- Gênero: Comédia, Romance
- Direção: Alessio Maria Federici
- Roteiro: Martino Coli
- Elenco: Ilenia Pastorelli, Matilde Gioli, Matteo Martari, Giuseppe Maggio
- Duração: 90 minutos
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O conceito de alma gêmea advém daquele mito grego dos deuses que partiram os seres humanos em dois com inveja de sua perfeição, e então esse ser partido seguiria pela eternidade procurando sua outra metade. Pois bem, a estreia de hoje na Netflix, Mesa para Quatro, tenta brincar justamente com essa possibilidade: afinal, cada pessoa só tem mesmo uma chance de ser “feliz para sempre” ao lado de alguém que se ame? Produção italiana cheia de charme, o filme é uma boa pedida para abrir os trabalhos do streaming em 2022, mas não é sem problemas que o filme chega ao fim. Na verdade, precisamos de uma dose de aceitação para não nos aborrecermos.
O diretor Alessio Maria Federici tem volume de experiência e já trabalhou outras vezes no gênero, então sua expertise para seduzir o espectador com histórias de amor bem urdidas está em dia – e aqui, no caso, o plural se faz muito presente, tendo em vista a situação sui generis do filme. É um talento que deve ser celebrado, conseguir fazer com que o espectador torça por uma combinação completamente diferente entre personagens que ora tem suas proximidades, ora são antagônicos. Com um elenco que também contribui para que a química aconteça, Federici entrega um produto com todas as características possíveis para agradar ao público-alvo da plataforma.
A espinha dorsal da narrativa é muito curiosa, e coloca um casal apresentando a outro um quarteto de amigos, tudo isso através de relatos de como aconteceu o primeiro encontro entre eles e como suas histórias se cruzam. Giulia, Matteo, Chiara e Dario são as peças de um tabuleiro concebido por Luca e Sara, que pretendem desafiar as teorias a respeito do conceito de alma gêmea ao mover para parceiros diferentes jogos aparentemente distintos. Assim sendo, personalidades contrastantes podem se encontrar em paixões desenfreadas, ou casais feitos uns para os outros podem descobrir que a afinidade é o maior afrodisíaco.
A ideia do roteiro de Martino Coli, no entanto, é mostrar como próximos ou opostos são capazes de realizar bem e mal ao seu semelhante, mesmo que o sentimento os una. Para isso, são embaralhados os casais, no roteiro e na montagem, e o filme segue mostrando essas duas realidades, onde cada casal foi formado por pares diferentes. Ainda que a opção homossexual tenha sido descartada (havia uma terceira opção de casal, ou só o crítico percebeu isso?), Mesa para Quatro desconcerta o espectador ao motivar o olhar a se perder a cada novo bloco de cenas, onde somos expostos a dois estados de gravidez, dois casamentos, dois flertes inusitados, mas essas realidades se esbarram a todo momento, procurando a estranheza.
O problema central para esse arranjo narrativo é justamente o embaralhamento, porque nem sempre fica claro rapidamente o arranjo ou a situação sugerida. Obviamente que tudo isso foi intencional e o filme se diverte tentando enevoar cada vez mais as novas configurações românticas em tela. Soa confuso em algumas passagens qual é a proposta do momento, em que passagem estamos, onde cada casal consegue ser feliz sem decepcionar o outro. Tendo em vista, no entanto, que todo o discurso do filme se baseia exatamente na ideia de que todas as histórias de amor são especiais, não importa sua formação. Se essa ideia atrapalha a fruição e quebra o clima sedutor do projeto, é o preço que se escolheu pagar.
Com isso, se Mesa para Quatro pretendia ser mais do que um passatempo de fim de tarde genérico, as intenções ficaram pelo caminho. Até existia sim uma forma de tornar a mistura mais saborosa, com um olhar até um pouco reflexivo sobre o que é o amor, de fato, se não seriam mais do que convenções sociais, mas as tiradas inorgânicas atrapalham a coesão na edição. Com seu elenco delicado e algumas cenas verdadeiramente deliciosas, o título não vai além do que poderia, mas não deixa de entreter por 1 h e 40.
Um grande momento
“Se você quiser casar, eu caso”