de indicadas ao Oscar, a diretora neozelandesa é até hoje, a única diretora a ganhar a Palma de Ouro. O Piano também deu um outro reconhecimento à Jane Campion: Oscar de Melhor Roteiro Original.
Tantos reconhecimentos não são à toa. O Piano é um filme extremamente belo e sensível. A obra é sobre a história de amor, passada na Nova Zelândia do século 19, entre Ada McGrath (Holly Hunter), uma mulher muda e com uma filha de nove anos, enviada do Reino Unido para um casamento arranjado e George Baines (Harvey Keitel), um trabalhador local, que por muitas vezes, faz trabalhos para o marido de Ada.
O piano que dá título à história é o objeto de expressão de Ada. Deixado pelo marido na praia por onde Ada chega à nova morada, o piano retorna à vida dela através de um acordo entre Baines e Alisdair Stewart (Sam Neill), marido de Ada. Baines adquiri o piano em troca de terras e também de aulas com Ada. São essas lições, o pano de fundo do desenrolar do romance.
Romance esse, que vai sendo construído através da contemplação de Baines à Ada e pela personalidade forte da pianista. Ada é uma protagonista que não se intimida perante as figuras masculinas da trama. Pelo contrário, mesmo sem se pronunciar oralmente, ela preenche os espaços e desperta a atenção de todos na cena. Tamanho magnetismo é resultado da atuação de Holly Hunter, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz Principal. Através de gestos e expressões corporais ela consegue transmitir os sentimentos de Ada, sejam eles o de repulsa ou o de desejo, incumbência dificultada pela mudez da personagem, que de nada atrapalhou o trabalho da atriz.
Tão magnética quanto Holly Hunter em cena, Anna Paquin também se destaca como Flora, filha de Ada. A atriz tinha apenas nove anos quando foi escolhida para o papel. A sua atuação impressiona pelo peso da carga dramática que a personagem Flora imprime à história, sendo uma figura chave para a condução da trama. O seu desempenho rendeu também um Oscar, o de Melhor Atriz Coadjuvante.
Somando-se às potentes atuações femininas, o trabalho de Harvey Keitel também merece destaque. Coube à figura do trabalhador local, entender a relação de Ada com o piano e criar, junto com ela, toda a atmosfera de sensualidade durante as aulas de piano. A trilha sonora é também um componente importante do filme. Michael Nyman é o compositor das músicas que ajudam a transmitir os sentimentos dos personagens, costurando as passagens de cenas. O Piano se tornou um filme atemporal, que resistiu aos 28 de seu lançamento. O romance continua a cativar quem o assiste por conta não apenas das sensações que desperta, mas também pela força do protagonismo feminino que fragiliza os personagens masculinos do filme.
Um grande momento
O decepamento