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Crime na Rodovia Paraíso

Estrada do desespero

(Paradise Highway, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama, Policial
  • Direção: Anna Gutto
  • Roteiro: Anna Gutto
  • Elenco: Juliette Binoche, Morgan Freeman, Hala Finley, Frank Grillo, Cameron Monaghan, Veronica Ferres, Christiane Seidel
  • Duração: 111 minutos

Juliette Binoche ganhou um Oscar por O Paciente Inglês, um prêmio em Cannes por Cópia Fiel, um César por A Liberdade é Azul, além de ter estado em obras do calibre de Perdas e Danos, Acima das Nuvens, Deixe a Luz do Sol Entrar, Caché e muitos outros. É uma das maiores atrizes da História do cinema francês e do nosso tempo, sem dúvida. Porque então ela aceita fazer coisas como Crime na Rodovia Paraíso e vários outros de mesma procedência, é um mistério de difícil solução, mas ao menos aqui podemos ter uma resposta na sororidade, e na temática que apresenta. Nada disso, no entanto, livra a cara de um filme que, em seus melhores momentos, não tem nada de relevante a oferecer, que não sua mensagem e suas boas intenções. 

Escrito e dirigido por Anna Gutto em sua estreia em longa metragem, Crime na Rodovia Paraíso mais se assemelha a uma propaganda anti-tráfico humano do que exatamente um filme, embora seu elenco tente provar que sim, trata-se de algo cinematográfico. O filme passou pelo Festival de Locarno também inexplicavelmente, e fica a impressão de que todos caíram na mensagem edificante que exala do título. Nesse sentido, estão certos de ficarem posicionados contra algo tão hediondo principalmente se perpetrado contra crianças e outros vulneráveis, mas precisaria então que sua autora fosse além da facilidade de apenas denunciar algo. Poderíamos ter substância de verdade correndo pela narrativa, e não apenas a exposição de algo que infelizmente assola o mundo. 

Chega a ser ingênua a abordagem tão talhada na repetição, incluindo ecos no nosso Central do Brasil e no Glória de Cassavetes. A história narra o novo rumo de uma mulher ignorante que sempre cometeu infrações, mas que é tocada pela presença de uma criança, a salva de um grupo de exploradores e segue pelo mundo tentando fazê-la encontrar um lugar melhor – alô, Dora e Josué! No lugar da nossa Fernanda Montenegro, Binoche realiza o possível em uma trama tão capenga, que ainda inclui uma dupla de policiais que a caça. Mas Gutto passa longe de ser Walter Salles, e a seu favor resta apenas a solidariedade óbvia que qualquer um consegue ter com a premissa do filme, e nossa capacidade de lutar contra o pior. 

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A direção tenta criar uma ideia elaborada de captação de imagens, mas isso não é uma constante do projeto, mas um detalhe aqui e ali que mostra que alguém está realmente interessado em algo além da burocracia. O problema maior é que seu desenvolvimento narrativo ou é muito pedestre, ou irrita por andar em lugares ora seguros, ora ruins. Acompanhar Crime na Rodovia Paraíso exige, na maior parte do tempo, um exercício de paciência da parte do espectador que estiver em busca de um produto que honre Binoche e seu parceiro de cena, Morgan Freeman. O campo que encontramos, no entanto, é mais infrutífero do que poderíamos imaginar, e apesar do apelo emocional, o filme só chama a atenção do público que abraçar o clichê sem olhar para trás. 

Algo de especial acontece durante Crime na Rodovia Paraíso, e está incrustado na espinha dorsal do filme. Acompanhar a evolução da pequena Hala Finley em cena, que surge como uma figura absolutamente histérica e vai se humanizando até tornar-se um poço de melancolia com apenas 13 anos, é de impressionar os mais céticos. Existe um momento em particular onde a atriz exibe um monólogo para sua companheira de elenco veterana que só não emociona, porque o espectador estará recolhendo o queixo do chão com o que ela faz. Como não é todo dia que vemos uma criança em um momento tão absurdo como aqui, seguimos na expectativa até o fim para encontrar cada cena de Finley, e ao fim dele, torcer para que a menina encontre novos produtos para desabrochar ainda mais, e que os posteriores sejam um pouco melhores que esse aqui. 

Um grande momento

O desabafo de Leila

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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