(Snow White and the Huntsman, EUA, 2012)
Direção: Rupert Sanders
Elenco: Kristen Stewart, Charlize Theron, Chris Hemsworth, Sam Spruell, Sam Claflin, Ray Winstone, Bob Hoskins, Toby Jones, Nick Frost
Roteiro: Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini
Duração: 127 min.
Nota: 7
Era uma vez, numa época não tão distante, uma princesa que sofria com a inveja que a sua enorme beleza despertava em sua madrasta que, inconformada, decide por fim à existência da garota para assumir o posto de mais bela. Para salvar a mocinha das garras da vilã, sete anões e um príncipe se juntam à trama. Roteiro simples e que funciona desde 1937, quando a história da Branca de Neve foi levada às telas de cinema pela primeira vez.
Já em 2012, a mesma princesa, além de ser a mais bela de todas, ainda precisa montar a cavalo, lutar contra o exército de figuras sombrias, fugir pelo esgoto, encantar dois homens, arrancar um prego da parede com a mão, se digladiar com a rainha malvada… Quanta coisa! Pois é, em Branca de Neve e o Caçador, não basta ser linda, tem que literalmente lutar para se manter como tal.
Charlize Theron (Monsters – Desejo Assassino) é Ravenna, madrasta de Branca de Neve (Kristen Stewart) e quem assume o posto de rainha soberana após morte do rei. Ela mantém sua eterna juventude e beleza, sugando estes elementos das outras pessoas, principalmente mulheres. Ao ser avisada pelo símbolo maior do narcisismo, seu espelho, que o posto de mais bela está ameaçado pela sua enteada, ela decide aprisionar Branca de Neve e afastar a concorrência. Porém, a jovem não é tão ingênua quanto se supunha e consegue fugir do castelo, indo parar em uma sinistra floresta.
Eis que neste momento entra em cena a terceira figura principal desta nova versão do clássico dos irmãos Grimm: o caçador. Interpretado pelo novo queridinho de Hollywood, Chris Hemsworth (Thor), sua missão é encontrar Branca de Neve. Quando descobre as reais intenções de Ravenna, ele decide mudar de lado e passa, então, de caçador à caça, sendo perseguido pelo exército de figuras mágicas da rainha má.
Os anões e o príncipe têm papéis secundários e só aparecem na história depois de muito tempo de projeção e, talvez, as suas presenças nem fossem necessárias. É muito claro o caminho que o roteiro decide seguir. Este filme não é um romance, nem uma fábula sobre amizade. É uma aventura. E neste quesito, cumpre brilhantemente a proposta.
O roteiro usa como ponto de partida o mito da beleza eterna, buscada incansavelmente pela rainha ao longo dos anos, e mostra como esta busca destruiu todo um reinado. Para freia-la, a abençoada com a beleza infinita, Branca de Neve, lidera um grupo de pessoas.
Com desenho de produção de Dominic Watkins (Zona Verde), a história conta com uma arte primorosa, supervisionada por David Warren (A Invenção de Hugo Cabret). Os figurinos de Colleen Atwood (Nine) e a maquiagem, assinada por uma grande equipe com nomes envolvidos em títulos como Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas e Harry Potter: Relíquias da Morte, são elementos que chamam a atenção. Porém o grande destaque fica a cargo dos cenários, concebidos minuciosamente.
A fotografia de Greig Fraser (Deixe-Me Entrar) também se destaca, assim como os efeitos especiais, supervisionados pela dupla Neil Corbould e Michael Dawson (Fúria de Titãs 2). Apesar da sensação de déjà vu, que remete aos filmes da saga Senhor dos Anéis e Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, não podemos deixar de dar os devidos méritos ao trabalho bem executado e à plasticidade das cenas.
A escolha do elenco já não merece tantos elogios. Nomes como Johnny Depp (Edward Mãos de Tesoura), Tom Hardy (Guerreiro) e Viggo Mortensen (Senhores do Crime) foram considerados para o papel do caçador e infelizmente Chirs Hemsworth foi o selecionado. Apesar de ser queridinho, o seu talento é bastante questionável e ele continua repetitivo em suas atuações.
O mesmo acontece com Kristen Stewart (Saga Crepúsculo). A atriz carece de algo fundamental para o papel: carisma. É difícil torcer por uma heroína que não encanta o público, principalmente quando sua antagonista é alguém do calibre de Charlize Theron. Linda e competente, ela aparece muito menos do que Stewart na tela e em nenhum momento sai do castelo. Mesmo assim, sem tirar proveito da plasticidade das outras locações, é ela quem carrega o filme. Enquanto vemos a jovem atriz penando para diversificar as suas expressões, Theron desfila sua elegância como rainha e mostra que não é necessário pesar nas falas para convencer como vilã.
É inevitável traçar comparações entre esta releitura e outra que esteve há pouco tempo nos cinemas. Espelho, Espelho Meu seguiu a linha cômica, trouxe personagens fanfarrões e conseguiu ser menos infiel à história original. No filme do indiano Tarsem Singh, os anões e o príncipe tinham funções bem definidas. Em Branca de Neve e o Caçador, o que conhecemos parece apenas servir para emprestar personagens já existentes em uma aventura que mistura cenas épicas, batalhas, magia, derrotados e vitoriosos.
Porém, ambos compartilham de um fato curioso: as rainhas que desejam ser mais bela do que Branca de Neve, já são naturalmente mais bonitas e mais imponentes. Há uma disparidade nas atuações, mesmo com escolha de estilos tão diferentes na abordagem do tema. Nenhuma das atrizes (Kristen Stewart aqui e Lily Collins em Espelho, Espelho Meu) convence no papel da Branca de Neve.
Quem é fã da história original e acredita que Branca de Neve é aquela moça indefesa que anda com passarinhos em volta da sua cabeça, é melhor nem assistir a esta produção. Aqui o negócio é mais pesado. A tentativa é a de “modernizar” – assim como em Espelho, Espelho Meu – a heroína dos contos de fadas. De mulher passiva, que cai em sono profundo a espera do príncipe, ela toma as rédeas da situação e depende apenas de si própria para derrotar a rainha.
Nesta despersonificação, elementos tão facilmente identificáveis de uma personagem conhecida por todos acabam se perdendo. Com uma rara exceção no vestido usado, que faz alusão ao usado no desenho animado clássico que a popularizou, a Branca de Neve de Stewart aproxima-se bastante de Joana D’Arc, graças ao ambiente feudal onde o filme é retratado. A vontade de fugir do machismo que existe no conto de fadas, acaba criando um grande abismo entre a primeira versão da personagem e esta de agora.
Em detrimento da intenção de cada um dos filmes, é inegável que toda esta mudança causa estranheza no público. Não estou questionando o mérito de se tentar trazer a personagem mais próxima dos dias atuais. Mas a questão que fica no ar é: será que quanto mais moderna, mais distante do imaginário do público ela fica?
Um Grande Momento
O embate corporal entre Branca de Neve e a Rainha.
Links
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