Crítica | CinemaDestaque

Zona de Risco

A essência do filme de menino

(Land of Bad, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: William Eubank
  • Roteiro: William Eubank, David Frigerio
  • Elenco: Russell Crowe, Liam Hemsworth, Luke Hemsworth, Chika Ikogwe, Ricky Whittle, Daniel MacPherson, Robert Rabiah, Milo Ventimiglia
  • Duração: 110 minutos

Um filme de ação genérico estrelado por Russell Crowe e Liam Hemsworth, é o que nos aponta qualquer que seja a aproximação com Zona de Risco, estreia nos cinemas de hoje que não parece muito interessada em extrair do que imaginamos algo diferente. É assim que a produção abre, com um grupo de soldados americanos que precisam resgatar um deles que foi feito de refém em terras controladas por traficantes. Um novato, um grupo de veteranos zombeteiros, e uma espécie de líder campal à distância, que controla drones salvadores. Esses são os primeiros 25 minutos de ação, cujo esforço inclusive em entreter parece encontrar conexão ao esforço do vencedor do Oscar por Gladiador em sair da baixa temporada de sua filmografia, que já dura alguns anos. 

De repente, o cineasta William Eubank (do curioso Ameaça Profunda) parece acordar de um sono intermitente, e ao mesmo tempo descarrega uma carga de adrenalina em seu filme e na plateia. É uma cena que demora a desenrolar, fica na superfície e na criação de clima de tensão que nem parece que levará a algum lugar, mas para nossa surpresa a tal altura, aquilo chega a algo eficiente. Nesse momento, Zona de Risco sai da letargia e da absoluta mesmice estética para encontrar um campo de diferenciação, ainda que isolado. Já é bem mais do que poderíamos imaginar, depois de uma expectativa inexistente, e do filme nem tentar mostrar uma abertura em que fôssemos imaginar alguma substância. 

Existe então sim, perdido ali no meio daquele filme de menino dos anos 80, uma estética que até pode ser entendida como alguma invenção; que ninguém chegue aos cinemas por causa desse texto achando que vai encontrar Michael Mann ou Abel Ferrara. Zona de Risco é uma produção baratíssima de menos de 20 milhões de dólares, mas cujas pretensões são a de alcançar o maior público possível com o mínimo de esforço. Dentro desse quadro raquítico, é possível sim encontrar uma voz perdida no meio da multidão de mesmices do que um dia foram aqueles títulos lançados diretamente para DVD no Brasil. Vivemos em uma realidade onde o cinema de ação brucutu foi dizimado pelo blockbuster familiar, é dessa forma que Eubank parece uma lâmpada mágica encontrada no deserto. 

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De repente, um rastro de violência começa a ser instituído no caminho do protagonista do filme, que precisa fugir da burocracia que o “roteiro” desenhou para ele. Como trata-se do mesmo Eubank pilotando as duas frentes (no roteiro, ao lado de David Frigerio), chegamos a um acerto sobre em qual área ele deveria se manter. No auge da ação, tudo o que o filme tenta é bem concatenado. Existem planos criativos quando o ser humano está em foco, com as imagens se esforçando para provar o quão trágica é aquela situação. Esse primeiro ataque é inteligente do ponto de vista da mise-en-scene, e Zona de Risco, em sua falsa modéstia, acaba entregando um campo de visibilidade bem diverso. Nada que remeta a um John Wick, mas quem disse que isso era possível?

Como não estamos diante de uma nova versão de Platoon, os problemas de Zona de Risco o desequilibram negativamente. Para justificar os clichês imagéticos, as repetições sem fim dos mesmos planos e a ausência de Crowe no centro das atenções, o filme usa e abusa dos drones, incorporando suas funções na narrativa. Isso não muda o fato de que vemos muitas vezes o mesmo grupo de imagens adentrando as florestas, e os mesmos mísseis sendo disparados. Aos poucos, a pimenta diferente que tornou esse prato requentado mais apetitoso para de ser servida, e só resta as eternas torturas de soldados, as explosões escondidas, e os personagens inverossímeis. São espasmos diferentes que não tiram do filme o lugar comum que ele sabe que ocupa. 

Antes de se encerrar, Zona de Risco deixa claro um conceito que desenvolvia o tempo todo, mas que o roteiro, ao não enfatizar, deixou correr ao largo algo muito interessante. Estamos assistindo a uma espécie de Zona de Interesse da quinta divisão: enquanto os EUA sofrem o horror na guerra, as pessoas estão em suas casas bem pouco incomodadas com o tanto de mortes diárias ocorridas em conflitos bélicos. É no momento onde a montagem começa a rivalizar as compras de Crowe e a corrida final do mocinho na tentativa de sobreviver a um bombardeio, que tal observação fica clara – e aí fica bem clara. É mais uma tentativa válida de uma produção de poucos recursos e mediana imaginação em montar um quadro com algum diferencial.

Um grande momento

“Esse queijo existe?”

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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