Crítica | Streaming e VoD

Code 8: Renegados – Parte II

Menos é menos

(Code 8: Part II , CAN, EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Ficção Científica
  • Direção: Jeff Chan
  • Roteiro: Jeff Chan, Chris Pare, Sherren Lee, Jesse Lavercombe
  • Elenco: Robbie Amell, Stephen Amell, Sirena Gulamgaus, Alex Mallari Jr., Aaron Abrams, Akiel Julien, Sammy Azero, Jean Yoon
  • Duração: 95 minutos

Há quatro anos atrás, exatamente no início do período pandêmico, a Netflix pegou uma produção independente e lançou como se fosse sua; não era, e ela nem fingiu que era. Code 8: Renegados, a despeito dos seus inúmeros problemas, fez sucesso na plataforma, o que atraiu o próprio streaming de bancar uma continuação, aí sim sob seus domínios. Não deu outra, e Code 8: Renegados – Parte II é o hit do momento deles, uma produção com valores superiores, mais bem amarrado, com algum charme – ainda que mínimo – e que insiste em criar uma mitologia em torno de algo que já vemos há anos e anos. Agora, ao menos não sentimos mais vergonha alheia com os padrões apresentados, mas isso também não significa muita coisa. 

O orçamento aumentou, e isso fica óbvio desde o princípio, mas também a produção dessa vez consegue disfarçar muito melhor seu orçamento, que continua bem abaixo do que produções assim exigem. O diretor e roteirista Jeff Chan segue na aposta de que tudo o que vemos é material que merece sua devoção, e ele se agarra com unhas e dentes ao campo apresentado, que não passa de um derivado de qualquer aventura dos X-Men. O que se percebe ainda mais em Code 8: Renegados – Parte II é que a ausência de orçamento limita suas ambições, mas ao mesmo tempo, assim como no primeiro, o que deveria ser uma aventura cheia de efeitos especiais, se torna um campo de ameaça entre grupos que disputam o poder entre pessoas cujos poderes são ilimitados, com alguma tensão.

Dessa vez, a diversão é um pouco mais garantida. Primeiro, porque já entendemos toda a dinâmica, a pequenez de recursos, a forma diminuta com que a narrativa se desenvolve; ou seja, o errado é cobrar mais do que algo consegue render. Segundo, porque em questões de entretenimento, o filme avança de maneira menos desengonçada; ainda que tudo soe genérico mais uma vez, o argumento em foco é mais direto. Aos poucos, tudo o que foi criticado de maneira dura no primeiro, não desapareceu, mas existe uma clara tentativa de suavização. Com isso, Code 8: Renegados – Parte II acaba não provocando vergonha como parte das produções da Netflix, e sim entra em outro escaninho, nada elogioso também: o dos filmes que serão esquecidos em um mês. 

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Sem originalidade no campo macro ou no micro, resta a Code 8: Renegados – Parte II investir em terreno conhecido, mas que facilmente provoca a adesão do espectador. Uma adolescente empoderada, um grupo de adultos que deseja suas capacidades para concluir seus planos de dominação, um pária disposto a defendê-la. Já vimos isso quantas vezes, né? Todas as saídas aqui são esperadas, todos os caminhos já foram traçados antes, e o espectador segue na produção brincando de adivinhação, e em quanto tempo as situações que já conhecemos irão dar as caras. Em tempos onde declarações como “roteiro é algo menor dentro do escopo cinematográfico”, seria interessante ouvir o que esses grupos teriam a dizer sobre esse material. Mas desconfio que o pano seria passado com louvor. 

Chan não é um bom artesão, então qualquer sinal mínimo de criatividade não aparece aqui para driblar a falta de recursos. Code 8: Renegados – Parte II, na melhor das hipóteses, é um título que não se organiza para compensar o que lhe falta. Esse resultado é ocasionado pelo seu autor, que, a julgar pela grande ideia que teve de aproveitar o que a Marvel já tinha apresentado, não passa de um burocrata que se imaginou maior do que verdadeiramente é. O que acompanhamos durante pouco mais de hora e meia é uma estratégia para esconder a falta de investimentos maiores, e nesse único caso, o filme é bem sucedido, porque não tenta mostrar mais do que poderia. Esse é o único momento onde o diretor consegue resolver uma situação problemática. 

Os primos Amell continuam apresentando um trabalho digno da produção, mas dessa vez quem os rodeia está acima deles, ao menos. Significa que merecem qualquer louvor? Não. Mas Alex Mallari Jr. é uma presença interessante nesse grupo, com o que deve ser o melhor personagem também – aquele policial corrupto de sempre. Como ninguém resolveu dar o play em Code 8: Renegados – Parte II na crença de encontrar substitutos para Meryl Streep ou Jack Nicholson, o filme não te engana em não apresentar qualquer coisa que se assemelhe a isso. Estamos diante apenas de mais um material ‘netflixiano’ de qualidade aquém do nosso interesse, que conserta o que pode quase tentando desaparecer o que deveria formá-lo, a possibilidade de mostrar efeitos especiais. É, no mínimo, fora do comum.

Um grande momento

Debaixo do viaduto

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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