- Gênero: Drama
- Direção: Dina Duma
- Roteiro: Dina Duma, Martin Ivanov
- Elenco: Antonija Belazelkoska, Mia Giraud, Marija Jancevska, Hanis Bagashov, Emil Isaevski, Verica Nedeska, Nora Kus-Ivanova, Ognen Drangovski
- Duração: 90 minutos
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Melhores amigas tornadas rivais, as adolescentes Maya (Antonija Belazelkoska) e Jana (Mia Giraud) são o eixo central e a definição de Irmandade, filme que estuda a transformação, em especial da primeira, menina mais introspectiva, a partir de um episódio traumático e como os seus desdobramento e consequências vão alterar seu trajeto enquanto tenta lidar com o comportamento manipulador da segunda.
Estreia em longas da jovem cineasta Dina Duma, o filme da Macedônia do Norte foi a entrada do país para concorrer a uma vaga no Oscar e esteve entre os filmes selecionados na Mostra de SP. Irmandade inicia convencionalmente e de forma linear, apresentando as duas em seus lares, respectivos universos e no mundo comum. Elas frequentam a mesma escola e integram a equipe de natação, disputando marcas nas piscinas e também os olhares dos garotos fora delas. O obstáculo é Elena, garota de fora do círculo de amizade que é popular e inclusive tem muitos seguidores nas redes. Jana quer puxar o tapete enquanto Maya se incomoda com a necessidade de prejudicar a outra.
Emulando como referências no enredo os dramas e manipulações de exemplares norte-americanos como Garotas Malvadas e Um Crime Entre Amigas, até o mais soturno Heathers – aqui no Brasil, Atração Mortal -, cult que levou até as ultimas consequências a trama de popularidade e crimes na escola, Irmandade é, ainda que ingênuo, eficaz na construção da tensão, ainda que ela se dissipe muito antes do desfecho da história. Logo se constitui como um drama envolto em vingança, chantagens e rompimentos de laços. Os conflitos se exacerbam na sala de aula, nas ruas, na chuva e na piscina – algo visto recentemente em uma obra do cinema brasileiro, Raia 4, que traz símbolos interessantes e o confronto entre duas nadadoras, ainda que peque por um ritmo arrastado.
Se Irmandade cresce e se configura em sua terça parte como um suspense, tecnicamente os signos não funcionam a contento para potencializar essa virada de chave. A fotografia, por vezes escura demais, não ajuda na sequência que ocorre durante o primeiro ponto de virada, a gramática cinematográfica não serve ao intuito de acentuar a diegese e provocar o mergulho necessário na narrativa, os enquadramentos e a montagem não são inventivos e nem estão escalonando a tensão que deveria se avolumar num crescendo até a resolução do conflito.
Até por agregar um universo similar à boa parte dos filmes adolescentes escolares produzidos em Hollywood, Duma tem dificuldades em se desvincular e tentar uma alternativa a situações clichê ou fugas relativas a estereótipos, como a da melhor amiga obcecada por ser amada que acaba demonstrando tendências sociopatas. Nem explorar as nuances da personalidade, aprofundar o arco da personagem de Maya e demonstrar por meio da construção narrativa de onde vem a dependência enorme que ela tem de Jana desde a infância, a dificuldade até em falar sem a intervenção da amiga, nada é considerado no sentido de dar mais densidade à trama e, por consequência, emprestar maior carga dramática à história. Entre atos, Irmandade é um filme previsível e enfadonho que anda em círculos e nesse sentido a opção por não extenuar a tragédia provocando um acerto de contas entre Maya e Jana é risível.
Um grande momento
Maya encontra o cachorro de Elena.