- Gênero: Comédia, Drama
- Direção: Yibran Asuad
- Roteiro: Javier Peñalosa
- Elenco: Álvaro Guerrero, Eduardo Minett, Andrea Chaparro, Alejandro Suárez, Eduardo de la Peña, Fernando Larrañaga, Ana Sofia Gatica
- Duração: 90 minutos
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Produção mexicana que estreou na última sexta-feira e atualmente é um dos sucessos da Netflix, é raro ver algo como Volte Sempre! alcançando um sucesso de público. Não apenas (ou nada a ver) com sua nacionalidade, mas com a forma que estamos diante, de um produto que parece perseguir uma ruptura narrativa através de múltiplas possibilidades testadas. Em questão, temos um arsenal de clichês que são trabalhados constantemente em separado, e aqui encontram uma válvula de escape conjunta, como uma torrente que ganha alguma imprevisibilidade. Mas repito, esse é um resultado não de uma proposta original de enredo, mas da união de muitos dispositivos independentes no mesmo cenário.
Ainda que os clichês digam que sim, o molho conseguido da união desses temperos acaba por criar uma cara meio que diferente. Parecem existir uns quatro filmes diferentes dentro de Volte Sempre!, que até conversam entre si e conseguem criar costuras possíveis dentro das adversas trajetórias mostradas aqui. Como uma boneca russa, vão se abrindo novas vozes dentro de uma mesma, que se comunicam sempre na mesma direção, mas que não cansam de surgir em novas roupagens. É um caminho tortuoso de acompanhar, mas que não cansa de instigar por não saber exatamente qual o próximo passo a dar; somente sabemos que será, mais uma vez, algo que já vimos anteriormente, talvez com maior dedicação.
Aqui, temos dois protagonistas que não convergem, um pós-adolescente e um senhor quase com a idade de ser seu avô. Mas Enrique não é um senhor qualquer, e sim um lendário radialista e entusiasta do rock, e o lugar onde eles se conhecem igualmente não é o mais esperado – um supermercado, onde ambos trabalham. As desventuras dessa improvável dupla, que brigam inclusive por moedas de gorjeta, são acompanhadas de perto por Volte Sempre!, mas nenhuma das duas é tratada com a complexidade merecida. Ao invés disso, temos maus tratos adolescentes sendo colocados em segundo plano, quando deveria ser observado com mais ênfase, sendo que é ele sim um tema pouco explorado.
A partir do olhar especificamente na direção de Enrique, o filme vai expandindo suas proporções até chegar inclusive na fantasia, já que o personagem parte de uma ideia concreta de meta para adentrar o caminho da fantasia e do delírio. Nada disso invade o roteiro como se fosse parte integrante da realidade, mas imageticamente o filme usa essas saídas para compor visual e atmosfera. É outro dado que sugere esse caminho do filme na direção de unir insolitamente suas repetições, para tentar transformá-las em uma salada diferente. Nem sempre o resultado é o mais apetitoso, mas não dá pra negar as muitas tentativas de seu realizador Yibran Asuad de sair das garras da mesmice e embarcar de cabeça nessa mistura de ingredientes conhecidos e retorcidos.
Como não consegue unir a contento todos esses muitos rumos que tenta propor em cena, Volte Sempre! consegue ser ao mesmo tempo uma surpresa interessante e uma pequena decepção, no meio do caminho para as duas coisas. Com sua narrativa tratando com tanto interesse a união desses clichês, mas sem conseguir aprofundar cada nova camada apresentada, o roteiro de Javier Peñalosa demonstra que algumas novas revisões seriam necessárias para alcançar um lugar de maior entendimento de cada personagem em cena. Não é como se pudesse abrir mão de uma coerência interna, já que o filme aponta para muitos lados (inclusive uma brincadeira com gêneros cinematográficos, como o faroeste), mas sem alcançar um elo de ligação entre tudo que apresenta, a experiência geral acaba mais por privilegiar a falta de coesão, o que é uma pena.
Um grande momento
O duelo dos empacotadores