Crítica | Streaming e VoD

Operação: Arma Secreta

Contra o fascismo, contra o cinema

(Operacja: Soulcatcher, POL, 2023)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Policial
  • Direção: Daniel Markowicz
  • Roteiro: Daniel Markowicz, Dawid Kowalewicz
  • Elenco: Piotr Witkowski, Jacek Koman, Jacek Poniedzialek, Mariusz Bonaszewski, Aleksandra Adamska, Vansh Luthra, Sebastian Stankiewicz, Michalina Olszanska
  • Duração: 95 minutos

É bom deixar claro antes que alguém não tenha percebido: um sucesso da Netflix não significa outra coisa, diretamente falando, que não apenas um sucesso da Netflix. Não vem atrelado qualidade automática a esse dado, e muitas vezes o que se justifica para definir esse êxito é o oposto de originalidade. Logo, chegamos a Operação: Arma Secreta, novo longa polonês do streaming, que vem se notabilizando por lançar muitos filmes do país. Diferente da Turquia, no entanto, a Polônia não consegue traduzir o que vêm sendo produzido em títulos relevantes, ou mesmo bons. O que temos aos borbotões são produções como essa, absolutamente genéricas e rasteiras, que não mudam a vida de ninguém, nem dos envolvidos e muito menos dos espectadores. 

Dirigido e protagonizado pela mesma dupla de Plano de Aula, respectivamente Daniel Markowicz e Piotr Witkowski, Operação: Arma Secreta é um filme que já foi feito, inclusive no seu “detalhe” de roteiro, que já não chama a atenção de ninguém, sozinho. Ah, uma arma fantasiosa que transforma o atingido pela sua energia em um assassino descontrolado com sede de sangue, não foi utilizado inclusive mais de uma vez. Ou seja, nem o artifício que deveria ser seu charme relativo é digno de uma nota que o recorde. Como no filme anterior, tudo aqui parece um pão adormecido que já não sabemos se tem salvação nem na base da torrada, porque são detalhes que já não representam nada, assim como a, digamos, mão de obra. 

Uma experiência que vai além do cansaço habitual quando percebemos que não há nem mesmo um cuidado no tratamento do que assistimos. Personagens simplesmente desaparecem para sermos informados depois de sua saída de cena, as cenas soam incompletas e cheias de curvas que não levam a lugar algum. Operação: Arma Secreta é uma ideia de cinema que, além de não conseguir se sobressair, ainda promove um desserviço dentro do que é mais básico, que seriam a coerência e o andamento da produção. Ação burocrática que não sustenta o que vemos, além das cenas de luta pouco convincentes acabam por tirar do título o mínimo que poderia ainda elevá-lo, que é sua maquinaria técnica, que de vez em quando salva um desses produtos para exportação. 

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A montagem de Operação: Arma Secreta é confusa, e não consegue envolver o público com seu ritmo, apenas aborrece e deixa cada vez mais complexa a elucidação de sua narrativa – que é muito simples. No entanto, não apenas as situações aqui parecem meio amadoras, como Markowicz tenta criar uma pretensa ambiguidade, que sabemos muito antes das revelações que irão para os exatos caminhos onde acabam por ir. Apenas em determinado momento algo parece friccionar sua narrativa, quando somos enfim apresentados à tal arma. Mas é algo que não leva o filme a lugar algum posteriormente, fica apenas aquela boa cena vazia ali no meio do filme, que não o ajuda a crescer em interesse, nem ajuda a ação física montar qualquer dose de criatividade. 

Ao longo da produção, vamos percebendo que existe uma tentativa de mensagem contra o fascismo em cena, o que é sempre positivo em atentar para isso. Essa crítica ganha corpo e cada vez mais espaço, conta com o único bom ator do elenco encabeçando sua espinha dorsal (o Jacek Koman de Moulin Rouge!), e sim, consegue criar algum sabor que escapa do horror coletivo. Mas isso tudo é amarrado tarde demais, no sentido de muito tempo depois de ter começado e no sentido de que mesmo isso, é feito de maneira atabalhoada. O que resta da experiência é uma forma mais descompromissada com a diversão, que nem ela é completamente compreendida. Talvez o melhor seja não questionar nada do que se vẽ e entrar sem cobranças nesse título cheio de problemas; se for admirada, entenda que você é uma pessoa muito benevolente. 

Um grande momento

Ameaça a pai e filha

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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