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Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

(Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: David Dobkin
  • Roteiro: Will Ferrel, Andrew Steele
  • Elenco: Will Ferrell, Rachel McAdams, Dan Stevens, Natasia Demetriou, Pierce Brosnan, Demi Lovato
  • Duração: 123 minutos

Qualquer ator de qualquer categoria, nacionalidade ou expressão sabe que fazer rir é muito mais difícil que fazer chorar, a comédia é muito complexa e arriscada que o drama, que muitas vezes funciona com os gatilhos certos e certa intensidade cênica. Já a comédia necessita de “algo mais” que muitas vezes é imperceptível e cujo alcance precisa de um conjunto de fatores – muitas vezes, é o timing o grande responsável pelo desastre. Pois essa é só uma das coisas que faltam a Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars, estreia de hoje da Netflix que infelizmente decepciona aos amantes de uma boa risada mesmo tendo um comediante consagrado à sua frente.

Will Ferrell é obcecado pelo Eurovision há muitos anos e o projeto foi desenvolvido com carinho pelo mesmo. Apesar de famoso em toda a Europa há mais de 60 anos, o festival ainda não tem difusão abrangente fora do continente, embora esse alcance tenha aumentado exponencialmente nos últimos anos. É basicamente uma competição musical, onde cada país inscreve uma música e durante algumas semanas o público de casa e os outros países delegam pontos a cada concorrente, definindo passo a passo o vencedor. A Irlanda é o país que ganhou mais vezes, e o ABBA é o maior exemplo de vencedor de sucesso do festival. Por sua relevância relativa, fica explicado o motivo de tantas piadas no filme serem atribuídas a própria competição. 

Will Ferrell e Rachel McAdams em Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

Apesar do bom elenco encabeçado por Ferrell e Rachel McAdams (de Spotlight) e das piadas estarem presentes o tempo, eventualmente até funcionando, e da narrativa construída ser de fato curiosa e criativa – ainda que pouco original – o filme não consegue decolar a contento durante toda a duração, provocando uma espécie de expectativa que nunca é cumprida. O diretor David Dobkin vem do videoclipe e nunca saiu da área, o que deve ter sido uma inspiração para o convite, mas apesar de ser muito bem sucedido no gênero (ele dirigiu Bater ou Correr em Londres e Penetras Bons de Bico, com Rachel), falta desenvoltura no desenvolvimento das piadas, físicas ou verbais. 

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O roteiro a cargo de Ferrell e Andew Steele (que venceu um Emmy por Saturday Night Live) nunca extrapola o suficiente, se mantendo num lugar seguro demais para uma comédia. Como tem um pé no romance, o filme parece mais interessado em dar estofo ao casal principal, sua história, seu relevo, do que necessariamente provocar. Como não se trata de uma produção dramática, Festival Eurovision da Canção nunca alcança um lugar especial em suas tentativas de fazer rir, nem chega a provocar alguma catarse no espectador ligada a emoção. Alguém bem pouco exigente no entanto pode ceder na cena do “diálogo” entre Lars e os elfos. 

Will Ferrell e Rachel McAdams em Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars

Como estamos na seara dos filmes de competição, óbvio que o Festival Eurovision da Canção tenta criar uma conexão emocional no clímax, quando finalmente os dotes secretos de Sigrit serão revelados. A canção-chave “Hometown” é de fato muito bonita, e quando finalmente a conhecemos, uma pergunta se faz finalmente inevitável: o longa é uma grande homenagem ao evento ou uma sacanagem absoluta com sua estrutura? Como nunca parece definir sua intenção, o filme escolhe o muro para ficar em cima, deixando o espectador perceber outro motivo pelo qual a produção nunca acontece, falta caráter decisório a direção e ao roteiro, e ao público sobra um punhado de indiferença. 

Como dito antes, a tal saga de Sigrit e Lars tem um elenco cheio de carisma, uma Rachel McAdams sempre acertada, cenas inspiradas que funcionam isoladamente e um combo de participações especiais de cair o queixo para os fãs do Eurovision, que incluem Conchita Wurst e Netta Barzilai em aparições repletas de devoção e um “clipe” especial para Salvador Sobral e sua belíssima “Amar pelos Dois” (a vencedora de 2017), mas no quesito comicidade o filme não alcança seus intentos. Porém se você for um fã do festival de música, prepare-se para ao menos ter quase 2 horas de entretenimento, enquanto o evento não volta. Até 2021, Eurovision.

Um Grande Momento:
“Hometown”

Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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