- Gênero: Documentário
- Direção: Sam Hobkinson
- Duração: 88 minutos
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Creio que esse texto vai ser aberto de uma forma parecida com outros que já escrevi sobre o mesmo subgênero de ultra popularização recente. Mas a verdade é que a Netflix está de verdade lançando, em média, um documentário de ‘crimes verdadeiros’ por mês, e eles não costumam primar pela extrema diferenciação uns dos outros, muito pelo contrário. Títulos, na sua maioria, com desenvolvimento parecido, cinematografia idem, uma forma pouco discreta de utilizar reconstituições dramáticas, mas que acabam surtindo efeito entre os espectadores que curtem o gênero. É por isso que Amante, Stalker e Mortal está entre os mais assistidos do momento, porque todos eles despertam uma curiosidade mórbida entre quem cresceu assistindo programas do gênero na tv a cabo.
Dessa vez, o que temos de material real é um pouco mais escalafobético do que tais casos costumam ser. Então a história policial por trás de Amante, Stalker e Mortal faz sozinho o trabalho que a cinematografia não costuma fazer. O conselho de quem vos escreve então é o de não ler qualquer que seja a análise por trás do filme antes de assisti-lo; eu não tenho o hábito de trazer spoilers, nem o farei dessa vez, mas o aviso vale porque outros colegas não costumam ter nada desse cuidado. E dessa vez os plots por trás dessa narrativa de verdade nos fazem perguntar se essa não teria sido a trama de um filme do ‘Supercine’ perdido nos anos 90, estrelado por Linda Fiorentino, Rebecca DeMornay e Bill Pullman.
Os personagens reais que são mostrados aqui são de uma outra cepa de interesse ao público final, como nós. Como diz um dos policiais envolvidos lá pelas tantas, há a alegria de descobrir o desfecho do caso (e, para nós espectadores, as surpresas que nos deixam na ponta da cadeira), mas o triste é que são um grupo de pessoas envolvidas em um caso de desfecho nada agradável. Logo, é difícil se empolgar com uma narrativa extraída de um título ‘pulp’ qualquer e não pensar no tanto de sofrimento causado e vivido por tantos seres reais. Moralismo à parte, Amante, Stalker e Mortal injeta uma pimenta – ainda que pequena – em um gênero que infesta um número muito grande de títulos todos os anos sem que isso se revele muito mais de si.
Os gatilhos de absolutamente todos esses títulos estão aqui de volta. Pessoas solitárias olhando pro horizonte através da janela, profissionais de segurança em madrugadas soturnas diante de telas de computador, um protagonista ligeiramente lesado que não entende o que acontece à sua volta, embora seja parcialmente culpado pelos eventos. Por esses motivos é que a trama sobre um homem divorciado que resolve entrar em aplicativo de relacionamento e acaba por envolver quatro mulheres em uma rede de crimes virtuais e ameaças reais é tão relevante para que Amante, Stalker e Mortal saia de um lugar mais óbvio do gênero e alcance seu diferencial. Ao redor de seus envolvidos diretamente, ainda temos um trio de investigação, onde ao menos um deles merecia mais detalhamento, que completa o quadro.
Além de todo o interesse pela história real, Amante, Stalker e Mortal ainda alerta para algo muito evidente, que é o auto cuidado que deveríamos ter com nossa imagem que circula pelas redes sociais, e também pela forma liberta com que nos envolvemos hoje em dia. Não, o diretor Sam Hobkinson não filma com uma espécie de dedo apontado para os usuários de aplicativos, simplesmente porque essa não é a primeira história envolvendo esse tipo de site que sabemos dar muito errado. Logo, o cuidado deve vir independente de termos mais contato com fins desastrosos como os vistos aqui. A qualquer momento, alguém pode estar te vigiando, pessoalmente ou à distância, em maior ou menor grau de obsessão, e não precisamos deixar chegar a tragédias coletivas para ter precauções, não é mesmo?
Não esperar por uma reviravolta extraordinária nessas realizações, e não se frustrar ao não encontrá-las, não impede de perceber o quão envolvente é o que está sendo mostrado em Amante, Stalker e Mortal. Passado o efeito de alguns sustos levados, o campo vai seguir em busca do próximo projeto, que não será tão bem sucedido quanto esse, que chega a investir em gatilhos do cinema de horror. Mas que bateu uma vontade de ver isso encenado pelo saudoso Curtis Hanson, responsável por alguns títulos da época, ah deu…
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