Crítica | Streaming e VoD

Postais Mortíferos

Thriller mal tratado

(The Postcard Killings, GBR, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Danis Tanovic
  • Roteiro: Andrew Stern, Ellen Furman
  • Elenco: Jeffrey Dean Morgan, Famke Janssen, Cush Jumbo, Joachim Król, Steven Mackintosh, Denis O'Hare, Naomi Battrick, Ruairi O'Connor, Eva Röse, Lukas Loughran
  • Duração: 104 minutos

O que leva um cineasta como Danis Tanovic, vencedor do Oscar por Terra de Ninguém, constantemente premiado por obras ousadas, nada tradicionais, que ampliam os limites da discussão cinematográfica, sem qualquer disposição pra realizar um cinema acomodado ou quadrado, a aceitar dirigir um filme como Postais Mortíferos? Independente do resultado da produção, trata-se de um projeto avesso ao que o cineasta tradicionalmente se envolve, e especificamente aqui, um thriller policial que a mão dele universaliza, mas que segue uma trilha muito antiquada na condução narrativa, que o próprio cineasta não faz questão de romper ou subverter, sem qualquer paixão.

São afirmações complexas de capturar, pois Tanovic é um cineasta cujos filmes anteriores, Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho e Morte em Sarajevo são exemplares na sua capacidade de comunicação emocional, mesmo exibindo suas fagulhas inquietas. Sempre retratando um mundo em colapso refletido pelas imagens que captura, pela proposta condutora de universo, geralmente dedicado a explorar fisicalidade através de novas camadas narrativas e imagéticas. Com essa sua produção mais recente, esse cineasta motivado e vibrante capaz de subverter expectativas não está presente, ou apenas “bate o ponto” diário em um emprego burocrático.

Postais Mortíferos

Desde o início, suas decisões estéticas são o oposto do que sua carreira apresentou até então; o que vemos desde os primeiros 10 minutos são escolhas pobres, como a de chacoalhar a câmera e torná-la cambaleante para outorgar um processo alcóolico, ou desfocar os planos durante estados de confusão mental. São tomadas, na maior parte do tempo, conseguidas através da leitura de um manual ordinário de realização, fazendo com que o material final não apenas careça de personalidade, como fragilize uma produção que, por incrível que pareça, tem problemas de condução maiores do que as típicas do gênero costumam ter.

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O roteiro escrito há dez mãos, entre eles uma das autoras do livro em que se baseia, é uma adaptação de uma obra co-escrita por James Patterson, o homem por trás dos originais que deram origem a Beijos que Matam e Na Teia da Aranha, sucessos estrelados por Morgan Freeman que percebemos com facilidade na narrativa de Postais Mortíferos. À sua versão cinematográfica, o livro lega um desenrolar apreensivo e instigante, que acaba funcionando enquanto produto de rápido consumo, mas o excesso de envolvimento no texto e as opções de direção mais canhestras acabam soterrando um projeto que não precisava ser rebuscado, mas que incomoda constatar o desapego e a inadequação com o gênero.

Como o protagonista dilacerado pela dor, Jeffrey Dean Morgan (de Watchmen) entrega um trabalho capaz de abrilhantar e elevar qualquer produção, mas é justamente Tanovic quem o impede de ir além quando encarcera seu ator em tomadas sem qualquer capricho mínimo, mal montadas, que o ator tenta consertar, em vão. A presença de Famke Janssen (de Assalto ao Banco da Espanha) é confusa, porque o filme não se detém a ela até que o roteiro passa a precisar da mesma, e aí ela entra em cena para não ter qualquer relevância. Na verdade, o elenco do filme como um todo tem consciência de que seus personagens são interessantes, seus arcos são poderosos, mas o projeto os sabota a todo momento.

A partir da metade da produção, quando tudo parecia meio que perdido, as bases do livro começam a vir à tona e os plot twists da base ganham a tela, o que garante assistir a Postais Mortíferos até o final com interesse e curiosidade, e a sensação de que o livro poderia ter uma adaptação menos descuidada, e que seu diretor não deixasse tão claro que estava apenas esperando o depósito bater em sua conta. O que poderia ser um filme agradável para assistir no sábado à noite (ironia, exatamente quando estreia, nos canais Telecine), passa a ser um “jogo dos erros” aborrecido, comandado por alguém com muita má vontade.

Um grande momento
O anel da minha avó

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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