Crítica | Streaming e VoD

Amor à Primeira Vista

Festas a cores

(Love at First Sight, EUA, GBR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Vanessa Caswill
  • Roteiro: Katie Lovejoy
  • Elenco: Haley Lu Richardson, Ben Hardy, Jameela Jamil, Dexter Fletcher, Sally Phillips, Rob Delaney, Katrina Nare, Tom Taylor
  • Duração: 88 minutos

A primeira coisa a ser dita a respeito de Amor à Primeira Vista, novo sucesso da Netflix é: não desistam dele logo de cara, pelo seu excesso de cores. Sim, há uma cacofonia visual cromática no filme, que, se não chega a incomodar o tempo todo, ao menos provoca um embaraço na nossa percepção. É bom ser dito que isso não passa, e a marcha do título segue nessa toada, que é mesmo berrante em sua necessidade de mostrar excessos de paleta para representar uma certa personalidade. Mas, aos poucos, o filme vai mostrando que é bem mais do que essas escolhas podem representar, em sua narrativa, e deixando essa marca estética não em segundo plano, mas sendo ressignificado e justificado por sua conjunção de fatores. 

Essa é a estreia de Vanessa Caswill em longa metragem, e a forma como seu material soa como um catálogo de cores pode ser o resultado de uma tentativa de soar autoral dentro da comédia romântica, que não é reconhecida como um campo para tais aspirações. Não deixa também de ser uma provocação ao que é comumente entregue ao espectador, que em sua maioria é tratado como um manancial de clichês que não encontram respaldo ao menos em sua direção. Dessa forma, Amor à Primeira Vista não pode ser acusado de falta de personalidade; esse é um fator que sobra à sua disposição. Cabe então à dupla central concentrar carisma em suas presenças e no que eles dizem, para conquistar o espectador que se pegue escolhendo mais um produto de maneira desavisada. 

Sendo uma co-produção Estados Unidos e Reino Unido, o segundo campo geográfico acaba por influenciar a construção verbal do filme, e com isso nossa atenção também é dividida com tudo que o casal protagonista diz, além da narradora-fada madrinha em cena. São os mesmos diálogos espirituosos que nos fizeram apaixonar pelas grandes comédias românticas britânicas das últimas décadas, de Quatro Casamentos e um Funeral a Questão de Tempo. Com eles, nos apaixonamos da mesma forma espontânea que nossos astros principais em todas essas produções, já que estamos diante do charme britânico inconfundível. São uma espécie de cartão de visitas desse filme, que nos encanta há algumas décadas com seu humor afiado. 

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As cores hiper valorizadas de Amor à Primeira Vista não apenas valorizam o material gráfico da produção, como também traduzem os sentimentos dos personagens, e os eventos que cada um dos protagonistas estão indo acompanhar, e mais uma vez homenageando diretamente o filme de Mike Newell, tratam-se de um casamento e um funeral. A paleta vermelha transborda na cerimônia festiva, em inúmeras gradações de tom em uma aquarela pouco contrastante. Já a melancolia está impressa no ocre do outro evento, que ainda assim não deixa de imprimir exuberância, em uma direção de arte especialmente envolvente. Não podemos esquecer os tons de rosa que circulam o casal a cada encontro entre eles. 

Esse casal é vivido por Haley Lu Richardson (de Columbus) e Ben Hardy (de Bohemian Rhapsody), que tem bastante química e talento insuspeito. A primeira em específico é uma das grandes atrizes de sua geração, e aqui demonstra uma leveza que pouco tem sido exigida dela. Ambos se mostram vulneráveis e muito compenetrados na função de envolver o público a um casal que, em menos de 24 horas, se conhece, se apaixona e precisa correr um atrás do outro para poder se encontrar. No fim das contas, é o que eleva – ou afunda – uma comédia romântica, o tanto de carisma que seus protagonistas amealham para sua produção. Quanto a isso, Amor à Primeira Vista não tem com o que se preocupar; Haley e Ben nos transportam exatamente para seu estado de espírito, e a magia acontece. 

Um grande momento
O velório

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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