Amor em Foco

A despeito da defesa que tenho feito aqui no site acerca da evolução da cinematografia turca que aporta na Netflix, tem um gênero que eles ainda não aprenderam a fazer: a comédia romântica para exportação. Mês que vem, por exemplo, estreia a continuação de Táticas de Amor, que a despeito do enorme sucesso, mostrou que ainda têm muito a aprender. A estreia desse novo sucesso, Amor em Foco, reafirma essa ideia, de que falta muito para eles conseguirem alguma experiência para melhorar esse quadro. O público final até pode abraçar esses produtos, em seu misto de inocência e falta de apuro, mas uma análise fria mostra que quase nada sustenta narrativas tão tatibitates e desinteressantes. 

Então, vejamos… Amor em Foco é dirigido por dois camaradas, Evren Karabiyik Günaydin e Murat Saraçoglu, que decerto viram muitas comédias teen estadunidenses, e acharam que poderiam aplicar os mesmos valores aqui. Não podemos isentar o roteiro de Selen Bagci de culpa, tendo em vista que nada do que acontece é sequer plausível. Em resumo, duas avós resolvem juntar seus netos que quase tiveram um trelelê na adolescência e os chamam para ficar junto a elas, que são vizinhas. Sahra é editora de uma revista e precisa de uma entrevista com Deniz, que é um fotógrafo recluso, para salvar seu emprego. Quando estiverem unidos, vão brigar muito até o minuto 45; depois vão se “reapaixonar” até o minuto 80; os últimos 20 minutos serão de novas brigas e reconciliações. 

Nada de novo, certo? Até aí, nenhum problema. Premissas batidas e situações preguiçosas constroem a base do cinema mundial, isso nunca foi uma questão para filme algum. O problema é a qualidade com que tal material é apresentado, tais sequências são filmadas, tal argumento é desenvolvido. E, tirando a química explosiva do casal principal, quase nada é positivo em Amor em Foco, a começar por tudo que foi descrito. O filme já abre de forma muito gratuita, a chegada dos netos à casa das avós, tudo é histérico e com uma energia caótica que nos afasta do propósito em cena, que deveria ser a união dessas duas pessoas e seus conflitos, do passado e do presente. Ao invés disso, somos levados a aceitar uma proposta juvenil demais para permear todos os acontecimentos que circulam um casal de adultos. 

Em tese, a narrativa de Amor em Foco começou há (imagina-se) 15 anos, quando os protagonistas tinham 15. Mas nada mudou muito na passagem dos tempos, porque suas interações, implicâncias e posterior aproximação fariam vergonha a uma novela das 7 ruim dos anos 80; algo como A Gata Comeu faz esse produto morrer de inveja e revirar de ódio o espectador um pouco mais azeitado. Sejam as brigas, explosões de raiva e de propósito tão infantis quanto as da turma da Mônica, seja a paixão assumida menos madura que o amor de Alfalfa por Darla em Os Batutinhas, é tudo tão cândido que se torna inexplicável. Ver dois adultos se comportando como pré-adolescentes em tudo que fazem é surreal de tão incomum, e a conexão com essa trilha sonora repetitiva e irritante só torna a tortura cada vez pior. 

Se ainda reside algum motivo para ir até o filme de Amor em Foco é a beleza irrestrita de todo elenco, e acompanhar como Ayça Ayşin Turan e Ekin Koç tem tanta presença juntos que se torna impossível não torcer para seu casal. Isso é, se o espectador ainda estiver torcendo por algo nesse filme que não que ele acabe, ou que o telefone toque, ou que seja abduzido por alienígenas. Quem ler esse texto achando que o crítico tem por ele uma raiva ininterrupta que o arremesse direto a uma lista de piores do ano, não é bem o caso. A irritação pela falta de qualidade quase irrestrita é real, mas o carinho que o casal vende também é, e mesmo com tanta infantilidade em cena, ok… estamos no filme. Ainda. 

E eu resolvi não citar os horríveis figurinos femininos que esses filmes turcos modernos enfiam nas atrizes (porque sempre tem um vestido de babado que deixará a atriz com uma aparência de dançarina de rumba?), mas não vou deixar Amor em Foco escapar sem dizer que não precisávamos do tratamento de ‘novela mexicana encontra os thrillers eróticos dos anos 90’. Quando finalmente o grande amor é consumado, tudo é muito tímido e cheio de velas acesas pelo cenário; tá bom, parei. Espero que vocês ao menos se divirtam assistindo o filme, eu não consegui. 

Um grande momento

Não tem