(The Iron Lady, GBR/FRA, 2011)
Margareth Thatcher foi a única mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra da Grã-Bretanha. Em um local onde a figura mais emblemática é uma rainha, que tem a coroa mas não manda, Thatcher passou mais tempo no comando desta ilha do que qualquer outro homem. Meryl Streep já recebeu 17 indicações ao Oscar. Nenhum ator ou atriz chegou próximo a este número. E apesar de ter ganho apenas duas vezes, é inegável o poder e a influência que ela exerce nesta indústria cinematográfica.
É a força da atuação de Meryl Streep que traz de volta ao cenário mundial a mulher que comandou os britânicos. Neste trabalho primoroso em A Dama de Ferro, Streep encarna Margareth Thatcher quase literalmente. O filme é baseado na história real da Primeira-Ministra, que governou a Grã-Bretanha entre 1979 e 1990. Narrado em flashback, o enredo mostra a outrora Dama de Ferro na velhice, lidando com a perda recente do marido e com o principio de demência senil. Parece ser esta “Thatcher” quem narra o filme. É sempre através das lembranças da personagem que o filme se desenrola, pontuado por fatos que marcaram o seu governo, porém sem aprofundamento, numa grande colcha de retalhos de situações reais que a ex-Primeira Ministra enfrentou durante o período: atentado, recessão, discriminação, greves sindicais, neoliberalismo.
O filme não se posiciona sobre as opiniões controversas que Thatcher despertou ao longo da vida. Uma parte acredita que ela foi implacável, tomando medidas duras e impopulares, como no episódio onde trabalhadores morreram de inanição devido à greve de fome por melhoria de condições de trabalho. “Remédio amargo para curar um doente”, como ela mesma citou. Há uma outra parcela que acredita que este mesmo remédio foi o que salvou a Grã-Bretanha de um dos períodos econômicos mais difíceis e manteve a estabilidade.
O único episódio político mais desenvolvido no filme é a Guerra das Malvinas, contra a Argentina. A guerra, por uma ilha aparentemente sem nenhuma importância além dos discursos nacionalistas, causou a morte de dezenas de militares, mas foi fundamental para a explosão de popularidade da Primeira Ministra, permitindo um pouco de tranqüilidade e mais alguns anos no poder.
Controvérsias à parte, o filme não é político. É a história de uma mulher pragmática, que conduziu uma das maiores nações do mundo, mas que também desenvolveu o papel de mãe e esposa.
O fato da ex-Primeira Ministra viver atualmente reclusa e as dificuldades de acesso a informações sobre o seu real estado de saúde, permitira à diretora criar uma Thatcher mais humanizada nos dias atuais. Uma senhora que conversa com o marido falecido, que relembra momentos líricos e cheios de afeto ao lado da família, servindo de contraponto para as lembranças da Thatcher em ação no governo: dura, ríspida, fria e obstinada.
O filme tem uma direção segura que, apesar da falta de aprofundamento nas questões políticas, não compromete sua história. Uma produção cujos pontos altos estão na maquiagem excepcional e na interpretação arrebatadora de Meryl Streep. Ela é a alma do filme. Com uma atuação assertiva, Meryl recria os trejeitos, olhares, sotaque, poses e toda a eloqüência de uma mulher que marcou uma nova era na política. Os seus melhores momentos são aqueles onde ela interpreta o papel de Margaret Thatcher sendo aquilo que ela sempre foi de melhor: uma Dama de Ferro. Discursos políticos persuasivos, a falta de temor diante de um parlamento lotado por homens e a concessão feita em mudar seu tom de voz e a maneira de se vestir e se comportar em público em prol de atingir o cargo majoritário da Grã-Bretanha.
Esta é uma obra para quem gosta de grandes atuações e de papéis femininos marcantes. Coincidência ou não, o filme é lançado justamente em um dos períodos de grande recessão na Europa e numa era onde o número de mulheres que governam os seus países nunca foi tão grande.
Um Grande Momento
Malvinas e Havaí.