Se a produção de longas-metragens cresceu muito nos últimos anos, um movimento ainda mais intenso pôde ser percebido com os curtas-metragens. A facilidade de captação e distribuição dos filmes realizados faz com que os números aumentassem muito, trazendo ao cinema uma maior pluralidade de vozes, olhares, histórias e crenças. Os problemas de distribuição, enfrentados de maneira geral pelo cinema brasileiro, também são maiores para o formato, que, basicamente, só circula em festivais de cinema.
Do mesmo modo, o abandono de políticas em defesa do audiovisual, principalmente aquelas que atingem os eventos e esta possibilidade de divulgação e distribuição, ameaça a sobrevivência de uma produção vasta e rica, onde o experimental, a ficção e o documentário se encontram, onde estão muitos dos que estão começando e onde a liberdade de criar é mais individual.
A resistência, portanto, é fundamental. Festivais buscam outros patrocínios, montam vaquinhas virtuais e mostram que não vão desaparecer tão facilmente quanto se pensa. O mesmo, e até com mais afinco, acontece com os festivais e mostras específicas de curtas-metragens. É o caso do Goiânia Mostra Curtas, importante vitrine de curtas-metragens, que começa nesta semana.
Desde 2001, em sua primeira edição, 1.951 filmes foram exibidos, em uma produção que já envolveu mais de dois mil profissionais, atingido um público de 280 mil pessoas. O objetivo da diretora-geral da 19ª Goiânia Mostra Curtas, Maria Abdalla, é levar adiante o que foi construído até agora. “Realizar um festival por 19 anos consecutivos mostra a importância e o reconhecimento do evento como um dos mais significativos do país na área e no formato de curta-metragem nacional”, afirma. “Com grande impacto na economia criativa, o objetivo é democratizar a difusão do audiovisual nacional, visando seu crescimento e evolução, principalmente, em Goiás”, ressalta Abdalla.
A cerimônia de abertura acontece no dia 8 de outubro, no Teatro Goiânia (GO) e conta com homenagem à Helena Ignez além do pocket show “O Delírio do Verbo: Manoel de Barros em canções”, a partir das 20h, com temas dos poemas do autor mato-grossense musicados e interpretados Júlia Tygel (piano), Neymar Dias (viola caipira) e Tatiana Parra (voz).
Em competição
Neste ano, o festival trará ao público goiano 70 curtas selecionados dentre 1.003 inscritos. São produções que retratam dilemas da infância e a construção da identidade infantil, a maturidade das narrativas de animação conquistada ao longo dos últimos anos, a diversidade e o fortalecimento das produções goianas, e a bravura e pluralidade criativa de obras produzidas em todo o país.
As mostras competitivas estão divididas em Curta Mostra Brasil, Curta Mostra Goiás, Curta Mostra Animação e 18ª Mostrinha. Os vencedores levarão para casa o Troféu Icumam e prêmios em serviços. Além dos prêmios dos júris oficial e popular, os curtas-metragens das Mostras Brasil, Goiás e Animação concorrem também aos prêmios de Melhor Filme escolhidos pelo Júri SescTV e pelo Júri Elo Company.
Homenagens
A homenageada desta edição é a atriz Helena Ignez. A cerimônia de abertura do festival será dedicada à atriz, que também estará na mostra especial “O amor e suas formas”, com três filmes: O Pátio (1959), de Glauber Rocha; Extratos (2019), de Sinai Sganzerla, e Ossos (2014), dirigido por ela.
Helena Ignez é considerada uma das mais importantes atrizes do cinema brasileiro e completa em 2019 seus 80 anos de idade e os 60 anos de sua estreia nos cinemas, no curta O Pátio. Artista em permanente processo de reinvenção, além da intérprete há também a diretora que busca sempre imprimir a sua marca e encontrar novas formas de contar histórias.
O livro “Helena Ignez, actrice expérimentale”, de Pedro Guimarães e Sandro de Oliveira e editado pela Universidade de Strasbourg, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também será lançado durante o festival.
A cineasta, pesquisadora, arquivista e gestora cultural Olga Futema também é homenageada da 19ª Goiânia Mostra Curtas. Seu trabalho pela preservação do cinema brasileiro será lembrado junto com sua produção como diretora, com a exibição dos curtas Chá Verde de Arroz (1989) e Retratos de Hideko (1982).
Conversando cinema
Paralelamente às exibições, a 19ª Goiânia Mostra Curtas tem uma programação que também debate o audiovisual, além de uma área destinada ao mercado. A Feira Audiovisual acontece de 8 a 13 de outubro, com várias atividades.
Entre elas estão os debates “Afinal, que cinema fazemos?”, com a participação da atriz e diretora Helena Ignez, do diretor Fernando Coimbra e da produtora Rachel Ellis, e “A importância dos curtas-metragens e do maior e mais relevante meio de exibição deles: os festivais de cinema”, com a pesquisadora Ana Paula Ladeira, a diretora da Associação de Produtores Independentes Cíntia Bittar, o cineasta Bertrand Lira e o crítico e programador Marcus Mello. Os dois debates serão mediados pelo produtor Ivan Melo.
Oficinas e masterclasses também fazem parte da programação. A diretora de fotografia Heloísa Passos e Fernando Coimbra comandarão as oficinas sobre princípios básicos da fotografia e direção de séries de TV, respectivamente. Já as master classes serão ministradas por Rachel Ellis, que abordará processos e mecanismos de coprodução internacional para cinema; e pelo artista e cineasta Gabriel Mascaro, que falará sobre pesquisa e processo.
O festival
A 19ª Goiânia Mostra Curtas acontece de 8 a 13 de outubro e é realizada pelo Icumam Cultural e Instituto e conta com o patrocínio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE, Fundo Setorial do Audiovisual – FSA, Agência Nacional do Cinema – Ancine, Caixa e Governo Federal; apresentação Governo de Goiás e Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás; apoio da Unimed, Sesi Go, Sebrae Go, Fecomércio Go e Sesc.
SERVIÇO
19ª Goiânia Mostra Curtas
De 8 a 13 de outubro
Teatro Goiânia (Rua 23, 252 – Setor Central)
Vila Cultural Cora Coralina (Rua 3, s/n – Setor Central)
Programação completa: http://www.goianiamostracurtas.com.br/19/
Entrada franca