Crítica | Streaming e VoD

A Arte da Autodefesa

(The Art of Self-Defense, EUA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Riley Stearns
  • Roteiro: Riley Stearns
  • Elenco: Jesse Eisenberg, Alessandro Nivola, Imogen Poots, Steve Terada, David Zellner, Phillip Andre, Jason Burkey, Mike Brooks, C.J. Rush
  • Duração: 104 minutos

Para os assinantes da Netflix ansiosos por mais uma temporada de Cobra Kai, A Arte da Autodefesa ajuda a aplacar a espera e ainda garante alguns risos discretos. Com uma trama meio dark mas ainda assim solar, algo influenciada pelo tom das obras de Todd Solondz, traz ao centro do tatame um simplório contador que quer aprender a se defender dos bullies.

O diretor e roteirista Riley Stearn buscou aplicar um golpe certeiro na auto estima do homem branco de classe média norte-americano. Não foi totalmente bem sucedido no intento mas garantiu um bom retorno de Jesse Eisenberg (o Mark Zuckenberg da ficção) , totalmente dócil, atrapalhado e solitário na pele de Cassey, o contador e loser que é colocado em teste.

A Arte da Autodefesa
© Bleecker Street

Na própria plataforma, o documentário The Mask You Live In traz o relato de homens e de meninos que são constantemente encorajados pela sociedade a se desconectar das suas emoções, fazer uso de violência para resolver conflitos e para dominar mulheres. Aqui nessa obra ficcional, Eisenberg dá vida a um homem frágil de 35 anos de idade e dono de um cachorro salsicha, submisso até o último fio de cabelo e cujas necessidades sociais são afetadas pelos ditames da masculinidade tóxica.

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Riley Stearn opta por ser muito didático e não colocar em perspectiva os conflitos entre performar os estereótipos do masculino e romper com um padrão nocivo, o que leva A Arte da Autodefesa a um lugar óbvio no desenvolvimento do arco de Cassey. Ele sofre no escritório, sofre no lar e sofre no dojo, não restando opção (ao menos na sua mente) que não descambe não violência que o fará ser temido e respeitado.

A Arte da Autodefesa
© Bleecker Street

“Formar palavras com os punhos”

Poder e força estão no vórtice da trama que melhora entre o segundo e terceiro ato mas não chegando a tornar a narrativa fluida e uniforme por completo. Porém, Alessandro Nivola está divertido e assustador como o sensei Leslie, o guru da masculinidade tóxica, enquanto que Imogen Potts só faz cara de braba como a aprendiz que sabe que é a melhor mas nunca será alçada ao lugar que merece apenas pelo fato de que é mulher.

Esperado, a partir do momento em que se enxergam as manchas de sangue no tatame e as motos na garagem, que Cassey tenha sido levado a trilhar aquele caminho de forma intencional, ainda assim A Arte da Autodefesa ganha alguns contornos inesperados em seu clímax e propõe uma reflexão irônica sobre a capacidade auto destrutiva dos homens.

A Arte da Autodefesa
© Bleecker Street

“Armas são para os fracos”

Influenciado por tantos filmes violentos e a cultura armamentista do país, Cassey compra uma arma, o estopim da guinada no arco negativo do personagem que se viu obrigado a ouvir Metal, aprender alemão e adotar um cão de guarda. A aparente fraqueza dele, na caraterização de Eisenberg, se transforma em instinto assassino e frieza para honrar o estereótipo esperado, assim tirando vantagem da vaidade descuidada do sensei e estabelecendo uma nova ordem no dojo do grão-mestre.

Um grande momento
Zoação em francês com o turista

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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