Comédia
Direção: Tyler Spindel
Elenco: David Spade, Nick Swardson, Geoff Pierson, Jackie Sandler, Molly Sims, Sarah Chalke, Chris Witaske, Rob Schneider, John Farley
Roteiro: Chris Pappas, Kevin Barnett
Duração: 89 min.
Nota: 5
Poucas coisas podem ter o efeito tão prazeroso na experiência cinematográfica quanto uma bela baixa expectativa. Quando você não está esperando absolutamente nada de uma produção (ou quando está esperando uma bomba muito grande), a única saída é se surpreender. Pois A Missy Errada não faz nada de novo, não irá mudar seus conceitos sobre a sétima arte, não sacudirá as listas de melhores comédias da História; na verdade talvez seja um filme até grosseiro por vezes, e muito bobo por outras. Mas quem disse que o cinema não é muitas vezes superestimado em seus intentos e não pode servir a diversão ligeira e descompromissada – e até meio escrota – de vez em quando?
Não há um propósito muito intrincado a se alcançar assistindo a essa nova produção da Netflix estrelada por David Spade, que já tinha dado às caras no canal de streaming há dois anos com Pai do Ano, do mesmo Tyler Spindel. David é um dos muitos grandes amigos de Adam Sandler (no filme ainda tem a presença de outros deles, Rob Schneider e Nick Swardson), que estourou também nos anos 1990 fazendo dupla com Chris Farley nos sucessos Mong & Loide e A Ovelha Negra. Com a morte muito precoce de Farley exatamente no ano seguinte ao segundo filme, se desfez uma parceria que parecia promissora, cujo sucesso Spade nunca mais conseguiu reproduzir sozinho.
Spade chegou a estrelar sozinho ou acompanhado inúmeras produções, mas a sorte só voltou a surgir em Gente Grande, projeto de sucesso que reuniu Sandler e amigos. Diferente do amigo, Spade nunca tentou fazer trânsito entre títulos dramáticos, talvez até porque uma das características do ator seja conseguir se manter sério e sóbrio nos filmes, extraindo daí o humor de seu trabalho. Ele repete essa persona nesse lançamento e do contraponto que ela exerce nas cenas histéricas da produção nasce então o humor do ator, que não costuma se apoiar em gags visuais e permanece econômico em cena, apenas aguardando o momento mais agudo possível para completar uma lacuna.
Na trama, vemos enfileirados inúmeros clichês do cinema cômico de 30 anos atrás reorganizados aqui, tais como o chefe que não sabe o nome de seu funcionário, o melhor amigo tarado e inconveniente, a presença obtusa e exagerada de uma personagem que irá provocar diversão contra todos os prognósticos. Mas a maioria dessas situações acabam por funcionar no filme, que consegue capturar o espectador com seu excesso de despretensão. Não se trata de uma fórmula matemática onde tudo funciona, mas A Missy Errada aos poucos dobra o espectador para uma sessão simplesmente nostálgica que debocha de seu próprio ridículo muitas vezes.
Com as características naturais do astro o transformando numa espécie de tela em branco onde outros possam se expressar, Spade deixa o caminho livre para o timing do jovem diretor Spindel que aproveita o máximo de suas gags, Nick Swardson aproveitando suas deixas muito bem, mas o filme provavelmente não faria sentido sem o carisma de Lauren Lapkus, uma das estrelas de Orange is the New Black, que é um furacão como a personagem-título. Com um trabalho que desenvolve corpo e rosto em prol da comédia, a atriz rouba a cena praticamente sempre, levando o espectador a reações como as do protagonista, que vai da irritação e raiva para a admiração e a graça, tomando o filme pra si sem nunca parecer egoísta com o elenco no geral e com o protagonista em particular.
Praticamente inteiro passado num resort paradisíaco à beira mar, o filme incorre nessa outra saída típica da comédia, colocando sua trama para correr em um lugar fantástico. Isso é uma chave para provocar desconforto frente aos inúmeros absurdos que acontecem nesse tipo de produção. A Missy Errada também nisso não surpreende, mas uma vez mais prova que fórmulas podem dar certo quando utilizadas com competência. Repleto de cenas muito engraçadas como a entrevista das sereias e o ataque do tubarão, temos aqui uma produção que a crítica geralmente detesta quando inquirida em conjunto, mas que, por baixo dos panos, morre de dar risada.
Um Grande Momento:
O show de calouros.