Crítica | CinemaDestaque

A Linha da Extinção

Entretenimento banal

(Elevation, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ficção científica
  • Direção: George Nolfi
  • Roteiro: John Glenn, Jacob Roman, Kenny Ryan
  • Elenco: Anthony Mackie, Morena Baccarin, Maddie Hasson, Danny Boyd Jr., Rachel Nicks
  • Duração: 85 minutos

Deve existir, em algum escritório hollywoodiano, uma expressão que equivalha ao que A Linha da Extinção representa no cinema, com cada vez mais expressão. Podemos resumir como o “blockbuster de centavos”, e a definição literal é um filme como o de George Nolfi. Apesar da aparência, da narrativa, dos efeitos especiais, e da tentativa de escopo, o filme custou parcos 18 milhões de dólares, que é o valor do salário de uma grande estrela estadunidense hoje. Estreia dessa semana nos cinemas de todo mundo, o filme poderia ser mais uma produção da Netflix a estrear no streaming, mas ao invés disso consegue a façanha cada vez mais rara de ir aos cinemas em tempos onde o filme médio desaparece, a cada dia que passa. 

Isso deveria suscitar uma comemoração, mas as obras precisam também merecer torcida para além da sua representação. Nolfi estreou no cinema com Agentes do Destino, e até hoje esse continua sendo seu melhor filme (ainda que algo bem pouco memorável tenha sido feito ali). Hoje, se parece mais um profissional de aluguel como tantos outros na indústria, e A Linha da Extinção reafirma isso. Um passatempo que já vimos antes, geralmente com mais recursos, aqui tem a dimensão de algo paranoico, que nos anos 70 seria levado para uma metáfora de maior contexto político. Aqui, os ecos da guerra fria e de como o isolamento provoca tanto sofrimento quanto o enfrentamento são substituídos pela pandemia recente e seus resultados na psicologia coletiva. 

Aqui, quase só temos três atores em cena (além deles, um coadjuvante importante, e duas outras figuras rápidas com falas), e a economia de recursos acaba por encontrar sentido no que o filme propõe, que é uma espécie de variação do sucesso Um Lugar Silencioso. Com elementos de aventura se sobrepondo ao suspense/terror, A Linha da Extinção não apresenta nada que não tenha sido apresentado em ideias anteriores cujo foco encontre semelhança. O resultado não é apenas pouco inspirado, mas sem propósito definido que já não tenha sido anteriormente tido alguma exploração básica – que o filme não tenta expandir de nenhuma forma. 

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A Linha da Extinção poderia ter sido trabalhado de muitas outras formas. Um suspense psicológico sobre uma sociedade reclusa devido ao futuro, um drama sobre a melancolia de seres que se isolaram após um desastre de proporções mundiais, mas o roteiro escrito a seis mãos não tem qualquer ambição, por menor que seja. O que temos é uma produção confortável que serve como um ligeiro passatempo sem imaginação, cujos passos da narrativa acabam por nos tornar indiferentes ao que vemos. Não há espaço para diálogos que tenham um pouco mais de inspiração ou qualidade, apenas avatares que parecem ter sido criados por alguma inteligência artificial. 

O trio de atores que interpretam os personagens centrais não podem dispor de muito material, porque não havia muito à sua disposição. Anthony Mackie, que está vindo aí na nova versão de Capitão América: Admirável Mundo Novo, é um bom intérprete refém de linhas mal conduzidas de compreensão dos eventos, pelo roteiro. A brasileira Morena Baccarin é o elo mais fraco, e também porque sua compleição está dedicada a um clichê ambulante, a personagem destrutiva que encontra um sentido na vida. Maddie Hasson (de Maligno) é quem consegue extrair algo de seu espaço, a jovem voluntariosa que vive de rompantes, permite à jovem atriz alguns momentos dignos. 

Nenhum deles, no entanto,salva A Linha da Extinção de interessar cada vez menos até não sobrar nem as tais criaturas espaciais. Quando percebemos que o filme pretende nos fazer acreditar da necessidade de um segundo capítulo, o que resta no ar é apenas a vergonha alheia dos que não percebem a hora de parar. 

Um grande momento

O primeiro encontro com as criaturas

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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