Ontem (28), o 44º Festival de Cinema de Gramado anunciou os vencedores da Mostra Gaúcha de Curtas. O vencedor do prêmio de melhor curta-metragem foi Lipe, Vovô e o Monstro, de Felippe Steffens e Carlos Mateus, também premiado pela direção de arte. Indo além da entrega dos troféus, o que marcou o momento foi a manifestação política dos realizadores participantes.
Com cartazes contra o governo provisório de Michel Temer e o iminente afastamento da presidente eleita Dilma Roussef, os cineastas ocuparam o palco. Um texto, que lembra inclusive as recentes polêmicas com o filme Aquarius, foi lido ao público e traduziu o sentimento de todos eles:
“Neste momento em que celebramos a pluralidade e a variedade da produção cinematográfica do Rio Grande do Sul, que pudemos ver ao longo desses três dias de exibição da Mostra Gaúcha de Curtas-Metragens, e que recebe agora a devida valorização através do Prêmio Assembleia Legislativa, enfrentamos também um momento de instabilidade e incerteza. O país passa por um período de turbulência política, provocado por forças políticas e econômicas conservadoras, com a intenção de perpetuar a concentração de poder e recursos nas mãos de poucos poderosos, enquanto a grande maioria não tem direito a necessidades básicas como alimentação, saúde, educação, cultura.
Nesse momento, é fundamental que nós, realizadores audiovisuais no Rio Grande do Sul, nos posicionemos não apenas contra esse golpe de estado que está em curso contra a presidenta democraticamente eleita, Dilma Rousseff, mas também contra um ataque mobilizado por essas mesmas forças conservadoras responsáveis pelo golpe, que tem como alvo os artistas, realizadores, técnicos e demais profissionais do cinema e da cultura do Brasil.
Esse ataque, que se dá na forma de insinuações maldosas e levianas sobre o uso de recursos públicos no financiamento à cultura, tenta apagar nossa participação e direitos como cidadãos, de forma a desqualificar qualquer posicionamento que seja elaborado por um setor que, além de contribuir para a formação do imaginário e da identidade coletiva desta nação, também constitui uma atividade de crescente relevância na vida econômica e no cotidiano do país.
Este discurso viciado tenta nos afastar de nossos vizinhos, tenta nos transformar em inimigos do país para nossas famílias, nossos amigos e a sociedade como um todo, para tirar nossa prerrogativa democrática de termos nossos posicionamentos políticos. Tentam nos constranger e nos silenciar, para que possam agir às escuras pra fazerem o Brasil voltar atrás em conquistas históricas de direitos, de soberania nacional e de políticas voltadas à inclusão e à igualdade.
O cinema é uma poderosa ferramenta de discurso, análise e reflexão sobre as sociedades. Mais que nunca, nós, realizadores de audiovisual do Rio Grande do Sul e de todo o Brasil, temos o dever de nos mantermos atentos e fortes para exercermos em alto e bom som, em claras e eloquentes imagens, nosso papel de questionarmos e combatermos o retrocesso que se anuncia. O cinema do Rio Grande do Sul e do Brasil vai resistir a esses ataques, e vai continuar a se expressar de forma livre e intensa”.
Confira a lista completa de vencedores:
Troféu Assembleia Legislativa
Melhor filme
“Lipe, Vovô e o Monstro”, de Felippe Steffens e Carlos Mateus
Prêmio da Crítica
“Sesmaria”, de Gabriela Lamas
Melhor Direção
Gabriela Lamas, por “Sesmaria”
Melhor Roteiro
Roberto Burd, por “Dia dos Namorados”
Melhor Atriz
Sandra Dani, por “Dia dos Namorados”
Melhor Ator
João Carlos Castanha, por “Inatingível”
Melhor Produtor/ Produtor Executivo
Alessandro Montelli, por “Pobre Preto Puto”
Melhor Fotografia
Bruno Polidoro, por “Horas”
Melhor Música
Caio Amon, por “Vento”
Melhor Direção de Arte
Bruno Selig, por “Lipe, Vovô e o Monstro”
Melhor Edição de Som
Lucas Sá, por “Sesmaria”
Melhor Montagem
Roberto Burd, por “Dia dos Namorados”
Troféu RBS TV
Melhor Filme (prêmio aquisição)
“Vida Como Rizoma”, de Lisi Kieling
Melhor Diretor
Gabriela Lamas, por “Sesmaria”
Melhor Roteiro
Germano de Oliveira e André Araujo por “Objetos”
Melhor Atriz
Duda Meneghetti, por “Escape”
Melhor Ator
Thiago Prade, por “Escape”