- Gênero: Comédia
- Direção: Fil Freitas
- Roteiro: Fil Freitas
- Elenco: Fil Freitas, Ricardo Freitas, Dusty Keeney, Kevin Johnson, Lauren Shotton, Sergio Barba, Bronte Appleby, Lisa-Marie Flowers Larsen, Robert Smith
- Duração: 101 minutos
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Não há dúvidas acerca da admiração de Fil Freitas por Kevin Smith. A prova disso é inconteste ao assistir Os Funcionários, filme de estreia que emula O Balconista com tanta força que poderia inaugurar uma franquia ao redor do mundo, onde veríamos atendentes de espaços de arte em sua rotina. Era o que estava no clássico do mumblecore em 1994, e é o que está aqui nessa fita muito inspirada no original, quase a ponto de ser chamada de ‘remake’. Não há problemas maiores se quem o assiste tiver a mesma admiração pelo cineasta estadunidense; não sendo o caso, o conselho seria para se afastar do projeto, que se comunica com a história de tantos que tiveram crescimento na cinefilia trabalhando em deliciosos espaços de resistência como o Prince Charles Cinema.
Todos os elementos do filme de Smith são reproduzidos aqui: dos funcionários mal humorados até os clientes sem noção, dos momentos de reflexão de seus tipos até as catarses entre os personagens, da fotografia em preto e branco até o formato das inter relações em cena, é uma colocação muito parecida. Mas há um outro filme do mesmo período, na verdade um ano depois do longa de estreia de Smith, que também tem muito em comum com Os Funcionários – chama-se Empire Records, ou com o sofrível título em português Sexo, Rock e Confusão. Se em O Balconista estávamos diante de um grupo que trabalhava em uma loja de conveniência e uma locadora, uma ao lado da outra, a Empire Records do título original é uma loja de discos em franca decadência, mas ainda fervilhante. Apesar de menos conhecido, o filme forma com esses dois outros filmes, o de 1994 e o filme de Fil Freitas, uma tríade perfeita sobre o proletariado da cultura.
Talvez o fato de ter trabalhado em vídeo locadora por mais de 20 anos tenha me feito sempre disposto a obras como Os Funcionários, onde a tal rotina de trabalho é dividida com o espectador de maneira muito genuína. Todo ambientado em um dia no ambiente de um dos mais charmosos e reais cinemas de Londres, onde o diretor e protagonista verdadeiramente trabalhou, o filme tem uma urgência e um ritmo bastante particulares, porque não se infiltra em situações além do necessário. O grupo de colegas de trabalho estão ali quase em regime obrigatório, porque todos parecem ter planos maiores e melhores que seus cargos. Desprovido de algum propósito, Fil contrasta com o restante dos personagens, por não conseguir algo para se encaixar no mundo.
Assim como há 30 anos atrás, existe uma faixa do jovem adulto que encontra-se estagnada, e incluindo nessa estagnação escolhas próprias. Os Funcionários mostra que existem grupos sociais que não conseguem encontrar alternativas para seus desejos, e alguns nem os nutrem, mas existem também as pessoas que se encontraram exatamente na falta de ambição. Não estamos mais vivendo a ressaca de um tempo onde era obrigatório que tivéssemos bens materiais próprios; os valores de hoje comportam uma liberdade a isso como alternativa libertária, e nesse sentido o filme representa uma evolução de discurso aos seus filmes-irmãos. Ainda que estejam lá a ambição e a quimera, já não é discutido o vazio de interesse, ele é apenas mais uma característica entre tantas do ser humano.
Esteticamente, Os Funcionários é uma produção de baixíssimo orçamento que não tenta parecer algo além do que são suas possibilidades. Isso enfatiza o que o filme tem de melhor a oferecer, que é a discussão entre seus tipos, e o olhar delicado que, apesar de tudo, o filme lança para eles. Sem julgar (demais!) suas atitudes e comportamentos, o filme abre um leque de possibilidades para que possamos olhar esses personagens demasiadamente humanos, para nos compadecer de suas micro existências e nos colocar em cada lugar exposto ali. Apesar de estar em ambiente confortável para quem escreve (e também para quem lê críticas de cinema; quem o faz, é absolutamente nerd, não é mesmo?), esse é um filme que procura, acima de tudo, capturar o que de mais mundano existe em pessoas do nosso nicho. É a universalização do nerd.
Um grande momento
Praticamente todos, mas o ‘casal de clientes’ é impagável


