Crítica | Streaming e VoD

As Ladras

Uma pela outra

(Voleuses, FRA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia, Policial
  • Direção: Mélanie Laurent
  • Roteiro: Mélanie Laurent, Cédric Anger, Christophe Deslandes
  • Elenco: Mélanie Laurent, Adéle Exarchopoulos, Manon Bresch, Isabelle Adjani, Félix Moati, Philippe Katerine
  • Duração: 111 minutos

Um dos atuais sucessos da Netflix, As Ladras é um filme bem básico, cujo diferencial é centrar a narrativa no que realmente importa – a relação entre as protagonistas. Tantos desse filme já foram feitos, e eles geralmente tem elenco gigante, vide 8 Mulheres e um Segredo. Nesses filmes, geralmente o grupo maior serve apenas para criar um painel a respeito do tema central, mas a ideia da produção geralmente está focada em dois personagens ainda mais principais que os outros. Aqui, o filme abre mão do que é supérfluo e retira os apêndices que só servem como coro em outros títulos; esse é o mérito. Além disso, não existe muito a ser desenvolvido e que vá além dessa relação, e delas com outras duas mulheres cruciais em pontos opostos. 

A verdade é que As Ladras é um filme absolutamente feminino, e talvez por isso até mesmo feminista. As personagens estão dispostas em quatro faixas etárias distintas: 20/30/40/50. As protagonistas de verdade não são os extremos, que aqui representam a novata recém chegada e a veterana já em outra posição no jogo. Vividas por Mélanie Laurent (de Bastardos Inglórios) e Adéle Exarchopoulos (de Azul é a Cor Mais Quente), Carole e Alex são amigas desde o primeiro golpe que deram juntas, e vivem literalmente grudadas. A princípio, poderia se sugerir que fossem lésbicas, mas o filme não incorre nessa saída fácil; o mais divertido é que não haja realmente qualquer interesse romântico entre elas. Uma relação absolutamente franca e repleta de amor e companheirismo, sem as amarras bizarras que uma relação romântica impõe. 

Aos poucos, vamos não apenas adentrando nessa forte amizade e vendo que elas realmente estão juntas para o que der e vier, e o amor entre elas é ainda maior justamente por não encontrar qualquer respaldo carnal ali. Ou seja, As Ladras é um filme de sororidade absurda, onde duas mulheres farão tudo uma pela outra, incluindo acrescentar uma novata que lhes dê a noção de que o tempo está passando. Se a química entre Laurent e Exarchopoulos já não é explosiva e quente o suficiente, a entrada em cena de Manon  Bresch cria uma nova realidade, apontando para elas suas ausências. Ainda que a integração não seja completa, e sua disponibilidade pareça seguir para possíveis próximas produções (caso existam), a intenção de disponibilidade demonstra esse interesse em agregar. 

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O aspecto veterano é dado por uma das maiores de todos os tempos, Isabelle Adjani. De nove indicações ao César, Adjani venceu cinco vezes, incluindo os clássicos Camille Claudel e A Rainha Margot. Uma atriz completa que dispensa apresentações, Adjani vem fazendo mais participações efetivas em produções do que exatamente protagonismos há algum tempo. Aqui, ela interpreta A Madrinha, chefe das protagonistas que está magoada com a possibilidade de perder suas melhores profissionais; essa mágoa irá levá-la a extremos. Com talento inesgotável, a protagonista de A História de Adele H. demonstra facilidade em viver essa mulher amoral e sem escrúpulos, que ainda assim se apresenta de maneira atuante na trama, sem qualquer ideia de esgotamento. 

Apesar de Laurent também estar nas cadeiras de direção e roteiro, e sua experiência atrás das câmeras já ser bastante ampla, o emprego oferecido pela Netfix em As Ladras é puramente comercial, e seu intuito deve ser encarado da mesma forma. Ainda que aponte para saídas narrativas interessantes, mostrando que não apenas o mundo ali mostrado é feminino e sua continuação também, esteticamente o filme não oferece muito. Uma comédia de ação que não oferece muitas possibilidades na autoralidade, vemos a diversão alheia e temos vontade de adentrar aquele universo sem medo. Não incomoda nem faz desistir da sessão, mas precisamos levar para casa o talento das atrizes para que o propósito seja alcançado plenamente. Pra encerrar, uma senhora cereja – qualquer filme que se encerre com ‘I’ll Stand by You’, do Pretenders, terá meu respeito. 

Um grande momento

A casa invisível

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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