- Gênero: Comédia, Romance
- Direção: Michael Morris
- Roteiro: Helen Fielding, Dan Mazer, Abi Morgan
- Elenco: Renée Zellweger, Hugh Grant, Chiwetel Ejiofor, Leo Woodall, Casper Knopf, Mila Jankovic, Jim Broadbent, Gemma Jones, Emma Thompson, Colin Firth
- Duração: 124 minutos
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Vamos combinar que o título do novo episódio da franquia Bridget Jones não foi exatamente feliz em manter seu subtítulo original retirado da obra de Helen Fielding. Ainda que seja uma brincadeira com a canção homônima de Dinah Washington, Bridget Jones: Louca pelo Garoto nos remete a um desenvolvimento completamente diferente do que o espectador vê, e o que é pior, nós sabemos muito bem que tal entrecho terá a disposição que tem no enredo. Logo, mesmo ainda no início da produção, já sabemos do deslocamento desse título, que é bem menos esfuziante que a alcunha designada a ele. Não se trata de uma frustração, mas de um olhar equivocado sobre um ponto que não está no centro da discussão.
O filme é dirigido por Michael Morris, indicado ao Emmy por Better Call Saul e que estreou nos cinemas com To Leslie, ou seja, o responsável pela polêmica indicação ao Oscar de Andrea Riseborough. Talvez seu nome tenha sido associado ao projeto pela quantidade de ligações que sua carreira televisiva tem com a melancolia, um ponto de debate muito premente em Bridget Jones: Louca pelo Garoto. Como já anunciado em trailer e sinopse, Bridget parte sua nova aventura viúva, após a morte do amor de sua vida, Mark Darcy. Não é só isso, o verdadeiro tema aqui é a seu estado de espírito desde então, já que outras perdas também ocorreram; o que temos é uma protagonista às raias da depressão, e sem qualquer disposição para seguir em frente.
Independente da chegada (ou não) de um novo amor, ou de uma motivação para a maternidade que ela julga nunca ter tido, ou dos entraves no mercado de trabalho para pessoas com mais de 40 anos, Bridget está ao redor do mundo que gira, ou seja, o que ela não tem está à sua volta sendo desfrutado pelos outros. Esse desligamento coletivo pelo qual ela passa pode ser identificado de maneira rápida no mundo real, em pontos específicos, mas que reflete um comportamento que conhecemos ao nosso redor. Bridget Jones: Louca pelo Garoto não está no campo da fantasia, ou da comédia romântica descompromissada e um pouco audaciosa. Aqui, a protagonista parece encarar da mesma maneira agridoce uma realidade que parece funcionar para todos, menos para si.
Os primeiros minutos do filme são especialmente tocantes por muitos motivos, incluindo o reencontro com a velha amiga Bridget, mas podemos colocar no colo de Morris ao menos metade desse envolvimento emocional. O tom apresentado por Bridget Jones: Louca pelo Garoto é sempre o mais acertado, quando vaza de um momento a outro, indo do vazio provocado pela ausência até o carinho genuíno dedicado a cada amigo, ou a inoperância emocional em lidar com os filhos ou com a chegada de novos amores. Dessa maneira, o espectador passeia com delicadeza por tudo o que é proposto em cena, incluindo o bom humor tipicamente britânico e que faz falta no circuito com mais frequência.
Rever Renee Zellweger aqui, por exemplo, é ter a certeza de ter entrado numa zona de conforto. Mesmo após dois Oscars (por Cold Mountain e Judy), a eterna Bridget não reencontrou um lugar para chamar de seu no cinema, mas aqui tudo parece voltar a fazer sentido. Com certeza eu já disse em ocasião anterior, mas Renee nasceu para o papel e continua compreendendo bem suas curvas, com a ação do tempo incidindo sobre ambas com a mesma força e questionamentos. Vez por outra, o espectador tem a impressão que, enquanto houver interesse por Bridget, haverá uma carreira para ela, e Bridget Jones: Louca pelo Garoto mostra que a personagem está afiada com alguns dos males mais mundanos do contemporâneo, quiçá do sempre.
Com a fluência acertada entre tantos personagens, sem fazer qualquer um deles ter mais ou menos importância do que deve, é um fardo grande adaptar o próprio livro, mas Fielding tem exato domínio do que precisa ser feito e cortado. Na tela, vemos uma personagem assolada por encontros de inúmeras ordens que não implicam no retardo da ação, ou no espichamento de outras situações. Isso precisa ser apontado como o evento raro que de fato é, mostrando que Bridget Jones: Louca pelo Garoto vai além da amarração de uma saga, definindo sua trajetória. Estamos diante de uma reunião que não gostaríamos que acabasse, de amigos que não gostaríamos de perder, de despedidas que não gostaríamos de presenciar. Mas… faz parte da vida, né?
Um grande momento
Bridget canta para os filhos, e não está sozinha