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Invocação do Mal 4: O Último Ritual

Chegadas e partidas

(The Conjuring: Last Rites, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Michael Chaves
  • Roteiro: Ian Goldberg, Richard Naing, David Leslie Johnson-McGoldrick, James Wan
  • Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlinson, Ben Hardy, Steve Coulter, Madison Lawler, Orion Smith, Rebecca Calder, Elliot Cowan, Kíla Lord Cassidy, Beau Gadsdon
  • Duração: 130 minutos

Faz apenas 12 anos que o primeiro Invocação do Mal foi lançado, mas tantas partes e desdobramentos foram lançados (três Annabelle e dois A Freira, inclusive), que é fácil imaginar que esse desenrolar seria desdobrado por um tempo maior. Com esse Invocação do Mal 4: O Último Ritual, ao menos a coluna vertebral da franquia anuncia uma despedida que soa como real ao término da sessão. Isso não torna a experiência menos triste para o fã do casal Ed e Lorraine Warren, um casal de investigadores do sobrenatural que acabou ganhando uma legião de fãs com o sucesso dos filmes. O casal e a família formal e informal que construiu tem tratamento tão humano e cálido, que dificilmente o público se mostra indiferente aos seus casos, e ao ambiente de amor verdadeiro que o filme imprime. 

Não é segredo, a essa altura, que o filme idealizado por James Wan em 2013, hoje possui uma fórmula de si mesmo a seguir. Duas histórias paralelas; a descrição detalhada dos eventos do caso em questão que será investigado (ou tratado), que se apresentam em paralelo a um evento específico da vida familiar dos Warren, também eles assolados pelos seus próprios demônios, efetivos ou não. Está mais uma vez nesse Invocação do Mal 4: O Último Ritual essa mesma receita, que a essa altura não cabe ser questionada. Mesmo porque estamos falando de um filme cujo ritmo tem uma cadência particular, mas que não poderia ser acusado por um possível andamento atravancado; mais uma vez o material apresentado alcança seus pontos de intenção. 

Faz pouco sentido que haja cobranças relacionadas ao campo narrativo que a série apresenta, quando isso não é cobrado de inúmeras outras produções. Ao meu ver, mais produtivo é observar a manutenção elevada de seu padrão de qualidade, que não teve queda significativa mesmo trocando de diretor. O que Michael Chaves faz, essencialmente, é uma evolução própria, já que surgiu no inferior A Maldição da Chorona, e aqui consegue apontar para os passos do que constitui essa narrativa de maneira ambiciosa imageticamente. Ainda que a conclusão seja a percepção do que já foi feito antes, aqui sua aplicação corresponde a ir além do esperado, mas isso precisa ser olhado com uma cobrança adequada a tudo que o roteiro investe. 

Das qualidades desse esquema que o roteiro já move com tranquilidade, estão em primeira análise, o foco constante no que seus personagens criam de armadilhas diárias para manter sua união e seu comprometimento. Aqui em Invocação do Mal 4: O Último Ritual, a família Smurl é bem grande, religiosa, quase uma comunidade em si que serviria de exemplo por sua união. Isso é necessário, como em qualquer produção, para que o espectador se envolva no que pode ser perdido, caso alguma tragédia (ainda) maior ocorra. Essa base já está na família protagonista; o filme abre com o momento do parto de Lorraine nos anos 60, e avança 20 anos no tempo para mostrar as minúcias dessa relação simbiótica entre essas três pessoas, e sobre a possível chegada de um novo membro. 

Além disso, Invocação do Mal 4: O Último Ritual ainda adentra uma discussão de hoje, além de refletir sobre o futuro do cinema. Essa é a primeira vez na série que um episódio ganha arco metalinguístico, com um olhar a respeito da sobrevivência da experiência do cinema, que pode esvair-se na leviandade com que o público se porta hoje diante de um telão. O filme critica abertamente o comportamento do espectador médio de hoje, apontando um tempo onde as possibilidades de descaso poderão chegar no limite. O desabafo que Ed faz ao sair da palestra na faculdade (e o filme ainda brincar espertamente com Os Caça-Fantasmas) é o mesmo que cada um de nós acaba por fazer ao participar de uma sessão média na cidade, com a falta de interesse e o mau comportamento ocuparam o lugar que deveria ser do prazer.

O que amarra Invocação do Mal 4: O Último Ritual (e que já era decisivo em todos os outros episódios) é o conceito de família que parte dos Warren e chega até os casos que eles solucionam, sempre permeados nessa ideia. E os Warren tem rosto e corpo de Vera Farmiga (indicada ao Oscar por Amor sem Escalas) e Patrick Wilson (de Pecados Íntimos), em atuações que nunca deixaram de ser intensas e absorventes de todas as questões que a série apresenta. Se nos envolvemos tanto com o que é apresentado, é porque Farmiga e Wilson são comprometidos com a intimidade daquela relação, com o que comunicam a seus espectadores, e criam essa ponte necessária entre o horror do que vemos, e o que se sente estando mergulhado naquela atmosfera. É a deixa para a preocupação com o que podemos perder, a cada nova investida do horror, e isso é estampado aqui da primeira sequência à ultima, literalmente; são os Warren e seus atores os responsáveis pela angústia que sentimos aqui, e que sustenta esse último episódio com precisão.

Um grande momento

Sentindo-se mal no jantar

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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