Crítica | Streaming e VoD

Seul em Alta Velocidade

Nem tão velozes, tampouco furiosos

( 서울대작전, COR, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ação, Comédia
  • Direção: Moon Hyun-sung
  • Roteiro: Sua Shin
  • Elenco: Yoo Ah-In, Park Ju-Hyun, Ong Seong-Wu, Lee Kyu-Hyung, Go, Kyung, Pyo, Jung Woong-In, Moon So-Ri, Kim Sung-Kyun.
  • Duração: 140 minutos

Uma brincadeira descompromissada, assim deve ser encarado Seul em Alta Velocidade, estreia sul-coreana da Netflix que não tem qualquer intenção mais aprofundada. Tudo se baseia na vontade da produção de divertir o espectador e igualmente fazer o mesmo entre seus integrantes, onde fica claro que o objetivo foi alcançado. Chega a recordar Centauro, outra produção do streaming onde um sujeito do bom é convencido a transportar ilegalmente de um país a outro conteúdos para um grupo de criminosos. Nesses momentos, os filmes se encontram e as narrativas fazem um paralelo interessante. A diferença é que o longa espanhol é seriíssimo, enquanto essa novidade sul-coreana flerta com a comédia o tempo inteiro, com características muito fortes da identidade do país. 

O filme assume uma tendência do sul-coreano em se parodiar, e abraçar um lado mais agudo de sua personalidade. O que vemos então é um filme descolado do tempo e do espaço atuais, perdido em 1988, ano das Olimpíadas realizadas em Seul. O filme poderia acumular uma série de denúncias eloquentes, porque percebemos que os estragos sociais foram tão evidentes lá quanto na nossa própria experiência, no Rio de Janeiro. O filme tem consciência disso, aponta mas sai dessa seara por escolha. Existe o olhar para esse lado, mas também existe a ideia de se desligar de um olhar preocupado, apenas para deixar as situações fluírem livremente, sem peso e sem um compêndio problematizável. 

Seul em Alta Velocidade
Song Kyungsub/Netflix

O diretor Hyun-Sung Moon tem experiência prévia, mas não o suficiente para dar relevo ao seu filme, e que o conceda personalidade. No lugar de assertividade, o filme parece querer abraçar mais instâncias do que conseguiria, inflando sua duração (são quase 2 h e meia) com uma narrativa que corre em círculos. É uma chuva de vilões, em maior ou menor grau, muitas pessoas interessadas em prejudicar o grupo de anti-heróis, se conectando ou não, que nunca chegam a se justificar enquanto personagens. Em determinado momento, um deles morre, e há uma micro comoção no filme, que o espectador fica sem entender o motivo; então aquele personagem era alguém muito importante? É mais um dado que atesta a falta de aprofundamento do filme. 

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Não é porque uma produção satiriza um tempo, até um comportamento, que tudo ali pode ser observado com leviandade. Fica o sentimento de falta de zelo com seus habitantes, porque não são bem cuidados o externo que eles ocupam. Suas personalidades têm camadas, mas elas estão disponibilizadas para um enxerto de excessos, de situações disparatadas que não chegam a lugar nenhum, nem ocupam função na tela mais que figurativa. A própria missão do filme (ou missões, vide que o filme se acumula de funções) não tem detalhamento, e ficamos vagos na tentativa de compreensão daquele grupo de situações. Aos poucos, vamos deixando-nos levar pelo ritmo que o filme impõe – muita ação e pouca consequência, que chega atrasada e já dispersa de interesse.

Seul em Alta Velocidade
Song Kyungsub/Netflix

Seul em Alta Velocidade não consegue justificar seus pontos exóticos (a escolha pelo deslocamento temporal, os jogos olímpicos propriamente ditos) porque nada do que acontece no filme não poderia acontecer em qualquer outra época ou lugar. Não há particularidade nessas escolhas, ficando a impressão de que tais opções foram pensadas para bolar algum tipo de diferenciação que soa vazia. Os cuidados com figurinos, direção de arte e principalmente efeitos visuais para recriar uma Coréia do Sul que já não existe não justifica a escolha, e o espectador vagueia perdido por entre tais argumentos. Por mais que sejam bem delineados, nem com os mocinhos conseguimos nos importar, porque também eles não parecem pertencer à tal atmosfera criada. É pouco para exercer sedução, e muito para escorrer por entre os dedos. 

Um grande momento
A ação no hotel

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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