- Gênero: Ação
- Direção: S. Craig Zahler
- Roteiro: S. Craig Zahler
- Elenco: Mel Gibson, Vince Vaughn, Tory Kittles, Michael Jai White, Thomas Kretschmann, Jennifer Carpenter, Laurie Holden, Don Johnson, Udo Kier
- Duração: 158 minutos
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A todo momento, a modernidade aparece em cena para dizer aos personagens de Justiça Brutal como o hoje é uma fonte inesgotável de barreiras para o mundo que se recusa à evolução, escolhendo repetidamente a violência como resolução de problemas. Vide o aparelho celular como é utilizado na narrativa, sempre a alocar uma ação aparentemente positiva em resultado negativo; ao menor sinal de seu toque, o roteiro deslocará seus personagens em uma direção contrária à pretendida, piorando o quadro atual mesmo quando ele já não parecer positivo. Essa é uma das maneiras que S. Craig Zahler escolheu para atacar a sociedade atual, e essa provavelmente é uma das que se apresentam mais assertivas.
O cineasta que anteriormente já tinha explorado os lados mais perversos da natureza humana em petardos como Rastros de Maldade e Confronto no Pavilhão 99, entrega aqui seu trabalho mais ambicioso sem abandonar suas origens, mas indo além das próprias pernas, provando que voos mais longos já são bem-vindos em sua carreira. Produção que o eleva a um patamar de sofisticação narrativa estabelecido, Zahler tem muita gente a agradecer esse momento, desde os cineastas que fundaram a Nova Hollywood até contemporâneos seus, como Michael Mann e James Gray, como referências de um cinema estética e narrativamente requintado, vigoroso em cada camada.
Sua forma de atacar a contemporaneidade, no entanto, o posiciona em terreno muito particular, dada a forma ousada e até ligeiramente iconoclasta com o qual desfila sua partitura. O filme ataca o politicamente correto de maneira frontal e ousa transformar esse movimento em moeda de azar à grande parte de seus personagens, que vivem situações dragadas por uma realidade social jovem, com monitoramento de ações policiais, bullying adolescente não-naturalizado, um racismo prestes a eclodir, entre outras demandas do agora que o filme, em sua moral nada delicada, coloca sobre a mesa para uma conversa informal.
Com sua estrutura em formato de quebra-cabeça, tão pouco inovadora quanto absolutamente eficiente em tudo que se propõe, Justiça Brutal cria um mosaico de seres adoentados seu entorno, com feridas muito aparentes e exploradas em diferentes nuances que tratam também desse microcosmos que renega a mesma contemporaneidade que os adoece. São constantes agressões físicas, doenças degenerativas, paraplegia, traumas pós-parto, surdez, sendo confrontados com uma modernidade que descaracteriza corpos negros e perpetua códigos de outrora que tornam a confrontar raças e etnias, mostrando que o tempo não tirou dos homens sua selvageria natural.
Saem das naturezas coloquiais de inter relações para invadir a fabulação presentes em videogames e programas de tv dessa mesma origem animalesca que esse grupo de pessoas sente impelida a regurgitar em suas ações anteriormente frugais. Policiais honestos, jovens tentando refazer suas vidas, uma jovem mãe em busca de momento de paz, são alguns dos tipos que invadem essa a estrutura elíptica criada por Zahler e que, gradativamente, despem as personas na qual geralmente são encarcerados em thrillers típicos para adquirir aqui uma profundidade e um cuidado que raramente é visto, se não na incursões pictóricas do já citado Mann sobre as metrópoles e seus habitantes.
Justiça Brutal é uma iguaria que permite algo incomum ao cinema industrial americano atual, que é radiografar o tempo real no qual os acontecimentos se resolvem, mesmo que pra isso uma camada incômoda se forme ao redor do atos. Com um trabalho de montagem exemplar a cargo de Greg D’Auria, parceiro habitual do diretor, o filme se desenha de maneira tão sutil frente aos seus acontecimentos, que a violência surge como um elemento inevitável mediante os rumos tomados, mas nunca de maneira espetaculosa – o que também adiciona uma faceta delicada ao outrora brucutu Zahler, sem desfocar seu autor.
Com um caldeirão onde ferve a um só tempo seres humanos em dívida de seus rearranjos morais, uma descrença absoluta no contemporâneo, e um relevo aguçado a respeito do homem na cidade hoje, revitalizando imagens que são debatidas pelo cinema desde Profissão: Ladrão – como ser útil a geografia quando a cidade se despedaça à sua frente? – Justiça Brutal amadurece o que talvez seja o jovem autor mais interessado em mover tipos e espaços físicos em choque, que reafirma uma tradição de capturar corpos em movimento pelo espaço urbano, aqui fundindo crime, castigo, redenção e a promessa de novas realidades sociais a todo tipo de marginais.
Um grande momento
O primeiro diálogo entre Ridgeman e Henry