- Gênero: Drama, Comédia
- Direção: Theodore Melfi
- Roteiro: Matt Harris
- Elenco: Melissa McCarthy, Chris O'Dowd, Kevin Kline, Timothy Olyphant, Loretta Devine
- Duração: 104 minutos
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Theodore Melfi não é um grande diretor, ou pelo menos não demonstrou isso ainda. Seus filmes ficam geralmente num lugar confortável onde não conseguimos falar mal, mas também passam longe de serem inesquecíveis; são produtos feitos para a ocasião, onde assistimos, aplacamos algum vazio momentâneo e seguimos em frente. Não é muito diferente em ‘Um Ninho para Dois’, seu filme novo que acaba de estrear na Netflix, e que provavelmente foi produzido com intenções superiores, e talvez até as conseguisse, não fosse seu diretor Melfi, que não entrega nada além do esperado, e muitas vezes deixa a desejar e fica ainda devendo.
O roteirista Matt Harris é praticamente estreante e seu material não consegue definir se seu olhar é mais amplo sobre os elementos ou mais fechado, centrando seus acontecimentos; na dúvida, de tudo um pouco. Apesar de protagonizado por um casal e aparentar cuidado específico com seu desenrolar, o filme abre espaço para que outros desdobramentos ambicionem espaço. O problema é que nada está muito bem ajustado, com a espinha dorsal sempre refém de acontecimentos alheios a sua centralidade, e coadjuvantes que não acrescentam nada ao todo, só esvaziam a narrativa.
Como indica o título original do filme (‘o estorninho’), além da profusão de participações que só pesam a história principal, ainda temos um terceiro protagonista em cena, simplesmente um pássaro de CGI. Independente da qualidade dos efeitos – que até são bem aceitáveis, na maior parte do tempo – essa presença na narrativa serve para produzir metáforas carregadas de clichê, proporcionando a protagonista algumas inserções sarcásticas contra esse texto em particular, outro elemento que está em cena apenas para engordar o projeto e tentar dar leveza a uma situação onde evidentemente não há.
O casal protagonista Melissa McCarthy (de ‘Poderia me Perdoar?) e Chris O’Dowd (de ‘Juliet Nua e Crua’), dois artistas com forte ligação na comédia, e que aqui poderiam liberar a presença do passarinho, já que conseguem lidar com a gangorra entre a comicidade e a dramaticidade facilmente. Ainda assim, mesmo que performances dramáticas não sejam sua constante, ambos já tinham experiências bem sucedidas – McCarthy inclusive já foi duas vezes indicada ao Oscar – e aqui equilibram elementos díspares, com O’Dowd sendo ainda mais cobrado em cena pela introspecção de seu personagem, que custa a revelar seu interior.
Tratando de algo tão inóspito e que muitas vezes é escanteado por se tratar de algo muito espinhoso como o luto, ‘Um Ninho para Dois’ também acerta, toda vez que seus protagonistas tentam refletir sobre o que os aflige, e sobre a culpabilização posterior a um evento tão traumático. Seu desenho particular desse tema, se o observamos com objetividade, é não apenas raro nos cinemas como também é discutido com maturidade e entendimento do processo. Ainda que eventualmente não se ache as respostas, o filme abre espaço para o entendimento de seus indivíduos centrais, primeiro com negação e afastamento, e posteriormente em diálogos repletos de credibilidade onde cada verbalização é igualmente naturalista e dura.
A princípio uma bomba-relógio para oferecer no streaming durante uma pandemia, ‘Um Ninho entre Nós’ poupa o espectador de um excesso depressivo ao deslocar esses atores para a escalação do elenco, na tentativa de quebrar uma dureza ao criar esse pássaro em cena, ao encontrar uma espécie de Dr. Dolittle vivido por Kevin Kline e encher o filme de bichos, mas a curva de sua história é tão melancólica que é impossível ficar imune à emoção durante toda a duração, sem esquecer dos momentos de humor que também cumprem seu papel de não tornar o filme em algo carregado.
Um grande momento:
A conversa antes da suspensão das visitas