- Gênero: Comédia, Romance, Policial
- Direção: Yûsuke Taki
- Roteiro: Yûji Sakamoto
- Elenco: Ryo Ioshizawa, Aoi Miyazaki, Yo Yoshida, Rinko Kikuchi, Kento Nagayama, Yuki Izumisawa, Aju Makita, Amane Okayama
- Duração: 120 minutos
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Ao término de Amor em Águas Turvas, a ideia mais óbvia é correr até o google para pesquisar de onde parte e quanto custa uma viagem pelo MSC Belíssima, palco da trama do filme e foco da lente em quase… hummmm… 80% dos ângulos do filme? Exageros à parte (mas se tem um filme que não pode falar em exageros, esse filme é esse), o departamento de marketing da Netflix está de parabéns, que vendeu todas as cotas de patrocínio para a mesma empresa: nunca tinha visto propaganda tão ostensiva e insistente. Mas podemos dizer que funciona muito, para os fins apresentados; poucas coisas ficarão na memória maiores que a marca, que não passa cinco minutos de tela sem tremular na nossa retina.
Agora que já tiramos esse assunto da frente, vamos ao que interessa – todo o resto. Amor em Águas Turvas é uma produção japonesa com alguns gêneros entrelaçados, onde a maior parte funciona: comédia, romance, mistério, quando não está tudo isso misturado. É uma salada que faz sentido dentro da cinematografia do país, e a certa inocência encarnada pelo protagonista é um outro representativo do que conhecemos do país em questão, que ultimamente vem prezando pela construção de uma lógica mais comedida, não só dele como de tudo que vem sendo consumido oriundo do Oriente. É uma forma de se distanciar da rapidez com que as ações e emoções afloram hoje no Ocidente, muito veloz e sem consequências maiores que atingir os pontos necessários para o próximo bloco.
O filme acessa em descrições típicas dos doramas, produções geralmente de duração excessiva vindas da Ásia, principalmente Japão, China e Coréia do Sul, e que abusam do que é a descrição do próprio Amor em Águas Turvas. Essa timidez com a qual trata as relações humanas, muito mais trabalhadas com o tempo, e adquiridas através de muita confiança, estão entre os motivos pelo qual o gênero criou tantos fãs entre os brasileiros nos últimos tempos. Que os streamings estejam investindo neles em quantidade cada vez maior, justifica a presença do filme entre as principais estreia da semana, mas a falta de divulgação da Netflix não ajudou ao público em encontrar seu título, que está de fora dos mais assistidos na atualidade.
Para os não-iniciados, trata-se também de uma maneira mais leve de abordar os ‘whodunnits’ que voltaram à moda com a explosão de Entre Facas e Segredos e a nova versão de Assassinato no Expresso Oriente. Aperfeiçoados pela escritora Agatha Christie em seus livros, as narrativas que envolvem a investigação de um crime (geralmente de morte) onde vários suspeitos estão apresentados, é um conceito que aqui soa com alguma originalidade. Graças também aos excessos típicos do visual criado para narrativas nipônicas moderninhas, Amor em Águas Turvas contribui, como podemos ver, para o sucesso de um número grande de possibilidades cinematográficas, o que provavelmente identifica seu apelo em diversos cenários e públicos.
No elenco, o destaque vai para Rinko Kikuchi, indicada ao Oscar por Babel e que não é uma presença de sempre na nossa dieta. O deboche com o qual trata sua personagem, uma mulher rica graças ao cinema popular, e o que ela discute entre cinema comercial e produções mais artísticas, digamos, é um oásis de diversão para cinéfilos de qualquer parte do mundo. Isso vindo de uma profissional que já esteve sim dentro desse esquema de festivais europeus, é de uma ironia muito elegante. A prova de que o humor do filme não tem apenas uma escola, mas que pode sim apontar para lados não tão populares assim.
Essa é a estreia do diretor Yûsuke Taki em longa metragem, justamente um especialista em doramas. O filme é uma produção que não se preocupa muito com amarrar as pendências típicas de um filme de investigação, e se isso não é um problema para outra produção qualquer, aqui é sim uma questão – afinal, o público espera e tem direito a boas respostas para os mistérios. O que seu diretor faz aqui é investir sua produção em uma ideia de realismo mágico em meio a algo mais tradicional, como na cena de determinado reencontro entre dois personagens. Isso empurra a produção pra frente, tirando um possível ranço com tanta propaganda e garantindo uma diversão decente em meio a tanta mesmice que invade os streamings todos os dias.
Um grande momento
Ubukata e Chizuru, de volta