- Gênero: Animação
- Direção: Mark Dindal
- Roteiro: Paul A. Kaplan, Mark Torgove, David Reynolds
- Duração: 95 minutos
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Em 2004 e 2006 os cinemas ganharam um presente, a primeira parte e a continuação das aventuras do gato mais preguiçoso dos quadrinhos, criado por Jim Davis. Os dois custaram 55 milhões de dólares e o primeiro multiplicou isso por quatro, e o segundo por três. Logo, foram dois sucessos comerciais, embora destruídos pela crítica, misturas de atores reais com uma animação em CGI do protagonista. Depois disso, se seguiram alguns longas em animação do personagem, nenhum deles gerando confiança ou gestado por um grande estúdio. Agora, estreia nos cinemas Garfield: Fora de Casa, que a Sony está confiante no sucesso, e do ponto de vista crítico, o estúdio pode relaxar, porque tem em mãos um título que pode fazer um rio de dinheiro nos cinemas e uma diversão encantadora, em um roteiro nada mirabolante mas que acerta os alvos que mira.
O diretor Mark Dindal assinou os roteiros e a direção de duas animações que não foram nada excepcionais em seus anos na bilheteria, mas alcançaram um grupo de fãs crescente que os cultua, O Galinho Chicken Little e principalmente A Nova Onda do Imperador. Quase 20 anos após sua última assinatura, ele tem mais uma chance aqui, em um projeto que exala carinho desde a primeira cena, quando vemos o bebê Garfield ser abandonado na chuva, antes de ser encontrado por Jon, seu inseparável dono – ou como o protagonista diz, o “momento onde ele adota Jon”. A partir desse momento, seguem-se sequências muito divertidas em Garfield: Fora de Casa, mas que acima de tudo atestam que sua mensagem seja difundida para tocar o espectador.
Ou seja, estamos diante de um programa familiar que garante o entretenimento de quantos mais público, melhor. Também é uma produção que, assim como Super Mario Bros. no ano passado, está de olho na nostalgia do público, mas que tem contra si algo que os irmãos encanadores não tinham: a superexposição do personagem ao longo dos anos em tantas produções. Ainda que Garfield: Fora de Casa seja especial, isso precisa ser atestado para a reverberação, e aí entra o trabalho da crítica especializada, o de apontar que não se trata exclusivamente de um filme fofo. Como anuncia o personagem logo de cara, o filme nos vai apresentar a um personagem inédito, mas que é imprescindível para que conheçamos sua história.
É fácil capturar as famílias para dentro de Garfield: Fora de Casa quando a narrativa está falando de abandono paterno, e de um retorno posterior bastante suspeito. O que vai sendo costurado na produção, é um conto sobre separação, que envolve todos os núcleos do filme. Não é exclusivamente Garfield e seu grupo biológico que estão separados, mas também ele e seu pai adotivo, além da história de amor interrompida vivida entre Otto e Ethel, um touro e uma vaca separados pela ganância do sistema. Desde o encontro entre as duas primeiras sequências do filme, nos damos conta de que essa dualidade entre o encontro e a separação se dará na produção, que mostra como esses valores familiares também são forjados na perda.
A animação conspira também para que a produção seja eficiente do ponto de vista da comédia, já que o visual transita entre um exagero típico das animações e uma emulação do real que é muito bom, como as inserções do ‘Catflix’ que Garfield assiste. Toda a criação do universo que inclui a fábrica onde eles precisam executar o plano da vilã é muito bem desenvolvido também, contribuindo para o que pode salientar a comédia do material. É como se Garfield: Fora de Casa, ao criar uma ponte entre a comicidade e a emoção, acabasse por enfatizar ambas e potencializar o coletivo. Em tempos onde as crianças parecem reféns de produtos onde elas não conseguem interagir, ou onde os pais são excluídos da equação final das produções, o que temos aqui é o resultado ideal.
Visto em uma sessão repleta de crianças, a vibração entre elas, seus questionamentos e inquietações, suas tentativas de ‘consertar’ o que elas entendiam como um ‘problema’ da produção, narrativa ou estética, prova como o resultado é acima da média. Que o trabalho de Kindal dessa vez não aparenta que precisará de dobrar a década para ser reconhecido, essa é a grande tarefa adulta que Garfield: Fora de Casa promoverá. De orgânico, é a fórmula impecável de alcançar a comunicação através de valores ancestrais, o riso e a lágrima, com a igualmente primordial das relações – o amor que se constroi a partir da família escolhida, e não constituída naturalmente. Mesmo quando é natural, tem de vir do coração.
Um grande momento
Garfield tenta entrar no trem em movimento