- Gênero: Terror
- Direção: RKSS (François Simard, Anouk Whissell, Yoann- Karl Whissell
- Roteiro: Alberto Marini
- Elenco: Turlough Convery, Benny O. Arthur, Jacqueline Moré, Tom Gould, Alessia Yoko Fontana, Kyle Scudder, Charlotte Stoiber, Aidan O'Hare
- Duração: 80 minutos
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Tenho ouvido por aí que “está na moda o filme de terror ser político”; o que tenho a dizer sobre isso? Não conheço bons filmes de terror (ou excelentes) que não se valham, em algum momento da construção, de algum teor particular que o faça desprender do que a imagem, pura e simples, esteja mostrando. As melhores experiências cinematográficas, venham da vertente que for, encontram na sua entrelinha material para potencialização. O cinema é uma construção estritamente audiovisual, no qual a narrativa é um acréscimo: outra afirmação que não sei se consigo concordar, por completo. Sim, o cinema é a arte da imagem, mas se a jogarmos de maneira vazia na tela, ela terá o mesmo impacto? Estreia essa semana Hora do Massacre, produção franco-canadense que quer comunicar muito, mesmo que não encontre saídas necessariamente felizes para tal.
Não sei se, a essa altura e por exemplo, taxar o homem branco cis heterossexual de simpatizante da extrema-direita e elevar essa taxação a limites quase histriônicos, é uma posição que surte algum comentário assertivo. Em cena, temos quatro homens nessa predefinição, e nenhum deles (vilões ou herois) tem um posicionamento que não seja o da manutenção da covardia, do discurso agudo da violência, da apatia diante do que está acontecendo socialmente ao nosso redor. Sobram então três mulheres e um homem negro, que precisam tomar as decisões mais acertadas, ter uma ideia de companheirismo que é irredutível, ou seja, mostrarem-se as melhores pessoas para estar junto, durante uma chacina ou não. Hora do Massacre apenas pode parecer uma produção que se interessa exclusivamente pela diversão; ok, não parece.
Estamos diante de um grupo de jovens ativistas ambientais que invadem uma gigantesca marca de loja de departamentos para passar a madrugada vandalizando-a, para que tais atos provoquem reflexão em suas táticas de direcionamento. Claramente essas pessoas estão do lado certo, enquanto a defesa do capitalismo estaria errada sob qualquer hipótese; se um dos defensores for também um simpatizante de caçadas animalescas remetendo à idade da pedra, fica ainda mais fácil defendê-los. São essas situações pouco sutis que Hora do Massacre emprega para situar seus personagens, então mesmo que a direção aposte no poder da criação de imagens fortes, o roteiro sublinha tanto as intenções, que o prato que estamos consumindo torna-se enjoativo, e redundante.
A cargo da direção da empreitada, o trio formado por François Simard, Anouk Whissell e seu marido Yoann-Karl Whissell – também conhecidos pelo pseudônimo RKSS, ou seja Coletivo Roadkill Superstars – promove algumas soluções visuais muito provocativas, mas tal entrega não converge com o roteiro auto explicativo e reiterativo em excesso. Hora do Massacre não nos poupa de discussão, como quando um personagem dado como morto (branco) “volta” justamente para perseguir um personagem vivo (negro), ou quando um ‘black face’ é produzido, para fins dramáticos de impacto. São muitas imagens, como o plano final, que saltam da narrativa para criar alusões claras a respeito da nossa queda enquanto sociedade.
De nada adianta o empenho da direção se a narrativa que seguimos roda em círculos, não tem fôlego para toda a sua duração e por isso recorre a saídas estapafúrdias como a “dupla morte” de grande parte do elenco, além de ser impregnada de obviedades e repetições. Tal como a frase “caímos em uma armadilha”, que ao passar da terceira vez proferida, acreditei tratar-se de uma comédia, voluntária ou não. Não há como levar a sério o que acontece em cena, que vai desde uma tentativa dos personagens ressuscitados até as pistas que vão sendo deixadas para além do que a narrativa mostra. Parece que o mote de Hora do Massacre foi para um lado, enquanto o desenvolvimento do mesmo foi para um caminho oposto, onde pouco parece razoável.
Para finalizar, todo o estereótipo utilizado para a criação do vilão não é apenas ridículo, como também irresponsável, e isso porque precisamos partir do ponto de vista político, que é onde o filme se situa. O desenho que o bom ator Turlough Convery precisa vestir é uma aula sobre como explorar errado um rascunho de personalidade, atribuindo ao caipira uma distinção negativa e subjugando seu gosto pessoal. Ou seja, além de tudo o que faz, Hora do Massacre ainda reserva espaço para um tratamento xenófobo que mais atrapalha o debate social do que ajuda.
Um grande momento
O primeiro confronto, entre os irmãos e o casal