Crítica | Streaming e VoD

Detetive Madeinusa

Investigando o constrangimento

(Detetive Madeinusa, BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Rodrigo Van Der Put
  • Roteiro: Leonardo Lanna, Martha Mendonça, Nelito Fernandes, Vinicius Antunes, Daniel Belmonte
  • Elenco: Bruno Montaleone, Gessica Kayane, Rafael Cunha, Aisha Jambo, Luana Tanaka, Antonio Tabet
  • Duração: 101 minutos

O maior pecado de uma comédia, seja de qualquer nacionalidade, é não ter graça, nenhuma no caso. Alguns filmes do gênero, mesmo com astros consagrados em outras produções, passam longe de produzir o efeito desejado, ocorrendo muitas vezes de alcançar o exato oposto. Esse é o caso da produção que acaba de estrear na plataforma Amazon Prime Video, Detetive Madeinusa, como diria um meme de hoje, um filme que é inimigo do entretenimento. Durante pouco mais de 1 h e meia, a produção demonstra cena a cena como a comédia de viés popular extremo guarda uns segredos para sua realização, que não deveria empilhar piadas antiquadas sem timing.

Rodrigo Van Der Put estreia na direção (e já está com filme novo prestes a ser lançado, Juntos e Enrolados) depois de acumular elogios e prêmios por seus episódios de Natal do grupo de humor Porta dos Fundos, e realiza uma transição acidentada para o cinema propriamente dito. Esse longa teria um lançamento no cinema e por conta da pandemia acabou cedido para o streaming, e imagina-se que seria esperado o sucesso que foi conseguido por produções como Os Parças, título no qual o filme se aproxima, por inúmeros motivos, mas o principal talvez seja a que tipo de público ele é destinado.

Detetive Madeinusa
Stella Carvalho

Sem qualquer apuro estético (que em algo como Cabras da Peste, por exemplo, até está presente), o filme não tem sustentação em qualquer que seja sua pilastra – não se resolve enquanto produção cinematográfica, não é engraçado como se imagina ser, e isso também é resultado da falta dos tempos de comédia, que não estão alinhados com a montagem. Muitas vezes essas produções de comédia para público popular não encontram acabamento em sua moldura, e o caso de Detetive Madeinusa é exatamente esse. O trabalho de Bernardo Jucá parece sem supervisão ou entendimento mínimo do próprio trabalho dentro da comédia, que precisa do ajuste correto para fazer funcionar.

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Tudo parece minimamente improvisado, não entre os atores, mas na produção em si. Esse perceptível descompasso entre a realização e a busca do seu grupo pela verdade de cada um produz cenas que deveriam ser recortadas do seu entorno para serem apreciadas com algum interesse. O tipo de humor produzido pelo filme, de caráter popularesco, não deveria ser motivo para que sua produção não se empenhasse em sua área técnica; o resultado é um filme cuja pobreza estética está em cada cena, nos lembrando do porque seu alcance está comprometido e não pode ser revertido, mesmo com o elenco trazendo alguma entrega.

Detetive Madeinusa
Stella Carvalho

As presenças de Rafael Cunha e Whindersson Nunes, por exemplo, refrescam a produção assim que aparecem, a seu favor estão as doses de carisma que faltam, por exemplo, ao trio de mulheres apresentadas como escadas de Tirullipa; não é culpa das atrizes, mas a falta de charme de suas personagens. A essa dupla de vilões, no entanto, é destinada alguma liberdade, e com isso os atores conseguem angariar algumas poucas risadas e empenhar suas cenas com o que falta no resto da produção. Bruno Montaleone também se esforça e o próprio Tirullipa tem uma cena razoável (a do encontro com Antonio Tabet), mas mesmo os melhores momentos se parecem mais com tábuas de salvação em um naufrágio óbvio.

O filme ainda resgata uma triste tradição do cinema brasileiro que Xuxa difundiu, aquela que une a maior quantidade possível de participações especiais aleatórias, e na maior parte das vezes constrangedora. Como unir Rubens Barrichello, Gustavo Borges, Gretchen, Vanderlei Silva, e até Pabllo Vittar cantando “K.O.” sem parecer desnecessário e gratuito é uma lição que ficará pra próxima; aqui, só suas presenças acanhadas sem qualquer função dão as caras, deixando com ainda menos sentido um filme que não cansa de promover elementos contra si mesmo. Ou seja, uma cereja triste em cima de um bolo que não cansa de surpreender negativamente.

Um grande momento
A vaca branca de manchas brancas

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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