BERLIM – O início da coletiva é caracterizado pelo bom humor desse inglês baixinho de voz decidida. Os outros membros do júri, a priori, deixam a bola com o presidente, que usa a palavra “camaradas”, quando se refere aos seus colegas desse grêmio cinematográfico que tem a tarefa de, no próximo dia 18, distribuir Ursos.
Perguntado por um jornalista o que seria especial no Festival de Berlim ele responde: “Todo festival é diferente, tem sua característica própria”. Eu adoro Berlim pela cordialidade, por ser um festival popular. Certamente se o festival acontecesse no período de alto verão, o feeling do festival seria totalmente outro”.
Na opinião de Mike Leigh, sem entrar em maiores detalhes, o festival não mudou essencialmente depois da queda do muro. Perguntado sobre o que foi que mudou na mostra competição dos últimos anos, Mr. Leigh devaneou, saiu pela beirada e, tentando de todo jeito de não pisar em ovos, deixou o bom-humor de lado e em tom seríssimo disse: “Eu não tenho autorização para responder essa pergunta”.
Comparando com o número de jornalistas presentes na sala, as perguntas foram escassas. Em geral no Festival de Berlim existe uma tendência que vai se ratificando a cada ano, de poucas perguntas consistentes e audaciosas, que tirem os participante da zona de conforto de estar ali somente cumprindo um dever midiático.
Uma repórter do jornal “Tagesspiegel” perguntou sobre a dinâmica do trabalho do júri, qual a frequência de encontros, se haverão muitos almoços e jantares e se os membros pensam em fazer um programa turístico pela cidade. Em tom sarcástico e bem afiado Mike Leigh respondeu: “Teremos, com certeza, muitos almoços, porque todos nós temos fome”. As conversas serão em inglês e francês, acrescentou o britânico.
Charlotte Gainsbourg e François Ozon mantiveram a tradição de tantos outros conterrâneos e só fizeram uso de seu idioma nativo: o francês. Jake Gyllenhaal passa a impressão de um estranho no ninho, no meio de tantos europeus. O júri ainda conta com a presença do holandês Anton Corbjin e a alemã Barbara Sukowa, além do iraniano Asghar Farhadi e o argelino Boualem Sansal.
Comprovando mais uma vez a sua diplomacia, Mike Leigh elogiou as qualidades de anfitrião do diretor Dieter Kosslick e ainda acrescentou: “Ele é sempre muito engraçado”.
Um jornalista de Los Angeles perguntou se no festival de Berlim se vê mais filmes de Hollywood ou do cinema mundial. Mais uma vez, Mike Leigh tomou a frente da carroça: “O cinema mundial, e isso eu digo como um cineasta europeu, está cada vez mais minguando aquilo que outrora era a inevitável dominância de Hollywood e isso é muito bom.”