Crítica | Outras metragens

Forever

Fome de tudo

(Forever, GBR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Marco De Luca
  • Roteiro: Sydonie Calvert, Marco De Luca, Irene Harris
  • Elenco: Roda Asha Aden, Zehra Bilgin, Jack Parr e Rick Renton
  • Duração: 12 minutos

Logo de cara não parece haver muita novidade naquilo que se vê, meninas imigrantes machucadas na traseira de uma van e caras maus que as levam para alguém. A facilidade do roteiro, com uma saída deles para comer algo logo depois de checar a situação das duas também não é nada animadora. Forever, curta-metragem dirigido por Marco De Luca, é bem intencionado ao tentar alcançar temáticas sociais complexas como o tráfico sexual internacional, mas não esconde sua ingenuidade e alguma empolgação juvenil com outros temas e gêneros que fazem parte do imaginário popular e são tão comuns no cinema. Suas conexões não são evidentes e muitas vezes não fazem sentido. Poderes valem para uma coisa, não para outra, e posturas são coerentes num momento e em outro, não. 

Há muita coisa que se desperdiça em Forever. O roteiro de Sydonie Calvert, Irene Harris e do próprio De Luca, além de toda a elaboração por trás de um terror romântico lésbico, com a questão da imigração e do tráfico, ainda tenta trazer personalidades distintas. As duplas são formadas por indivíduos com personalidades contrastantes e isso está no curta, mas muito superficialmente. Como o quarteto, Roda Asha Aden, Zehra Bilgin, Jack Parr e Rick Renton fazem o que está a seu alcance, mas excessos e comedimentos demonstram que faltou um controle maior no set.

A irregularidade também está nas opções estéticas, com a busca por uma sofisticação que descola partes do todo, porém, há de se reconhecer o bom feeling do diretor de fotografia Cristian Mantio. Alguns planos, mesmo que batidos, são interessantes e bem construídos. E existe, sim, alguma ansiedade que se cria enquanto o filme se aproxima do final, quando a perseguição se aproxima de lugares menores, mais escuros e o som passa a ter um papel mais relevante na manipulação do sentimento.

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Entretanto, essa é mais uma das aberturas de caminho do filme e a grande questão de Forever é justamente esse afã de querer ser coisa demais. Entre drama, thriller, romance e terror, sem esquecer que quer trazer temas relevantes, ele acaba não se dedicando a nada da maneira que deveria. Embora deixe a impressão de que poderia fazer isso se escolhesse um dos caminhos, em seu arroubo, torna-se um filme previsível, confuso e menos interessante. Uma pena. 

Um grande momento
Matando a fome

[19º HollyShorts Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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