Crítica | Outras metragens

Hermano, Hermana

A verdadeira eternidade

(Hermano Hermana, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Rodrigo Cuartas, Jonathan Cuartas, Michael Cuartas
  • Duração: 3 minutos

O cemitério guarda silêncios, mas também encontros improváveis. Em Hermano, Hermana, dos irmãos Rodrigo, Jonathan e Michael Cuartas, a morte não fecha histórias, apenas abre fendas para que elas se reconfigurem. Meio século depois de falecer, uma mulher reencontra o irmão que deixou vivo quando desenterra não só o corpo, mas a memória dele.

Com interseções de fotografias, o stop motion dá vida ao gesto impossível. A materialidade da técnica torna palpável o que poderia soar apenas como metáfora. Cada movimento interrompido, cada textura visível no quadro reforça a sensação de que o tempo flui marcado por cicatrizes. A animação, nesse sentido, não foge do macabro, mas o transforma em presença terna e em imagem que carrega tanto estranhamento quanto afeto.

No diálogo entre os dois, passado e presente se confundem. Ele fala do que se lembra, ela dos que já se foram, inclusive os que estão longe de lá e de quando os encontra. As distâncias se anulam. A morte deixa de ser separação e se torna comunicação, como se os vínculos familiares atravessassem fronteiras de espaço e de tempo. Hermano, Hermana encontra força no contraponto, tendo de um lado a vida que resiste e, de outro a morte que insiste em permanecer na memória.

O reencontro é íntimo e universal ao lembrar que os mortos seguem conosco, nos lembrando de quem fomos e de quem seguimos sendo. No rosto dos bonecos e nos cenários construídos à mão, está gravada essa insistência de que nada se encerra de todo. Hermano, Hermana é breve, mas deixa marcas longas ao falar da permanência do amor, da teimosia da memória e da força de quem não aceita que a morte seja silêncio. Fica a certeza de que, para além das lápides e da terra, quem partiu, de alguma forma, vai estar sempre aqui.

Um grande momento
É uma carta de amor

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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