- Gênero: Terror
- Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett
- Roteiro: James Vanderbilt, Guy Busick
- Elenco: Melissa Barrera, Jenna Ortega, Courteney Cox, Jasmin Savoy Brown, Mason Gooding, Dermot Mulroney, Hayden Panettiere, Josh Segarra, Jack Champion, Liana Liberato, Devyn Nekoda, Tony Revolori, Samara Weaving
- Duração: 122 minutos
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Após o imenso sucesso do capítulo anterior, uma espécie de restart, Pânico VI continua esse legado rejuvenescido com um acréscimo que havia ficado de fora da tentativa anterior: relevância. Os fãs não sentiram falta de muita coisa ano passado, mas a sensação de vazio era grande demais para ser ignorada. Estávamos diante de um produto que não tentava esconder estar atrás de milhões, e com isso o propósito tinha sido deixado pelo caminho. A estreia dessa nova produção resgata esse filme meio despropositado, e concede a ele uma trilha de formação onde se ancorar, como se agora sim todos os processos começassem a fazer sentido. Há uma costura bem fina que é feita entre os dois, e começa a ser desenhada, afinal, uma nova trajetória – sem perder conexão com a História.
Esqueçam a qualidade das intenções, a forma com que os planos são desenvolvidos e os motivos por trás de cada saída. Pânico, enquanto franquia, nunca primou pela qualidade das motivações que deram sentido a cada episódio. Como trata-se de um assassino mutante, que é renovado a cada novo encontro com Ghostface, todo retorno é um recomeço (quase) do zero, onde mais uma vez teremos de assistir à cena da explicação final do vilão, no unitário ou no plural. O que seu criador, o lendário Wes Craven, queria deixar de legado com sua cinessérie final era imortalizar uma marca, criar uma fabulação em cima das regras de seu filão, e estreitar com o público uma relação de confiança com a ação, que seria uma garantia de qualidade e espécie de cartão de visitas.
Esse ponto específico é retomado em Pânico VI, após o anterior não considerar isso como relevante para a série. Em resumo, são ‘set pieces’ elaborados, ao gosto do criador, que pontuam a série e marcam o capítulo, de ponta a ponta. Desde a descoberta do cinema até a viagem de metrô, estão escalonados em sua execução um número considerável de momentos agudos, como o desdobramento da cena de abertura, que provoca o primeiro choque do filme. Esse era um ponto pacífico para Craven e que está de volta a franquia, que não conta com um serial killer desses imortais, como Jason Voorhees, Freddy Krueger ou Michael Myers. O centro nervoso de Pânico foi na elaboração de seus tipos e na comoção causada por seu posterior descarte, em sequências de larga escala.
A dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (também de Casamento Sangrento) parecem enfim à vontade em comandar um capítulo de um espaço tão icônico quanto Pânico, e conseguem o espaço necessário para elaborar um caminho particular sem desreferenciar o que é um marco. A cena da explanação das regras do capítulo, já um clássico da série, é o momento onde eles deixam claro onde podem e querem chegar, e efetivamente muito do que é dito ali pela personagem de Jasmin Savoy Brown se realiza, e podemos vibrar com as progressões, com o derramamento de sangue menos tímido, e com as construções de espaço, que adquirem um aspecto maior como poucas vezes tínhamos visto, talvez até de maneira descontrolada aqui e ali.
Infelizmente, Pânico VI não consegue cumprir algumas das promessas que ele mesmo se propôs, no que compreende como traição ao que é prometido – ou covardia. A franquia sempre soube retribuir ao público o que era acertado, e aqui vemos muitas coisas darem uma acelerada, para no momento seguinte retroceder um pouco. Outra opção duvidosa é a opção por sair de Woodsboro para Nova York, que se mostra mais como uma isca do que uma necessidade, tendo em vista que pouco é absorvido da cidade para narrativa. Em contrapartida, o filme avança na constituição das irmãs Carpenter, que se sofisticam enquanto personagens, criam um elo cada vez mais forte com a franquia, e conseguem ter vida própria a tudo isso, com camadas bem defendidas pelas ótimas Melissa Barrera e Jenna Ortega.
Pânico VI é, acima de tudo, um filme de seu tempo, que entende exatamente hoje o que seu espectador quer tanto quanto Craven entendia em 1996; passaram-se 27 anos desde então, e o fã original está “velho” e exigente. A esse fã, as reflexões inter personagens, como o diálogo entre Gale Weathers e Samantha a respeito da solidão em um franquia, calam mais fundo. Ao jovem, todo o entrecho a respeito de fake news, de como uma imagem é tão poderosa quanto o próprio indivíduo, da precisão de exterminar sua construção imagética é mais eficaz para sua queda em si inclusive merecia uma adesão mais ampla do roteiro, porque existe uma sofisticação pronta para ser elaborada ali. É o filme ganhando camadas ainda mais amplas, que pareciam não estar expostas de cara tão prontamente quanto deveria.
Ainda que não alcance a fluidez de alguns episódios, esse capítulo mostra que exacerbar sua dedicação pode encontrar erros e acertos, mas que seus roteiristas e diretores estão em um caminho mais promissor agora que ano passado. Com o que talvez seja o elenco mais coeso desde a estrutura original, sentimos falta dos personagens que não estão mais em cena, e o filme ajuda a manter a conexão entre os que surgiram no anterior. Essa é uma lição que mestre Craven deixou também, e que James Vanderbilt e Guy Busick parecem aprender um pouco mais: o espectador precisa se ver e se identificar na tela. Pânico VI está muitos passos a frente do anterior nesse quesito, e isso também instiga a nos mantermos na franquia – que o ‘gore’ aqui se eleve, isso definitivamente não é um problema.
PS: não saia da sessão antes do fim de todos os créditos. ;)
Um grande momento
Tantos mascarados no vagão lotado