- Gênero: Drama, Suspense
- Direção: Vasilis Katsoupis
- Roteiro: Ben Hopkins, Vasilis Katsoupis
- Elenco: Willem Dafoe, Gene Bervoets, Eliza Stuyck, Ava von Voigt
- Duração: 96 minutos
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O negócio é o seguinte: um ladrão de arte invade um apartamento de alto luxo na busca de quadros que ele sabia estarem lá. Quando não consegue achar um deles, fica nervoso e o alarme dispara na hora da saída, deixando-o trancado e à mercê do que viesse a acontecer. Basicamente, essa é a trama de Dentro, que acaba de chegar ao Prime Video com essa ideia curiosa e arriscada, ao mesmo tempo. Vejam bem, a chance de se tornar algo sem ritmo e de nos entendiarmos com o que iremos assistir é muito alta, é preciso ter mais do que coragem para bancar isso tudo. A situação começa a parecer menos desesperadora (somente para o espectador, para o personagem é o começo de uma sessão de tortura) conforme observamos o talento de seu diretor.
Dirigido e co-roteirizado pelo grego Vasilis Katsoupis em apenas seu segundo trabalho (e o primeiro de ficção), Dentro não é exatamente uma experiência cuja radicalidade não foi testada anteriormente. Locke, com Tom Hardy, O Telefone, com Whoopi Goldberg, e o dinamarquês Culpa são apenas algumas das muitas narrativas que contou com um único personagem em cena, todos eles empregando uma sensação de claustrofobia que constitui também na gênese dos projetos. Aqui talvez esse dispositivo corra mais devagar que nos outros exemplos, porque existe uma ideia de melancolia na qual o campo vai sendo explorado com uma frequência inesperada, e cada vez mais ênfase em um lugar da solidão e do desamparo.
No centro do arco está alguém cujo talento é imenso quanto Willem Dafoe. Quatro vezes indicado ao Oscar, o astro de Projeto Flórida é uma dessas figuras hipnotizantes, que não realiza muito esforço para conseguir capturar a atenção do espectador para si. Em Dentro, a própria fórmula do filme já dificultaria isso, mas é Dafoe quem consegue fazer com que a ação esteja sempre maior que qualquer possível monotonia. Não é apenas um trabalho de corpo versátil, mas uma conexão forte que alguém com mais de 40 anos de carreira nos cinema, e sendo adorado pelo público, consegue estabelecer de maneira completa. É através de seu potencial em tornar esse martírio em algo cinematográfico que a produção consegue manter seu potencial.
Talvez nada ajude mais o trabalho de Dafoe quanto a direção de arte comandada por Thorsten Sabel. Com a necessidade de criar espaços funcionais, que tenham a aparência ao mesmo tempo de uma moradia – ainda que de luxo – e uma galeria inabitada, o que surge é um espaço que cresce a cada nova investida do personagem contra ele. A sala de estar é o espaço mais criativo, exatamente porque ele se desconstrói durante a projeção. De um ambiente muito convidativo ao olhar, onde a câmera persegue seus detalhes estéticos tentando revelar os mundos escondidos ali, sua estrutura se transforma gradativamente em uma câmara de tortura e também um campo de guerra muito particular. Com o acúmulo que vai sendo proposto, o olho começa então a procurar ainda mais detalhes dentro do que é conduzido.
Infelizmente, o que leva Dentro a mostrar suas deficiências é o vazio que acompanha a produção desde a apresentação. Não seria algo absolutamente incomum de se esperar de um projeto como esse, e de fato está presente aqui. A sensação é ainda mais aguda que a de uma simples perda de tempo; o que o filme não consegue mostrar é sua relevância estética ou narrativa mesmo. Não há muitas saídas para a produção que não acompanhar esse personagem preso em um apartamento; ok, mas ao que isso almeja, além de contar essa situação em si? Sem encontrar respostas, as imagens se sobrepõem e nossa reação é absorver tudo aquilo e seguir a vida tentando usufruir, de alguma forma, do que é mostrado.
Um grande momento
A água rega o jardim