(Lost in Translation, EUA/JPN, 2003)
Direção: Sofia Coppola
Elenco: Scarlett Johansson, Bill Murray, Akiko Takeshita, Giovanni Ribisi, Anna Faris
Roteiro: Sofia Coppola
Duração: 104 min.
Nota: 9
A grandiosidade de Tóquio é o símbolo escolhido por Sofia Coppola para retratar o abismo que existe em cada um de nós. É nesta metrópole que dois desconhecidos encontram, um no outro, aquilo o que não conseguiram achar em qualquer outro lugar.
Bob Harris (Bill Murray) é um ator norte-americano que obteve sucesso no passado e que hoje vive de trabalhos menores. Está no Japão para participar de um comercial de bebida. Entre filmagens e faxes com mensagens da sua mulher, ele passa o resto do tempo tentando combater a insônia das mais diversas formas. Charlotte (Scarlett Johansson) é uma garota recém-casada que acompanha o marido (Giovanni Ribisi), um badalado fotógrafo, numa viagem de trabalho. Tenta preencher as horas de solidão visitando templos, conhecendo restaurantes típicos e até ouvindo CDs de auto-ajuda.
Assim que chega à cidade, Harris perceber que a sua estadia não será simples, desde a imensa dificuldade em se comunicar com o diretor do comercial até a diferença de biótipos. Tudo isto é retratado com pitadas de ironia, mostrando quadro a quadro o estado de espírito do ator, que passa grande parte das noites no bar do hotel onde está hospedado. É numa destas noites que Charlotte o aborda. A empatia é imediata e ambos tornam-se cúmplices nas tentativas de burlar a sensação de incomodo aparentemente causada por uma cultura diferente.
Num ambiente em que tudo parece estranho ao que está acostumada, a dupla inicia uma jornada pela vida noturna de Tóquio, chegando ao ápice em um karaokê. As músicas cantadas pelos protagonistas completam diálogos que não foram escritos. Aliás, toda a trilha tem este papel na história. Clássicos da cultura rock/folk desfilam pelo filme em momentos cruciais. E a genialidade desta produção está mesmo em seu roteiro. Não foi à toa que Sofia Coppola levou o Oscar de melhor roteiro original e ainda garantiu a primeira indicação de uma mulher ao prêmio de melhor diretor em 2004.
É verdade que o filme poderia se passar em qualquer outra grande metrópole que a mensagem seria entendida, mas a escolha por uma cultura oriental, que compartilha tão pouco com a nossa, ajuda, e muito, a intenção de Coppola de transpor ao espectador a sensação de desconforto e desorientação característicos aos personagens. Aos poucos, entre um diálogo e outro, o infinito particular de cada um vai ficando cada vez mais exposto.
Lost in translation, o título original, é uma expressão usada por tradutores quando não conseguem encontrar uma palavra que defina em outro idioma o significado de algo em sua língua nativa. É isto que ambos carregam dentro de si. Um sentimento sem nome, ou melhor, sem tradução. Charlotte parece buscar em Harris um sinal de que com os passar dos anos o entendimento chegará e Harris tenta encontrar na juventude dela, lampejos de uma época onde ele ainda acreditava nisto. Apesar de continuarem presos em suas angústias, experimentam o sentimento de compreensão mútua, o que transforma a amizade nascida entre os dois em um lugar seguro.
Esta história de cumplicidade só é tão bem retratada em vídeo, porque a direção delicada de Sofia Coppola guia Johansson e Murray a atuações absolutamente honestas. Comedido e sem inovações tecnológicas, Encontros e Desencontros é um filme brilhante de uma diretora que sabe retratar condições humanas com uma sensibilidade ímpar.
Um Grande Momento
I’m stuck!
Oscar 2004
Melhor Roteiro Original
Links
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