Crítica | Streaming e VoDDestaque

Amor² Para Sempre

Mais amor, por favor

(Milosc do kwadratu bez granic, POL, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia romântica
  • Direção: Filip Zylber
  • Roteiro: Natalia Matuszek, Wiktor Piatkowski
  • Elenco: Mateusz Banasiuk, Adrianna Chlebicka, Ina Sobala, Monika Krzywkowska, Miroslaw Baka, Sebastian Stankiewicz
  • Duração: 100 minutos

Só mesmo graças a Netflix uma comédia romântica polonesa poderia virar uma franquia com três capítulos, são daqueles rearranjos do mercado que o streaming hoje comporta. Muito difícil imaginar que a Polônia (ou qualquer outro país) conseguisse, ou mesmo tivesse interesse, em motivar essa equação para o cinema físico. Isso acabou criando algo como Amor², a primeira parte dessa ideia, que agora desemboca no canal Amor² Para Sempre, apenas 6 meses após o lançamento do segundo episódio, Amor² Outra Vez. Prematuro? Sem dúvida, visto que a greve em curso, tanto de roteiristas quanto de atores nos EUA, paralisou produções e para 2024 provavelmente deveríamos ter estoque para lançar títulos novos. A Netflix parece pouco preocupada com o futuro. 

Dirigido pelo mesmo Filip Zylber dos anteriores, Amor² Para Sempre é, sem qualquer dúvida, o melhor título dos três; tudo amadureceu, e não apenas os personagens. Na verdade, os personagens mesmo acho que amadureceram pouco, afinal precisa ter narrativa aqui para justificar essa terceira parte. Continua tudo muito frívolo e em ritmo de passatempo, mas se não temos a produção mais requintada esteticamente do mundo, ao menos chegamos em um lugar onde aquele universo parece absorvido e um certo desenvolvimento coletivo foi alcançado. É um recorte mínimo, que inclusive imbui esses personagens de um acerto emocional bem evidente, além de ampliar nossa compreensão dos quatro protagonistas – ou, dos protagonistas e seus pais. 

Em particular, é difícil para o crítico que vos escreve envolver-se em um filme com problemas (grandes ou pequenos) e não se deixar levar pelo que o emocional dele entra em gatilho com o meu. Nesse caso determinado, foi muito complexo avançar a narrativa sem perder a paciência com Ewa, personagem acrescida agora e vivida por Ina Sobala. Deve ser uma grande interpretação, tendo em vista que ela consegue tirar o espectador do sério em atitudes absolutamente detestáveis. Poucas pessoas conseguem ser mais irritantes do que “o parasita engraçadinho”, e Ewa detém essa marca registrada – é uma folgada sem noção, uma mãe relapsa em todos os níveis, uma pessoa que absorve o ar do recinto e que ocupa todos os espaços possíveis com sua personalidade. 

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Ela é o volante das situações do filme, um tipo sem muita regulação, que apesar de tudo, é também responsável pelo empenho do público em criar, enfim, conexão com o casal Enzo e Monika, que desde o primeiro título demonstra mais querer se divertir do que exatamente criar laços. Agora em Amor² Para Sempre percebemos que o amadurecimento aqui foi tão amplo que alcançou também os valores emocionais da produção, que enfim se mostra querer ir além do estereótipo da ‘comédia romântica da Netflix da semana’. Não estamos falando que o filme tenha alcançado lugares exemplares, mas é uma fornada que finalmente conseguiu sair intacta para ser servida, demonstrando afeto pelo que está contando e envolvendo o espectador em uma história ainda mais calorosa. 

Além dos protagonistas efetivos, desde o longa anterior, temos a historinha de amor paralela entre o pai de Monika e a mãe de Enzo, um casal maduro que vive um amor cheio de doçura e comprometimento, mais do que os filhos, muitas vezes. Aqui, eles mais uma vez têm conflitos que os colocam em uma trama particular, e também se movimentam com graça tentando nos colocar em outro momento do amor. É o desenvolvimento paralelo desse outro casal que eleva Amor² Para Sempre para longe do que poderia ser mais uma história besta protagonizada por jovens bonitos envoltos em conflitos banais. Tudo se adensou sem perder a cara da leveza que o gênero pede, e que o público da Netflix espera. Mais um sucesso vem aí para o streaming, e dessa vez até conseguimos torcer por Enzo, Monika e, agora, seu futuro. 

Um grande momento

Almoço de família

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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