Aracati

(Aracati, BRA, 2015)

Documentário
Direção: Aline Portugal e Julia de Simone
Roteiro: Aline Portugal e Julia de Simone
Duração: 62 min.
Nota: 7

O cinema tem umas coisas mágicas como, por exemplo, filmar o vento. Personagem em algumas novas produções brasileiras, como A Mulher Que Amou o Vento ou Ventos de Agosto, e portuguesas, como As Mil e Uma Noites: Volume 3 – O Encantado, essa figura invisível se torna o foco principal do documentário Aracati, dirigido por Aline Portugal e Julia de Simone.

O vento Aracati está tão arraigado na cultura cearense, que já é patrimônio imaterial do estado do Ceará. Ele nasce no município de mesmo nome, famoso pela praia de Canoa Quebrada, onde o rio Jaguaribe encontra-se com o mar. Canalizado pelo rio, percorre várias cidades do sertão, entre elas Limoeiro do Norte e Tabuleiro. É um vento forte, uma brisa fresca que chega ao anoitecer, para refrescar os moradores. Todos os dias.

Ao definir seu objeto de estudo, as diretoras buscam explorar tudo que está por volta do vento. Desde o começo, com as lentes voltadas à tentativa de captação energética no município de Aracati, onde funciona um enorme parque eólico, elas buscam na contradição compor o seu retrato. Em uma espécie de galpão, a câmera estática acompanha a movimentação de algo gigantesco, que parece não ter fim, em uma composição visual impressionante e merecedora de toda a atenção.

É com tomadas paradas ou quase sem movimentos que elas falam sobre a força daquele vento que atinge 10 m/s e é assim que nos apresentam o caminho por ele traçado. Assim também abordam as alterações sofridas com a transformação do curso do rio e fazem um retrato muito interessante do sertão jaguaribano. Muito mais com imagens do que com palavras.

Mas as palavras também estão ali, nas entrevistas com habitantes locais que falam sobre a sua relação com o Aracati e expõe suas teorias para a existência do vento. Momentos cotidianos ligados ao vento também são muito bem explorados.

Entre todos os entrevistados, um deles ganha atenção especial, Sr. Alvanir. Ao falar sobre o vento que conhece tão bem, ele se perde na divagação entre o que é ficção e o que é realidade. Cordéis e filmes de Hollywood fazem parte de seu discurso, que atinge o ponto máximo quando ele questiona a própria veracidade daquilo que está falando.

O encantamento com o personagem é tanto que conquista não só a plateia, mas as próprias diretoras que, enfeitiçadas pelas palavras, não conseguem se desligar daquilo, nem na hora, nem na ilha de edição.

Interessante em seu principal objetivo e em sua abordagem, Aracati acaba sendo prejudicado pela sensação de curta-metragem estendido, ainda que seja um filme bem curto. Tem tudo o que precisa, as belas imagens que partem do litoral e adentram o sertão, e bons depoimentos, tudo com um grande potencial de se complementar, mas complicado pela desconexão pontual de algumas passagens.

Um Grande Momento:
“Mas isso aqui é verdade, né?”

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