Crítica | Outras metragens

Ave Maria

Lidando com a perda

(Ave Maria, BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Pê Moreira
  • Roteiro: Pê Moreira
  • Elenco: Vênus Berliner, Aisha Jambo, Jota Vilar, Bruna G, Vitor Senra, Cyda Moreno
  • Duração: 15 minutos

Há uma mística em torno do Natal, momento de reunião da família. Em um país majoritariamente cristão, a celebração tornou-se esse momento de encontro, ansiado por uns, penoso para outros. Descoberta, redescoberta. Quando conexões e distanciamentos se tornam mais evidentes, as ausências se fazem mais doídas e as presenças também mais contundentes. Ave Maria, curta de Pê Moreira é tudo isso.

Diferentemente do padrão colonizado das produções que invadem o período das festas, o que se vê na tela é um retrato do nosso Brasil, com toda a sua miscigenação e sincretismo religioso. Ali está algo mais próximo da nossa realidade. A família de Maria e suas relações, em sua simplicidade, convive com a diversidade. Há uma figura que não mais está, mas ainda se faz presente, o pai, e a nova configuração que se estabeleceu com sua partida.

Ave Maria (2022)
Cortesia Festival de Brasília

Ao mesmo tempo, Maria, a protagonista, é alguém que retorna ao ambiente. Mulher trans, há com sua chegada, o conviver simultâneo de duas pessoas em uma só identidade, a intimidade e a descoberta, o hábito e o estranhamento, mas acima de tudo o respeito. Estão também a relação conflituosa com a mãe, a mágoa do irmão e a cumplicidade com a irmã mais nova e com a avó, coisas que estariam em qualquer que fosse a configuração.

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Ave Maria trabalha com a morte de maneiras distintas. Na literalidade daquele que fisicamente deixou de existir e de alguém que, por outro lado, existia para os outros, mas se transformou. Se há um luto no primeiro caso, há completude no outro, com o encontro daquela pequena família, a comunhão em torno da mesa e amor no singelo gesto do deitar a cabeça no ombro. Não vai deixar de haver tristeza, mas há paz, e, acima de tudo, união.

Um grande momento
“Nunca mais nem existe”

[55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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