- Gênero: Terror
- Direção: Renny Harlin
- Roteiro: Alan R. Cohen, Alan Freedland
- Duração: 96 minutos
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Há 1 ano e meio atrás, o mundo não precisava de um remake/continuação de Os Estranhos, belo filme de terror dirigido por Bryan Bertino em 2008. Como o Cinema não está nem um pouco preocupado com qualquer coisa que não signifique lucro, Os Estranhos: Capítulo 1 veio aí, se mostrando quase uma ameaça à humanidade. Como o título preconizava, uma segunda parte estava prevista para acontecer a qualquer momento. Então agora temos duas notícias para dar, uma boa e uma ruim: Os Estranhos: Capítulo 2 acaba de estrear, e o fantasma do primeiro está bem afastado daqui; e em breve, teremos um Capítulo 3 para encerrar essa trilogia que ninguém pediu. Fica por conta de cada leitor decidir, o que são a notícia boa e a notícia ruim.
Com o leite derramado, fica mais fácil analisar essa desajeitada trilogia que ainda não se encerrou, mas que talvez já possamos olhar com pesar menor, mas que segue sem mostrar sua necessidade, já que nem bolsos ficarão mais cheios após suas duas primeiras partes. A verdade é que talvez Renny Harlin tenha sido sabotado no capítulo anterior por uma quantidade exorbitante de remontagens, e isso tenha feito qualquer proposta de realização desaparecer embaixo da chuva de picotes. O diretor é um ás do passado, que dirigiu clássicos momentos do cinema blockbuster, como Duro de Matar 2, Risco Total e Despertar de um Pesadelo, além de alguns fracassos incríveis, como A Ilha da Garganta Cortada. Se ano passado ele não pôde demonstrar nem uma fagulha de suas capacidades, seus predicados aqui podem enfim ser considerados para análise, ainda que nada caminhe pelo extraordinário.
Os Estranhos: Capítulo 2 se inicia no exato ponto onde o anterior se encerrou, e mostra a jovem sobrevivente da parte 1 acordando no hospital com os traumas ainda começando a mostrar suas sequelas. Mas se seu noivo não resistiu aos ferimentos, isso não impede que o trio de psicopatas volte a persegui-la dentro do hospital. Fora do hospital. Nas casas da cidade. Na cabana inicial. Na casa de novos amigos. Enfim, trata-se basicamente de uma caçada ininterrupta por onde quer que a moça esteja, o que para muitos será chamado de filler, que é um jargão da indústria para identificar um capítulo de livro ou série como exclusivamente um elo de ligação entre duas pontas soltas. Em português menos formal, estaríamos diante de uma encheção de linguiça, para não se alongar; ao meu ver, a linguiça até foi enchida com ingredientes interessantes.
Como já dito, Harlin está apto a trabalhar, e assim sendo o melhor material possível para um filme de terror enfim é garantido. Alguém que entenda de composição de imagens, que consiga preencher o plano com algo a mais que cenas filmadas, e sim um propósito bem definido. Em um mundo onde o terror é finalmente alçado a uma oportunidade de apresentar resultados estéticos sem julgamentos, e em um 2025 onde o mesmo gênero está enchendo os cinemas, parece que a exigência também não pode cessar. Não, títulos como O Exorcista e A Profecia (vou citar só dois) não foram esquecidos, mas é só olhar a temporada – poderíamos facilmente completar todas as 10 categorias do Oscar com filmes de terror. Em um ambiente assim, obviamente precisamos entender se o copo de Os Estranhos: Capítulo 2 está mais cheio ou mais vazio.
Não há como prospectar uma análise a esse trabalho sem refletir nele o infeliz episódio anterior, uma colcha de retalhos triste de assistir. Agora, ainda que o projeto apresente resultados inaceitáveis dentro do gênero, como a explicar, justificar e apresentar seus vilões, a presença de um diretor com aval para fazer o que precisa ser feito garante a Os Estranhos: Capítulo 2 ao menos um veículo para não observar o vazio. Toda a sequência de ataques no hospital é conduzida com esmero técnico, e mesmo a angústia-irritação que seu ritmo determina, é fruto de um pensamento de cinema. O filme justifica seu gênero desde sempre, e apresenta um universo para si a partir daí, sem precisar criar um clássico; não é obrigatório para nenhum filme ser inesquecível, apenas o suficiente para que não tenhamos motivação para desistir da arte.
O trabalho de Madelaine Petsch também evoluiu como a protagonista Maya, porque scream queens não são apenas uma ponte para gritos. Finalmente o espectador consegue se importar com a personagem, e isso é um trabalho conjunto dela com seu diretor, que agora conseguem nos aproximar de sua personagem principal, e isso é o mínimo que se espera de um filme. Especialmente não me importo que um filme seja ‘resumido’ como um amontoado de cenas persecutórias, ou que se entenda como uma ferramenta de conexão entre partes, mas ainda que Os Estranhos: Capítulo 2 seja exatamente isso, toda a carpintaria da brincadeira não é descuidada, e consegue evoluir um material que incomodava por tudo o que apresentava. Estamos agora em outra categoria, definitivamente.
Um grande momento
O hospital


