- Gênero: Terror
- Direção: Taneli Mustonen
- Roteiro: Aleksi Hyvärinen, Taneli Mustonen
- Elenco: Teresa Palmer, Steven Cree, Tristan Ruggeri, Barbara Marten, Andres Dvinjaninov, Nick Connor, Raul Talmar, Tiiu Uibo, Raivo Trass
- Duração: 109 minutos
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Confesso que Gêmeo Maligno foi recebido com boa vontade pelo crítico que vos fala, a despeito do que já tinha ouvido falar e eventualmente ler. Não dá pra negar que exista uma persistência na tentativa de manter-se esteticamente promissor, vendendo uma ideia conceitual da criação de planos e imagens. Existe um arsenal de sonhos que acontecem com alguma frequência para a protagonista, e eles são sempre tratados como uma epopeia épica pela direção. Essa diretriz também é assumida pela realidade do filme, que tem uma textura até interessante, que nos parece colocar o filme em lugar menos devastador do que foi vendido. Essa impressão vai se desfazendo com alguma rapidez, até percebermos o lugar depauperado onde fomos parar, na confiança de encontrar um bom filme de terror.
Porém não há boa vontade que resista à cartela de erros que parecem milimetricamente elaborados para uma sessão absurda, dizendo o mínimo. Uma coisa que aprendemos com Hitchcock, e as novas gerações aprenderam com O Sexto Sentido em particular (e com M. Night Shyamalan no geral): não engane o espectador. Um roteiro não deve servir como base para forjar realidades inexistentes, com cheiro, gosto e textura real. O espectador não deve se sentir impotente diante dos desmandos de uma narrativa, para que cada resolução estapafúrdia seja justificada por um sem número de deus ex machina fajutos. Ao lembrar do longa protagonizado por Bruce Willis e da resolução final do mesmo, que sempre esteve na frente do nosso nariz, Gêmeo Maligno incomoda ainda mais.
O filme dirigido e escrito por Taneli Mustonen faz exatamente o oposto do que se considera honesto. Ele cria uma realidade, ou partes de uma realidade, que será desconstruída deliberadamente, sem aviso prévio ou responsabilidade cinematográfica. É como se uma mentira fosse contada para o público, e não uma omissão da verdade, que é o que acontece quando há competência narrativa. A trama e o universo aqui descritos podem até não ser originais (o luto pela morte de um ente querido, e o posterior assombramento pelo horror criado a partir daí), mas minimamente funciona quando empregado com as especificidades corretas. O que não funciona é um roteiro criar uma trilha de truques de mágico para escamotear suas próprias imperfeições e incongruências. No fim da jornada, ao acontecer aquele “momento revelação”, os flashbacks revelam mais mau-caratismo e viagem de ácido que a tal da verdade.
Não existe bom planejamento pictórico, muito menos intenções arrojadas de conceito estético, que superem o que é visto no quadro geral. Digo isso porque visivelmente há uma tentativa de encenação em Gêmeo Maligno que promove uma ideia superficial de beleza, em figurinos elaborados, em captura de planos rigorosos – principalmente nos sonhos da protagonista. O pensamento passa a ser o que terá levado o autor, que está sentado nas duas cadeiras de criação (o roteiro é coescrito por Aleksi Hyvärinen), concebendo esse argumento e desenvolver essa premissa, com o pensamento de que cabia uma tentativa de rebuscamento. No fim das contas, soa deslocado que tenha sido desenvolvido de forma tão pretensiosa um material que precisaria de uma reconstrução de toda a ideia desde a base.
Além de todos os erros narrativos, Gêmeo Maligno enfileira uma série de pretensas homenagens ao cinema de horror e fantástico que nunca soam menos do que patéticas. Isso porque eles não se identificam dessa forma, e sim como um roteiro de ideias originais, é perceptível pela falta de comprometimento desse argumento com a coerência. No caminho, são violentados títulos como o já citado filme de Shyamalan, Sobrenatural, O Anjo Malvado e o mais óbvio, O Bebê de Rosemary, tudo misturado de maneira surreal. No fundo, é como se estivéssemos assistindo a mais um episódio da série Todo Mundo em Pânico, a franquia de paródias do gênero, mas aqui abstraído de qualquer humor voluntário. Em seu lugar, só resta o deslocamento de suas intenções.
Teresa Palmer (de Meu Namorado é um Zumbi) e Barbara Marten (de Os Órfãos) tentam segurar o título ao menos na parte do elenco, mas não se sabe quem tenta sabotar mais o projeto, se Steven Cree (de Legítimo Rei) ou o pequeno Tristan Ruggeri, ambos sabotando suas parceiras de cena. O responsável pelos personagens-título então… por mais inexperiente que seja, Ruggeri é um criança sem qualquer carisma, que não consegue angariar nenhuma empatia do espectador. Isso já seria fatal em um projeto de grandes resultados, aqui então, onde as qualidades são tão ínfimas que desaparecem no jogo de muitos erros promovido por Mustonen e companhia.
Um grande momento
O sonho de vestido preto