- Gênero: Drama
- Direção: Benny Safdie
- Roteiro: Benny Safdie
- Elenco: Dwayne Johnson, Emily Blunt, Ryan Bader, Bas Rutten, Oleksandr Usyk, Satoshi Ishii
- Duração: 122 minutos
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Benny e Josh Safdie são dois irmãos que trouxeram, nos últimos 15 anos, o que de melhor poderia ter sido exportado pelo cinema estadunidense. Com frescor e uma vontade de comunicação transgressora, a presença deles na filmografia dos EUA, sozinha, significava um resgate de um cinema urgente que a Nova Hollywood trouxe há quase 60 anos. De repente, eles separaram seus projetos e resolveram, esse ano, entregar dois filmes, um de cada; enquanto Marty Supreme ainda nem foi assistido, Coração de Lutador: The Smashing Machine já estreou simultaneamente. A sensação de reencontrar um velho conhecido na direção de Benny aqui, só não é maior do que a estranheza que a produção impõe, e que se dissipa aos poucos na tela, restando um conforto igualmente estranho, mas longe de parecer desejado.
Da encarnação original, esse Safdie guarda uma certa tentativa de emular um caráter documental às imagens (como em Joias Brutas), à captura dos seus planos, que tem partida nesse espaço, mas não demora a assentar suas convicções em lugar menos estetizado. A partir de determinado momento, passamos a encontrar um material que não decide entre um lugar e outro, escolhendo continuamente estar nos dois tomos. É um risco que o filme corre em perder parte do interesse de uma fatia do espectador, que pode perder as referências imagéticas e narrativas ao longo da jornada. Com esse dado em mente, Coração de Lutador: The Smashing Machine trafega em campo disparatados, para coroar o trabalho de um diretor que parece correr atrás de uma visão que se assemelhe com suas origens e também encontre um público sem restrições.
Mark Kerr é um lutador de MMA aposentado que aqui é visto em três anos de sua vida, entre 1997 e 2000. Lá estiveram reunidos seu auge e sua queda, e estando na contramão de biografias tradicionais, Coração de Lutador: The Smashing Machine coloca muita ênfase no ocaso. O resultado é que o filme verdadeiramente encontra uma voz diferenciada, ao apostar no auge como ponto de partida de um atleta, e partir daí para filmar sua ladeira abaixo. Essa é uma decisão acertada para uma dramatização de alguém que está vivo ainda, mas obviamente que o filme (por questões contratuais, artísticas ou de aproximação popular) precisa alcançar a glória que também reside nessa história, e as vitórias acabam se mostrando menos atraentes dramaticamente. A opção acertada acaba se mostrando uma armadilha para o todo da obra, justamente porque o filme não abraça a derrota de maneira ampla; da narrativa ao projeto imagético, o filme sempre tenta se limpar.
Além disso, o filme não se concentra em fatos específicos, e prefere trabalhar com elipses igualmente desastradas, que não acrescentam nenhum valor narrativo ou artístico à obra, apenas validando o olhar para suas faltas. Apesar disso, em tese, representar uma qualidade, mantendo o jogo narrativo aberto, no caso de Coração de Lutador: The Smashing Machine isso serve para aumentar uma falta de contexto da produção com o seu retratado, com em uma passagem específica que sugere uma recuperação clínica, mas não a sustenta. O estado que o filme se comporta, que é para dar ênfase a um lugar pouco confortável para seu protagonista, lidando com óbvias fragilidades, provoca um afastamento do espectador pelo tratamento leviano ao todo.
A própria relação entre Kerr e sua futura esposa, Dawn, é tão carregada de uma ausência de humanidade, embora se esforce para o contrário, que em determinado momento parecemos estar diante de simples artífices de um contexto. Ao tensionar essa relação ao máximo, o filme não apenas explora a toxicidade que os une, mas principalmente mostra tais soluções como disparatadas. Porque não é como Tina, o filme que retrata a doentia relação entre Tina e Ike Turner, onde toda a construção é vilanizada desde a entrada. Na ânsia de complexificar os personagens, o roteiro cria armadilhas que os resumem como marionetes de uma discussão; Dawn não tem maiores habilidades e parece sair de cena como vilã, enquanto Kerr é o típico macho que transfere suas faltas em uma relação passivo-agressiva.
Na verdade, falta sentido ao que acompanhamos na tela porque são muitos temas em contraste sem aparentar um propósito assertivo em suas ações. O trabalho dos protagonistas Dwayne Johnson e Emily Blunt, por exemplo, não consegue ser um veículo de unidade ao filme, porque, apesar de estarem ambos muito bem, eles correspondem a um código que parece mais comum nos anos 90, onde a ideia de performance suplanta qualquer sutileza, e aí é que o projeto parece mais claro. Ainda assim, Coração de Lutador: The Smashing Machine soa em grande parte dos momentos uma obra sem saída, onde um diretor muito talentoso parece frear a própria coragem, e não vai além na ideia da encenação enquanto farsa. Seria uma saída admirável para criar um relevo para esse espetáculo onde as constantes deformidades estão na vida comum.
Um grande momento
O contraste entre a entrevista sobre a derrota, e a derrota em si


