Crítica | Streaming e VoD

Desaparecidos na Noite

Ultra-passado

(Svaniti nella notte, ITA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Renato de Maria
  • Roteiro: Luca Infascelli, Francesca Marciano
  • Elenco: Riccardo Scamarcio, Annabelle Wallis, Massimiliano Gallo, Gaia Coletti, Lorenzo Ferrante
  • Duração: 88 minutos

A melhor forma de realizar um remake deveria ser o de reimaginar os caminhos já traçados anteriormente para tais personagens. Seria como voltar as encruzilhadas de cada ação da vida e poder realizar o outro caminho, sem o ônus da prova que seriam as consequências reais. Através da mudança de várias decisões, é como se realizar um filme novo e inédito, com base em um original que o público comprou há 10 anos atrás. Porém, vamos combinar que ninguém sabe o que é Sétimo, suspense espanhol protagonizado por Ricardo Darín e Belén Rueda; eu mesmo só fui reconhecer aquela trama depois da metade da produção. A obscuridade do filme impede, na atmosfera de thriller, que o espectador vá recordar o passado, quando nada ali parecia ter relevância. Essa estreia Desaparecidos na Noite, da Netflix, é justamente a releitura desse filme. 

O diretor Renato de Maria já tinha entregue para a Netflix um policial há cinco anos, Nada Santo, com melhor repercussão e resultado e o mesmo protagonista, Riccardo Scamarcio. A nova parceria é refém do que o espanhol propunha em sua narrativa, o mesmo ponto de partida e as mesmas ideias, ao mesmo tempo que tenta investigar novas formas de chegar àquelas situações. O modo original que o plot do filme apresenta, é bem menos fantasioso do que em Desaparecidos na Noite, que incluem uma série de providências que tiram a base da estrutura. Mas o ponto é o mesmo: um casal prestes a se divorciar tem seu casal de filhos tomado por algo desconhecido, um provável sequestro, que se desenrola para uma série de atos criminosos e acertos de contas. 

No entanto, a série de coincidências e tempos mortos se repetem, e em Desaparecidos na Noite as situações não se sustentam, dando ao filme uma duração desnecessariamente indesejada. O que se forja em cena é um grupo de ações muito pequenas, que precisam sustentar um filme de uma hora e meia, e para isso o filme estica seu campo até o limite do suportável. Não é o caso simplesmente de saídas irritantes, mas principalmente de um caso onde a espera não faz sentido com o que está sendo contado. A narrativa não avança, apenas gira ininterruptamente, dando a impressão de que ao menos uns 10 minutos de produção seriam deletados caso o protagonista agisse de um modo natural. É artificial que as situações nunca pareçam se encerrar, e se desdobre para que uma duração “aceitável” seja alcançada. 

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O pior de Sétimo, no entanto, continua vigente em sua refilmagem. Ambos dirigidos por homens, existiu aqui ao menos o acréscimo de uma roteirista feminina para contar uma história que resvala constantemente no machismo, e nunca deixa uma outra conotação vague pelas suas soluções. Temos um filme onde dois lados de uma moeda são entregues ao espectador, que desde a primeira cena entende que opostos foram estabelecidos entre um ex-casal. Toda vez que precisa confrontar duas hipóteses ou dois caminhos, o filme não apenas opta pela voz masculina, como desenha a feminina como descontrolada. Nada é conduzido de forma acertada, mas o final de Desaparecidos na Noite, originalmente já bastante problemático, é amplificado em uma simples aparição final, seu penúltimo plano. 

Se a intenção era produzir um filme rápido e de fácil absorção pelo espectador básico do streaming, os produtores acertaram em cheio. Suspense com alguma tensão (quando não é esvaziada pelo tempo), Desaparecidos na Noite cumpre seu papel de repetir o padrão de grande parte das produções da Netflix: em breve, será esquecido. O casal protagonista está coeso e é bonito o suficiente para provocar o espectador, e tanto Scamarcio quanto Annabelle Wallis (de Maligno) tem talento para segurar as nuances dos personagens. O roteiro é que não fornece um bom material para os atores, que precisam se equilibrar como podem em uma narrativa cheia de arranjos providenciais para encaixar tais elementos. 

O que se torna impraticável é a base de suas construções, que já era leviana há uma década atrás, tendo mudado nada hoje que não para pior. É um desenho ultrapassado de significância, que contando com a ajuda de uma mulher em sua equipe, ainda se torna mais inexplicável. Com o que é apresentado, cheio de verniz bonito em seus muitos detalhes vazios, Desaparecidos na Noite coroa uma produção requintada com o que pode haver de mais arcaico em matéria de representatividade. 

Um grande momento
Os amigos brigam

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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